As vendas de veículos elétricos têm registado um forte crescimento na última década, mas, de acordo com dados da CarVertical, devem sofrer uma queda de 2,5% em 2024.
Embora os veículos elétricos tenham um consumo muito inferior ao dos veículos a gasóleo ou a gasolina, a sua aquisição é bastante mais cara. No entanto, e apesar de muitas pessoas rejeitarem os veículos elétricos devido aos preços elevados, este não é o único fator que atrasa as vendas de veículos elétricos. Os especialistas da carVertical, uma empresa de dados do setor automóvel, apontam várias outras razões para a falta de popularidade dos veículos elétricos.
O preço continua a ser a principal razão apontada por quem recusa mudar para carros elétricos. A carVertical revelou que a percentagem média de veículos elétricos verificados na plataforma no primeiro semestre de 2024 em Portugal foi de apenas 3,8%. Em média, os carros elétricos são 40–50% mais caros do que os carros a combustível. Por isso, os incentivos governamentais continuam a ser um dos principais estímulos para a aquisição de veículos elétricos, sendo que a Alemanha ilustra este cenário perfeitamente.
Em dezembro de 2023, o Governo alemão pôs fim ao seu programa de financiamento de automóveis elétricos com o objetivo de evitar uma crise orçamental. No primeiro semestre de 2023, a quota de mercado dos veículos elétricos no mercado alemão de automóveis novos era de 15,8%, valor que caiu para 12,5% no primeiro semestre de 2024.
Pelo contrário, as vendas de veículos elétricos dispararam em Itália desde a renovação dos incentivos governamentais, implementada este ano. Em junho de 2023, foram contabilizados 6155 novos registos de VE, ao passo que junho de 2024 revela 13 285 novos registos de automóveis elétricos – um aumento colossal, de 116%. Embora outros fatores tenham contribuído para este progresso, os novos incentivos desempenharam claramente um papel importante.
Em geral, os veículos elétricos não são suficientemente práticos para o mundo atual. A título de comparação, é possível adquirir inúmeros automóveis familiares, a gasolina ou a gasóleo, com 15 anos, por cerca de 10 000 euros, que seriam perfeitos para deslocações urbanas, transporte de carga, e viagens em família. Por outro lado, carros elétricos com preços semelhantes poderiam, na melhor das hipóteses, ser veículos razoáveis para uso urbano.
Dificuldades ao vender VE
Os automóveis elétricos desvalorizam e perdem o prestígio de forma relativamente rápida. Muitos vendedores de automóveis usados afirmam que ninguém quer um veículo elétrico em segunda mão. Além de serem mais caros do que os seus equivalentes a gasóleo e a gasolina, têm o seu valor residual prejudicado pelas baterias usadas.
Matas Buzelis, especialista automóvel da carVertical, afirma que alguns proprietários de veículos elétricos estão mesmo a voltar aos veículos a gasóleo e a gasolina: “Os concessionários dizem-nos que já não estão dispostos a aceitar carros elétricos usados porque a perspetiva de os vender é muito baixa. Isto quebra a tradição, uma vez que, normalmente, as pessoas que querem comprar um carro novo ou mais recente, trocam o carro usado com o concessionário. Assim, não é de estranhar que algumas pessoas, que já tiveram veículos elétricos, voltem a comprar veículos com motor de combustão. Temem não conseguir vender o veículo elétrico ao fim de alguns anos e sofrer prejuízos financeiros.”
A maioria das pessoas substitui os seus automóveis de poucos em poucos anos e, por isso, evitam comprar automóveis que desvalorizem depressa. Além disso, é impossível saber com que rapidez a bateria se irá deteriorar, sendo que a bateria tem um forte impacto no valor do VE. Alguns veículos elétricos, como o Tesla e alguns modelos da Audi, são particularmente desejados, mas o facto de serem cobiçados não evita a sua depreciação.
Os automóveis elétricos mais caros e luxuosos estão entre os que mais desvalorizam no mercado. A tecnologia mais recente envelhece rapidamente, as baterias deterioram-se, e o mercado está constantemente a receber modelos mais sofisticados, o que prejudica o valor de modelos como o Audi e-Tron GT, o Tesla Model X, e o Tesla Model S. Esta situação leva ao aumento das taxas mensais de leasing, o que por sua vez afasta potenciais clientes.
Atualmente, as pessoas ainda se focam sobretudo nos benefícios dos automóveis elétricos, ignorando a questão dos inconvenientes. Um dos principais problemas dos carros elétricos é que as infraestruturas das cidades e vilas de hoje não estão adaptadas a eles e não o estarão num futuro próximo. Os veículos comuns podem ser reabastecidos em poucos minutos, com capacidade para centenas de quilómetros, ao passo que os veículos elétricos exigem espaços de carregamento que normalmente se encontram em zonas densamente povoadas, perto de lojas, escritórios, e outros destinos principais.
A tecnologia dos veículos elétricos está longe de ser perfeita, mas está em rápida evolução, o que torna os veículos elétricos usados mais baratos extremamente ineficientes. As pessoas procuram baterias mais potentes, carregadores mais rápidos, e outras inovações que tornem a compra do veículo elétrico mais sensata. Entretanto, já quase ninguém compra automóveis elétricos usados por causa dos preços elevados, da deterioração das baterias, da fraca autonomia, e da tecnologia ultrapassada.
Para já, um carro elétrico parece ser uma boa opção como segundo carro, para deslocações diárias na cidade – afinal, é barato de carregar, e é possível manter a bateria cheia para evitar preocupações com a autonomia em viagens curtas. No entanto, estes veículos não são opções práticas para viagens mais longas. Mais, é provável que o automóvel elétrico custe mais ao proprietário do que o seu veículo principal a combustível, que consegue fazer tudo, desde rebocar atrelados a transportar toda a família em longas viagens.