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“Investir em formação é investir no futuro da oficina”, Ricardo Sousa, Grupo JAP

30 Junho, 2025

Ricardo Sousa, Responsável Pedagógico do Centro de Formação JAP, sublinha que os principais desafios da formação no pós-venda automóvel passam por preparar os profissionais para a rápida.

Quais consideram ser os principais desafios da formação no pós-venda automóvel em Portugal atualmente? 

O setor automóvel evolui rapidamente nos temas da digitalização, da personalização da experiência do cliente e da transição energética.

Os desafios da formação estão intimamente relacionados à necessidade de preparar e desenvolver as pessoas ligadas ao pós-venda para esta constante mudança e antecipação das necessidades de futuro, de forma a manter a sustentabilidade e eficiência dos serviços após venda prestados pelas empresas que só é possível com alinhamento com os desafios tecnológicos, as exigências dos clientes e as normas legais.

Para além disso, a formação deve contribuir para a identificação e preparação de pessoas em funções emergentes e com grande potencial nos próximos anos, especialmente relevantes no contexto português associadas à gestão de experiência do pós-venda, à especialização em mobilidade elétrica, à análise de dados do pós-venda, à gestão de serviços digitais conectados e gestão de programas de fidelização.

O que é necessário fazer para que as oficinas e os técnicos invistam mais em formação? 

As oficinas devem sentir que a formação permite acompanhar a evolução tecnológica do mercado, aumentar a eficiência e produtividade, garantir a segurança e cumprimento de requisitos legais e ambientais, melhorar a relação com o cliente e envolver as suas equipas.

Por sua vez os técnicos devem sentir a formação como um investimento no seu crescimento pessoal e profissional, e não apenas como uma obrigação. Para isso, os gestores de formação são desafiados a criar programas formativos com impacto direto no trabalho, trabalhando situações reais e que resultem na melhoria do desempenho dos técnicos (quer seja aprendizagem, quer satisfação). Os programas devem ainda estimular uma aprendizagem ativa, com recurso a simulações e trabalho em casos reais.

O reconhecimento e celebração do progresso dos formandos bem como o envolvimento das equipas e líderes na construção dos programas são outros dos aspetos fundamentais.

De que forma a formação regular influencia o desempenho dos técnicos e o serviço prestado pela oficina? 

Investir em formação é investir no futuro da oficina. A formação apresenta benefícios tecnológicos, permitindo a atualização sobre sistemas eletrónicos e veículos elétricos; benefícios operacionais, como aumento da eficiência e produtividade e redução de erros; benefícios legais, garantindo o cumprimento de normas de segurança e ambientais; e benefícios humanos, quer pela melhoria da relação com o cliente, quer pela valorização e retenção de talento.

Podemos apontar algumas relações simples relacionadas com estes benefícios, se tivermos um técnico especializado para formação para intervenção em veículos elétricos o mesmo conseguirá resolver problemas complexos rapidamente. Os programas de certificação técnica atestam a qualidade o que por sua vez permite melhorar a reputação das oficinas. Se as várias pessoas da oficina que interagem com cliente tiverem formação em atendimento ao cliente de qualidade conseguiremos aumentar a satisfação e fidelização de clientes.

Que indicadores, exemplos ou testemunhos podem dar, que mostrem o impacto positivo da formação na rentabilidade das oficinas? 

Temos uma ligação direta entre o nível de formação e rentabilidade, pois ambas estão apoiadas sobre um tema comum, a produtividade.

Por norma, quanto mais capaz e formado for um técnico, maior será a eficiência e por ligação a produtividade.

Que competências técnicas e comportamentais, resultantes da formação, consideram mais importantes para as oficinas num futuro próximo? 

No que diz respeito às competências técnicas podemos enumerar os conhecimentos e capacidade de intervenção em veículos elétricos e híbridos, a capacidade de realizar diagnósticos eletrónicos avançados, a calibração e manutenção de sistemas de assistência ao condutor avançados (ADAS), conhecimentos de tecnologias de conectividade e domínio de softwares de gestão de oficina e gestão de indicadores de oficina.

Quanto às competências comportamentais destacamos o trabalho em equipa, é essencial a colaboração entre os diferentes elementos da oficina mecânicos, rececionistas, gestores de oficina; a capacidade de comunicação e orientação para o cliente, para prestar um serviço de excelência, a gestão do tempo e organização, é essencial garantir prazos e otimizar processos e a capacidade de tomada de decisão e resolução de problemas, para diagnósticos eficazes e decisões rápidas e fundamentadas.

Como se pode combater a escassez de técnicos qualificados nas oficinas? Que medidas poderiam e deveriam ser tomadas para combater essa escassez? 

O aumento do número de técnicos qualificados nas oficinas exige uma abordagem estratégica, criativa e centrada nas motivações reais das pessoas. Assim, é essencial reposicionarmos estas profissões, mostrando o valor social e a importância estratégica que têm para o mercado, mas também para a pessoa, nomeadamente pela possibilidade de progressão na carreira e oferta de uma proposta salarial global, em que para além da remuneração, são oferecidos benefícios, estabilidade contratual, horários equilibrados e reconhecimento interno.

Para além disso, é essencial garantir programas de formação iniciais que respondam às reais necessidades das empresas, com percursos bem definidos, formação prática relevante e certificações qualificantes. Hoje vivemos num mundo digital pelo que importa reforçar a comunicação nestes meios e direcioná-la aos públicos que podem responder às necessidades das oficinas. Para além da “atração” de novas pessoas para estas profissões importa igualmente envolver quem já está nestas funções para que estes sejam também embaixadores das funções.

A formação pode ser uma ferramenta importante na retenção de talento dentro das oficinas? De que forma? 

Com certeza, olhamos para este tema como um investimento não só na empresa como nos quadros. Um quadro que sente que estamos a apostar no mesmo através da formação, sente-se muito mais motivado e estabelece uma forte ligação com a empresa. Com isto, evitamos que o mesmo vá procurar fora de portas novas oportunidades.

Qual a formação que tem mais procura atualmente, quer na área técnica, quer não técnica (relacionada com o setor do pós-venda automóvel)?

Neste momento a nossa área, é uma área pouco atrativa para o mercado de trabalho. Não há muito tempo, muitos jovens queriam trabalhar com carros e procuravam ativamente formação na área da mecânica e/ou colisão. Neste momento existe uma baixa procura por estas área, mas sem dúvida que a parte da mecânica, mais concretamente o diagnostico é a mais atrativa para os jovens.

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