Nuno Carvalho, Diretor do Grup Eina Portugal, aborda os principais desafios da formação no pós-venda automóvel em Portugal, destacando a falta de tempo e mão-de-obra qualificada.

Quais consideram ser os principais desafios da formação no pós-venda automóvel em Portugal atualmente?

O principal desafio é o tempo. O facto de o técnico se ausentar do seu posto de trabalho com o volume de serviço que as oficinas tem atualmente, combinado com a crescente falta de mão-de-obra, faz com que esse se transforme no principal desafio com que lidamos atualmente. Este fator faz com que a oficina desvalorize a necessidade de formação, o que é um cocktail perigoso. Por um lado o aumento no volume de trabalho, por outro a falta de atualização de conhecimento nas novas tecnologias, combinado com a falta de mão-de-obra qualificada.

O que é necessário fazer para que as oficinas e os técnicos invistam mais em formação?

A necessidade deve ser percebida pela oficina e pelos próprios técnicos. A realidade é que em muitos casos o técnico percebe essa necessidade, mas não é economicamente rentável para a oficina prescindir do técnico durante x horas e todos os custos diretos e indiretos dessa mesma formação. Penso que apesar de toda a sensibilização que o setor faz para a necessidade de formação, o investimento será feito quando a oficina perceba a real necessidade de o fazer. O importante a reter é o quando, poderá ser tarde demais. Tenho refletido muito sobre este assunto e comparado a nossa realidade com outros países. Chego à conclusão que não podemos culpabilizar tanto a oficina. Devemos colocar mais pressão sobre o técnico, faze-lo entender que a formação o vai valorizar e potenciar a sua carreira, é errado deixar nas mãos da oficina, sobretudo na conjuntura atual do nosso setor.

De que forma a formação regular influencia o desempenho dos técnicos e o serviço prestado pela oficina?

Está provado que numa formação apenas retemos uma pequena parte da informação que o formador nos passa. Devemos manter uma formação continua e constante para que estejamos sempre atualizados e sobretudo para que a nossa mente não perca flexibilidade. Do ponto de vista do trabalhador, a formação continua é um importante fator de valorização e motivação. Para a oficina reduz erros operacionais, retrabalhos e aumento de produtividade. E para o cliente o serviço de qualidade resulta numa maior fidelização e recomendação.

Que indicadores, exemplos ou testemunhos podem dar, que mostrem o impacto positivo da formação na rentabilidade das oficinas?

Num mercado que naturalmente está em crescimento é difícil ter um indicador isolado que mostre o impacto da formação. Mas posso afirmar com certeza que uma boa formação e um bom serviço de apoio técnico são com certeza os melhores aliados que uma oficina pode ter atualmente.

Que competências técnicas e comportamentais, resultantes da formação, consideram mais importantes para as oficinas num futuro próximo? 

Técnicamente é urgente o dominio do diagnóstico e eletricidade básica. Pode parecer redutor, mas ainda é o mais importante. Por mais interessante que possa parecer o tema dos veículos elétricos ou outras novidades tecnológicas, a base continua a ser a metodologia de diagnóstico e o conhecimento em eletricidade básica.

Como se pode combater a escassez de técnicos qualificados nas oficinas? Que medidas poderiam e deveriam ser tomadas para combater esse escassez?

Deveriam ser tomadas várias medidas em conjunto por vários intervenientes. Da parte das autoridades e associações deveria haver mais investimento em campanhas de valorização da profissão. Não só pelos meios tradicionais, mas em todos os meios utilizados pelas gerações mais jovens. Da parte das oficinas deveria haver uma atualização das empresas, principalmente na parte organizacional, para além de uma melhoria de salários e oportunidades de progressão na carreira para todos os funcionários da empresa.

A formação pode ser uma ferramenta importante na retenção de talento dentro das oficinas? De que forma?

A formação é uma fator muito importante, pois proporciona desenvolvimento profissional e os técnicos vem uma oportunidade de crescimento e especialização, o que aumenta a satisfação no trabalho gerando maior comprometimento.

Qual a formação que tem mais procura atualmente, quer na área técnica, quer não técnica (relacionada com o setor do pós-venda automóvel)?

Nota-se uma tendencia para a procura de formação de alta tensão mais procura sobretudo em formações relacionadas com serviços alternativos, sobretudo tendencias que possam diferenciar os serviços prestados aos clientes. Em relação a formação não técnica, notamos que a procura por este tipo de formação está em baixa, sendo que a nossa aposta é sobretudo na liderança, qualidade e gestão do negócio.