As peças reutilizáveis e a economia circular no setor das peças estão, cada vez mais, na ordem do dia. Reunimos neste dossier um importante conjunto de informação sobre o tema e traçamos o cenário que se perspetiva para este setor.
TEXTO PAULO HOMEM
O termo peça usada está a cair em desuso. Agora devemos chamar-lhes peças reutilizáveis, pois são aquelas que de facto, independentemente do seu uso, entram no circuito comercial depois de terem passado uma parte das suas vidas num determinado automóvel que, por razões diversas, concluiu o seu percurso de vida. De fora deste negócio estão todas as peças de desgaste rápido (filtros, pastilhas, etc.), mas outro tipo de peças têm vindo a ganhar cada vez mais expressão, como é o caso das peças elétricas e eletrónicos.
Um caso típico de sucesso nas peças reutilizáveis é o material de colisão, que é de facto (em muitos casos) mais competitivo que qualquer peça vendida nova. Com as peças reutilizáveis veio a tão famosa economia circular agora tão em voga no pós-venda, que mais não é, no caso das peças, do que dar continuidade ao seu ciclo de vida depois de um determinado veículo ter chegado ao fim.
Muitos fatores têm contribuído para que este negócio das peças reutilizáveis seja cada vez mais estruturado. Depois de transposta para a legislação nacional em 2003 a diretiva europeia sobre o tratamento dos veículos em fim de vida (VFV), começaram a aparecer, cada vez em maior número, operadores a vender peças reutilizáveis de forma organizada e credível.
O “boom” das vendas online, já mais recente, possibilitou que muitos operadores começassem a estruturar melhor o seu negócio de peças reutilizáveis para o poderem apresentar no online. É certo que o online não trouxe só o “trigo” para este setor, pois o “joio” também apareceu e dificultou a credibilização do negócio de peças reutilizáveis, embora hoje seja muito evidente perceber quem está de forma séria e menos séria neste setor.
Um dos mais recentes exemplos que despertou muita gente para este negócio das peças reutilizáveis e da economia circular, tem a ver com a compra da B-Parts (plataforma de peças reutilizáveis portuguesa) por parte do Grupo PSA, um dos gigantes mundiais da indústria automóvel. Por certo que outros grupos automóveis irão entrar nesta lógica das peças reutilizáveis, mesmo sucedendo com operadores de peças novas, pois se a procura está a crescer nesse tipo de peças é porque existirá negócio para fazer e ainda por cima beneficia-se o ambiente. Outro factor que revela bem a importância que este tipo de peças tem atualmente no setor é o das plataformas de peças e de orçamentação. Algumas das mais conhecidas a nível nacional e europeu já incluem na sua oferta as peças reutilizáveis, paralelamente às peças originais e de aftermarket.
Aliás, isso acontece também por força do setor segurador, que tenta fazer que muitos dos orçamentos de reparação (na área da colisão) sejam feitos com peças reutilizáveis. A verdade é que a percentagem de peças reutilizáveis no setor da colisão tem vindo a crescer de forma rápida e consistente, como uma alternativa considerada como válida por muitos player´s deste setor. Sabemos que o preço é um dos fatores que tem atraído muitos profissionais para as peças reutilizáveis, mas não é o único. Muitas vezes, o recurso às empresas que vendem este tipo de peças é a única forma de se obter determinada peça, que na origem é muito cara ou já não existe.
Verdade seja dita que o setor das peças reutilizáveis têm-se vindo a reorganizar e estruturar, existindo excelentes exemplos em Portugal que o comprovam. É precisamente isso que lhe quisemos trazer com este trabalho e dar-lhe a conhecer melhor como o próprio setor olha para este negócio das peças reutilizáveis e da economia circular.
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Artigo publicado na Revista Pós-Venda n.º 64 de janeiro de 2021. Consulte aqui a edição.