Figura incontornável do aftermarket internacional, por via da enorme dinamização comercial da Liqui Moly, Ernst Prost anunciou que irá abandonar as suas funções na empresa a 22 de fevereiro de 2022.
Sob a sua gerência, de 31 anos, a Liqui Moly passou de um pequeno fornecedor de aditivos para automóveis a especialista ativo no setor dos lubrificantes e produtos químicos para veículos. Na sua carta aos colegas (que poderá ler na integra de seguida), o diretor geral anuncia a sua despedida.
Estimados colegas,
Fazer parte da LIQUI MOLY é uma coisa muito especial, e é essa a minha realidade há 31 anos. Devido às minhas funções, como elemento de chefia, tenho ainda a oportunidade de partilhar, atribuir, distribuir, e participar, mas, às vezes, também tenho de me solidarizar.
Criar estabilidade e continuidade, principalmente para os nossos postos de trabalho, foi e é a minha mais importante tarefa. Uma tarefa hercúlea, principalmente em tempos imprevisíveis com grandes incertezas, menor planeabilidade e um enorme nível de perigo. Apesar de tudo, conseguimos subordinar a segurança dos nossos postos de trabalho. Conseguimos enfrentar todas as crises, sem trabalho a tempo reduzido ou medidas similares.
Desde sempre que contrapomos desentendimentos e conflitos com o compromisso e a vontade de chegar a um acordo. O que também não é simples em tempos em que o nível de exaltação anda constantemente pelos limites superiores.
Pior ainda do que a indignação permanente são a insegurança e o medo. As duas coisas paralisam de forma brutal, tanto indivíduos isolados como economias nacionais inteiras. Para contrariar esta situação, apostámos no pragmatismo, na coragem, na confiança, no otimismo e, também, no nosso humor. E, naturalmente, no trabalho árduo. Todos os dias, 24/7. O que é melhor do que lamuriar, resmungar e arranjar desculpas.
Fazer parte do todo não significa estar sozinho. É essa a ideia subjacente à minha filosofia Liqui Moly family worldwide. Numa família sã, os elementos cuidam uns dos outros, a ajuda é mútua e, em conjunto, conseguem grandes feitos. Para o benefício, bem-estar e alegria de todos os envolvidos. Esta é a mensagem mais importante que parte da nossa empresa.
Bem mais importante do que as tradicionais histórias de sucesso, que produzimos em série. São a nossa capacidade e vontade que nos distinguem. Às vezes, também se junta a sorte dos proficientes… Nessas alturas fazemos história no setor e na economia.
Porque temos sucesso? Porque é que os clientes em todo o mundo gostam de nós, nos acham simpáticos e compram os nossos produtos? É claro, os nossos conceitos e estratégias adequam-se com precisão às necessidades e desejos dos nossos parceiros de negócio e consumidores.
Mas quais são os outros motivos? Decência, justiça, respeito, tolerância, reconhecimento, cuidado, confiança, amor. É este o cerne da nossa forma especial de trabalhar. São estes os nossos valores e princípios. Praticamo-los há décadas, e estes não trazem apenas sucesso, mas também prosperidade, amizade e paz –para nós e para os nossos clientes.
Mas 31 anos é muito tempo, principalmente, quando se dá tudo… Tempo, intelecto, empenho incondicional. A paixão e a agonia estão muito interligadas… Acabar custa. Especialmente quando se ama o que se faz, mas é o que vou fazer. Vou sair do negócio e encetar um novo capítulo da minha vida, com sorte igualmente emocionante. Vou deixar-me surpreender pelo que a vida me reserva. Escolhi a data de 22.2.2022 como o meu último dia de trabalho. É fácil de memorizar.
Naturalmente, até lá, iremos continuar a dar o litro em conjunto. Não nos faltam coisas para fazer! Afinal quero aproveitar e desfrutar os meses remanescentes convosco. Depois de tantas décadas (no total são quase 50 anos de trabalho) sinto o desejo indomável de fazer algo de novo e diferente –apesar de todo o amor pelas pessoas com as quais tive a oportunidade de trabalhar ao longo deste tempo, e que tanto me deram.
Parece que estou a abandonar o meu grande amor, e sei bem que irei sentir brutalmente a sua falta, mas tenho de o fazer…
Questionei-me muitas vezes, se estava apenas apaixonado ou obcecado pelo trabalho nesta empresa… Aquela paixão que nos causa sofrimento… É inevitável, quando se trabalha de forma tão eufórica e frenética como nós. E nem sempre se tem controlo sobre as emoções –antes pelo contrário. Tal como acontece com um vício… Quero (finalmente) voltar a ser dono da minha vida. Ser empresário não é compatível com autodeterminação e liberdade. Existem demasiados condicionalismos e demasiadas pessoas, empresas, entidades e instituições que puxam por nós e nos instigam. E quando as coisas começam a causar-nos mais nervos do que excitação, chegou a altura de partir. De certeza que ainda existem algumas coisas para descobrir e viver atrás da montanha ou a seguir à próxima curva… E é assim que quero iniciar esta derradeira fase da vida, de forma simples com um novo capítulo.
Oportunamente, por ocasião do meu 65.º aniversário, depois determos concluído e divulgado o balanço de 2021.Não tenho memória de quando vivi, pela última vez, a vida de forma descontraída e despreocupada, sem grandes responsabilidades e com uma grande leveza. Não foi o trabalho, com as suas tarefas e problemas normais, que me consumiu, mas sim as preocupações, os medos e também as desilusões, os sofrimentos e, às vezes, até a ira e a raiva. É assim quando se é uma pessoa tão emocional como eu, e quando o sentido de cumprimento do dever está acima de tudo. Tenho pavor à falta de fiabilidade, desmazelo, mandriice e arrogância. Estupidez, falta de consideração, intolerância, incluindo ódio e perseguição… Há muitas coisas que me fazem trepar paredes. Antes Love Storm do que Shit Storm! Ou, como se proclamava quando era um jovem: “Make love not war.” Mais fácil de dizer do que fazer em qualquer altura, neste mundo e nos negócios.
Às vezes penso que é um pequeno milagre ter conseguido chegar tão longe relativamente ileso… Isto também está definitivamente relacionado com vocês, que me deram muita força e estabilidade, em parte sob forma de grande amizade. Muito obrigado!!!
Uma característica deste mundo é a fugacidade. Ninguém pode manter o que tem ou permanecer o que é. Já conhecem esta frase. Nós pessoas, temos dificuldades em aceitar isto. Tudo é finito, nada é permanente. Os nossos dias neste mundo estão contados. Continuo a considerar a vida uma dádiva, pela qual estou muito grato e, por isso, antes que termine, ainda a quero desembrulhar de forma plena.
O meu afeto por todos vocês e os meus sentimentos pela minha obra de vida, o meu bebé, a Liqui Moly/Meguin certamente nunca irão acabar. Mas os sentimentos pessoais e a direção diária de uma empresa são coisas totalmente distintas. Ao longo de três décadas de estreitíssima ligação à empresa, a todas as pessoas amorosas e aos nossos clientes em todo o mundo, foram criadas amizades profundas. Amigos e os filhos dos meus amigos, assim como familiares, trabalham connosco ou fazem parte dos nossos clientes. Todos, em conjunto, construímos muito bem a empresa. Com robustez e capacidade de adaptação, enfrentaremos também os desafios do futuro.
Isso já dependerá pouco de mim, mas sim da equipa espetacular, altamente motivada, leal, zelosa e inteligente. Sejam empresários. Coempresários. Empreendam coisas! Eliminem problemas e contribuam com toda a vossa força para fazerem progredir a empresa. Sem teatro e alarido desnecessário, mas de forma orientada para os objetivos e os resultados.
Não se deixem vencer pelo monstro da burocracia, nem anestesiar por cartadas enfadonhas e pautadas pela falta de imaginação. Não percam tempo com futilidades e ninharias, em vez disso pensem em grande, e não desistam até resolverem os problemas. De forma rápida e meticulosa. Não cumpram apenas horário, mas deem aquele passo extra. De forma inspirada, não desinteressada. Com dedicação e não mandriice. Com responsabilidade em vez da atitude “quero lá saber”. Não são as pessoas picuinhas e tacanhas que fazem o sucesso, são as pessoas que veem o grande plano, que arregaçam as mangas quando é preciso e que perseguem intransigentemente os objetivos. Combinem o vosso sentido de responsabilidade com a diversão nas vossas tarefas. Assim até conseguem retirar força e alegria de viver do vosso trabalho.
Em conjunto convosco, o meu amigo Günter Hiermaier continuará a dirigir com sucesso a empresa, por um lado de forma continuada mas, por outro lado, também com uma nova dinâmica e, com sorte, com muitas inovações. De forma inteligente e humana, com todas assuas competências e a sua enorme experiência.
A nossa mãe, o Grupo Würth e a própria família Würth, continuam confiantemente e com entusiasmo por trás de nós, à nossa frente e ao nosso lado. Ou seja, está tudo perfeitamente controlado para uma transição harmoniosa orientada para o futuro. Mas, até lá, ainda vamos quebrar alguns recordes e produzir alguns produtos estrondosos. Vamos a isso! Força! Continuação de bom trabalho!
Os meus cordiais cumprimentos
Ernst Prost