Carlos Jorge Gonçalves, da Filourém, revela de que forma a empresa reagiu aos efeitos da pandemia no mercado do pós-venda e quais os projetos futuros da Filourém.

Quais são os fatores / indicadores a ter em atenção na recuperação futura do negócio do aftermarket, na perspetiva do grossista de peças?

Este período é, sem margem para dúvidas, um desafio pelo qual nunca tínhamos passado; pelos menos, não desta dimensão. Afetou e continua a afetar fortemente a saúde pública, não só em Portugal mas em todo o mundo e interferiu na vertente social, cultural, da educação e da economia global. No entanto, a FILOURÉM tem encarado esta fase com um misto de responsabilidade e de otimismo. Naturalmente com várias condicionantes e medidas de segurança, mas sem uma atitude de comiseração ou derrotista. Na recuperação do negócio, exige-se uma gestão cada vez mais criteriosa e apertada. Devemos estar alerta e cumprir a cadeia de responsabilidades (fornecedor – grossista – retalhista – consumidor final); devem ser otimizados os recursos, nomeadamente os humanos, de forma a trabalharmos mais e melhor mas com grande equilíbrio financeiro e também modernizar e agilizar todos os processos que puderem ser realizados informaticamente. Naturalmente que não podemos descurar o stock porque nos momentos de retoma, devemos estar preparados para todas as solicitações.

Que medidas foram e estão a ser tomadas para se potenciarem as vendas neste momento?

As limitações impostas na circulação de bens e de pessoas, bem como o constrangimento em visitar clientes e realizar reuniões, levou a que realizássemos um fortíssimo trabalho de “backoffice”: analisar produtos, otimizar tabelas, atualizar softwares de gestão e o nosso site, negociar com fornecedores, organizar o stock e ajustar alguns preços. É um período difícil mas que por outro lado nos obrigou a ter tempo e estudar vários dossiers, que de outra forma, dificilmente o faríamos.

A digitalização do negócio, através de plataformas B2B (e não só) assume agora uma importância maior na relação com o vosso cliente?

Assume no presente, devido aos constrangimentos atuais. Já assumia no passado porque sempre foi uma preocupação nossa; continuará a assumir, porque poucos terão dúvidas que a digitalização do negócio e de vários procedimentos, é o futuro. Reportando ao momento atual, obrigou e acelerou alguns mecanismos junto de clientes, fornecedores e sociedade no geral.

Qual a sua opinião sobre o futuro do negócio de peças em Portugal, tendo em conta os efeitos da pandemia? Consideram que se vai assistir nos próximos meses a uma enorme guerra de preços no mercado português?

O termo “guerra” acaba por ser forte mas entendemos o sentido. Não iríamos por aí… Naturalmente que a conjuntura económica mudou e vai continuar a mudar; os efeitos poderão sentir-se por alguns anos mas achamos que o negócio das peças não estava tão mal organizado que agora possamos colocar tudo em causa. No pior dos cenários algumas empresas poderão fechar portas mas fundamentalmente vamos ter que analisar se os nossos fornecedores nos alteram o preço da importação. Caso não existam mudanças significativas nesse sentido, penso que não haverá necessidade de grandes alterações mas sim de ajustes pontuais.

Em que ano poderemos atingir os níveis de faturação idênticos aos que o setor demonstrou em 2019? 

Falamos em nome da nossa empresa, e após um início de 2020 muito interessante, nomeadamente o primeiro trimestre, obviamente que se começaram a sentir os efeitos. Consoante a evolução da pandemia e da respetiva reação da economia, num cenário muito positivo, se encetássemos a retoma nos meses de julho/ agosto poderíamos aproximar-nos, até ao final do ano, dos valores do ano passado. Naturalmente que se assistirmos a retrocessos, poderemos só repetir o 2019 em 2021 e só daqui a 2 anos haver hipótese de subidas no volume de faturação. Mas são tudo projeções.

Artigo publicado na Revista Pós-Venda n.º 58 de julho de 2020. Consulte aqui a edição.