André Vieira, da Centrocor, partilha a sua visão sobre as necessidades formativas do setor, as vantagens da formação contínua, o impacto na rentabilidade das oficinas e estratégias para atrair e reter talento.
Quais consideram ser os principais desafios da formação no pós-venda automóvel em Portugal atualmente?
Um dos principais desafios da formação é não ser reconhecida de forma transversal no setor, como fulcral na vida de um profissional, sendo muitas vezes vista como um custo e não como um investimento. A fraca capacidade de atração de jovens para o setor é também uma forte condicionante. É necessário reformular e rever os programas de formação atualmente disponíveis, para que se adequem aos dias de hoje e permitam uma integração mais fácil e ajustada às gerações que se avizinham.
O que é necessário fazer para que as oficinas e os técnicos invistam mais em formação?
É necessário mostrar às oficinas e aos seus técnicos as vantagens da formação contínua e evidenciar como, através dela, o dia a dia nas oficinas pode tornar-se mais rentável, eficiente e menos complicado. Desmistificar a formação deve ser uma prioridade. Esta deve ser apresentada como muito mais do que teoria – uma oportunidade de evolução técnica e prática. Será necessário despertar o setor para que a formação frequente passe a ser regra, e não exceção.
De que forma a formação regular influencia o desempenho dos técnicos e o serviço prestado pela oficina?
Tal como noutras áreas, há sempre espaço para melhorar e ser mais eficiente. A formação permite acompanhar os avanços tecnológicos, tornando o trabalho mais simples, eficiente e produtivo. Técnicos atualizados terão um desempenho superior. O crescente foco do setor em veículos tecnologicamente complexos exige essa preparação. Quem se adapta e investe em formação sairá beneficiado.
Que indicadores, exemplos ou testemunhos mostram o impacto positivo da formação na rentabilidade das oficinas?
Um exemplo claro é a técnica de reparação de mossas com cola, desenvolvida com a Camauto. Já realizámos diversas formações com membros da sua equipa, também eles chapeiros, que reconhecem esta técnica como uma mudança de paradigma: eficiente, limpa, sustentável e rápida. As colas Camauto otimizam processos, aumentam a produtividade e reduzem o tempo de reparação, o que leva à satisfação do cliente e à menor disrupção na sua rotina. É uma técnica aplicável a veículos a combustão, híbridos ou elétricos.
Que competências técnicas e comportamentais, resultantes da formação, consideram mais importantes para as oficinas num futuro próximo?
A vontade de aprender e distinguir-se pela implementação de novas técnicas será essencial. Técnicos com essa mentalidade terão mais trabalho e fluxo de negócios por conseguirem adaptar-se às novas realidades. Ver a aprendizagem como uma mais-valia e não como desvalorização da experiência será fundamental.
Como se pode combater a escassez de técnicos qualificados nas oficinas? Que medidas poderiam e deveriam ser tomadas?
A escassez de mão de obra deve-se, em parte, à perceção negativa que os jovens têm do setor. É necessário valorizar o pós-venda, promovê-lo nas escolas e demonstrar que está em constante inovação. As oficinas devem oferecer boas condições de trabalho, estar tecnologicamente atualizadas e valorizar a eficiência e competências dos seus profissionais. Só assim conseguirão atrair nova geração de técnicos.
A formação pode ser uma ferramenta importante na retenção de talento dentro das oficinas? De que forma?
Sim. Oficinas que incentivam o desenvolvimento dos seus trabalhadores conseguem naturalmente reter talento. As novas gerações procuram inovação e propósito. Se se sentirem estagnadas, desvalorizadas ou sem oportunidade de aprender, procurarão sair. É vital que as oficinas invistam em formação, promovam um ambiente de trabalho positivo e valorizem as suas equipas.
Qual a formação que tem mais procura atualmente, quer na área técnica, quer não técnica (relacionada com o setor do pós-venda automóvel)?
Há elevado interesse em áreas como o polimento, devido ao aumento de oficinas focadas em detalhe automóvel. Também há procura por técnicas de reparação de mossas adaptadas a veículos elétricos e híbridos. Além disso, os grandes grupos procuram formações que aliem eficiência e sustentabilidade, para responder ao elevado volume de reparações e reduzir a pegada ecológica.