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“A formação regular permite que os profissionais desenvolvam competências técnicas mais sólidas”, António Caldeira, CEPRA

25 Junho, 2025

António Caldeira, diretor do CEPRA, destaca as exigências atuais, o papel da inovação e o impacto da qualificação na sustentabilidade do setor. 

Quais considera serem os principais desafios da formação no pós-venda automóvel em Portugal atualmente? 

Um dos principais desafios que o setor tem é, sem dúvida, a constante evolução tecnológica e a cada vez maior presença dos veículos com propulsão elétrica, conjugado com a acessibilidade aos dados técnicos das viaturas.

No caso da formação, é exigível uma oferta formativa dinâmica e especializada, de forma a garantir o apoio necessário à atualização contínua de competências, recorrendo a formas inovadoras, nomeadamente com recurso à inteligência artificial, sendo que, no CEPRA, dispomos desde há alguns anos de um núcleo especializado na inovação e gestão do conhecimento, que revê permanentemente a oferta formativa, precisamente para dar resposta às exigências do mercado e acompanhar os avanços tecnológicos.

Neste mesmo âmbito e também por outras questões, nomeadamente as que estão relacionadas com a valorização das profissões, não restam dúvidas de que a falta de mão de obra qualificada constitui um dos principais desafios que a formação enfrenta. O setor nem sempre é visto como atrativo pelos jovens, o que dificulta a renovação geracional e a captação de talento.

No CEPRA encaramos estes desafios como oportunidades para inovar, reforçar a nossa ligação às empresas e criar percursos formativos mais eficientes e ajustados às exigências do futuro.

O que é necessário fazer para que as oficinas e os técnicos invistam mais em formação? 

No CEPRA, temos uma visão muito clara de que a formação necessita de ser encarada como a base para a sustentabilidade e inovação de uma empresa do setor. Só com profissionais atualizados e bem preparados é possível responder às exigências de um mercado em constante transformação.

As organizações que ainda não investem, de forma significativa, na formação devem encará-la como um investimento no seu próprio futuro.

Neste enquadramento, o esforço deve ser partilhado. As empresas precisam de reconhecer a formação como uma vantagem competitiva, enquanto as entidades formadoras devem garantir uma oferta flexível, orientada para resultados concretos e com forte ligação à realidade do setor.

Do ponto de vista estratégico, a aposta em parcerias, o desenvolvimento de novas metodologias de formação, e a criação de incentivos específicos são caminhos que podem reforçar o investimento das empresas em formação.

No entanto, considero como bastante positivo o posicionamento das empresas do setor face à formação profissional, não apenas por existir uma nova geração de gestores, mas, sobretudo, porque é algo que é entendido como essencial para poderem continuar “saudavelmente” no mercado.

 

De que forma a formação regular influencia o desempenho dos técnicos e o serviço prestado pela oficina? 

Como referi anteriormente, um dos principais desafios do setor passa pela constante evolução tecnológica. Por isso, é essencial que os técnicos estejam atualizados e preparados para lidar com as exigências dos veículos mais modernos e complexos.

A formação regular permite que os profissionais desenvolvam competências técnicas mais sólidas, o que se reflete numa intervenção mais rápida, precisa e eficaz. Isto reduz significativamente o tempo de paragem, minimiza erros e contribui para um menor custo operacional, aumentando a produtividade da oficina.

A formação também reforça a motivação, o sentido de responsabilidade e a confiança dos profissionais, o que melhora o ambiente de trabalho e a relação com os clientes.

No fundo, investir na formação é garantir que a oficina presta um serviço mais qualificado, competitivo e adaptado às necessidades do consumidor final.

Já no que se refere à parte da receção e acompanhamento dos clientes, o momento atual de ocupação plena das oficinas, não deve levar a uma abordagem menos profissional, porque é algo que está na base da fidelização dos clientes e que, num outro contexto, será sempre recordada a forma como decorreu a experiência de contacto com a oficina.

Que indicadores, exemplos ou testemunhos podem dar, que mostrem o impacto positivo da formação na rentabilidade das oficinas? 

O CEPRA tem celebrado, nos últimos anos, dezenas de protocolos de colaboração com empresas do setor automóvel, permitindo que os nossos formandos realizem estágios e que as empresas beneficiem de profissionais com competências atualizadas. Esta cooperação tem tido um retorno para as empresas, com melhorias na produtividade, qualidade dos serviços prestados e maior retenção de talento.

Um exemplo ilustrativo, com potencial de impacto a médio e longo prazo, é a recente abertura da nova Delegação do CEPRA, em Faro. Em janeiro de 2025, iniciou-se uma turma de Reparação de Carroçarias, no âmbito da Medida Vida Ativa, destinada a desempregados. Após a formação teórica e prática nas nossas instalações, estes formandos estão agora a realizar estágios em várias empresas da região do Algarve, com boas perspetivas de integração nos quadros. Este tipo de formação não só contribui para suprir as necessidades de mão de obra qualificada, como também favorece a rentabilidade das oficinas ao reduzir custos de recrutamento e tempos de adaptação dos novos colaboradores.

A melhor demonstração do impacto da formação que desenvolvemos é o facto de, para além da formação para qualificação inicial de profissionais, termos largos milhares de profissionais e empresas que continuam a frequentar as nossas ações de formação ao longo dos anos, o que demonstra o agrado e a aplicabilidade da formação que desenvolvemos.

Que competências técnicas e comportamentais, resultantes da formação, consideram mais importantes para as oficinas num futuro próximo? 

Do ponto de vista técnico, será cada vez mais importante dominar as tecnologias associadas aos veículos híbridos e elétricos, saber realizar diagnósticos com precisão, compreender o funcionamento dos sistemas avançados de assistência à condução (ADAS) e utilizar eficazmente ferramentas digitais, incluindo software de gestão oficinal.

No entanto, a técnica, por si só, já não é suficiente. As oficinas valorizam cada vez mais profissionais com capacidade de adaptação, sentido de responsabilidade, espírito crítico e autonomia. Para além disso, a comunicação clara com clientes e equipas, a capacidade para resolver problemas de forma eficiente são aspetos comportamentais fundamentais.

Como se pode combater a escassez de técnicos qualificados nas oficinas? Que medidas poderiam e deveriam ser tomadas para combater essa escassez? 

No CEPRA formamos os profissionais do futuro, através da formação inicial, destinada a quem quer aprender a profissão de raiz, atribuindo uma certificação, que poderá ser dupla: profissional e escolar.

Mas, a parte mais difícil é conseguir atrair os futuros profissionais. Nesse âmbito, uma constatação é possível de fazer: terão de ser as empresas, a colaborar ativamente no processo desde o seu início, associando contrapartidas às que o CEPRA já atribui (bolsas de formação, pagamento de transportes, acolhimento de menores, outros).

Esta abordagem já está institucionalizada no programa PRO_MOV, em que o CEPRA participa como entidade formadora, no qual as empresas aderentes atribuem uma bolsa suplementar aos estagiários que acolhem, mostrando, desta forma, que investem no futuro profissional desses futuros trabalhadores.

Para além disso, o CEPRA evoluiu para efetuar parcerias com empresas que estão presentes desde a elaboração de programas curriculares desenhados à medida das suas necessidades, à constituição do grupo de formandos, com divulgação das futuras condições de admissão, até ao desenvolvimento da formação em contexto de trabalho.

Ou seja, a melhor abordagem será o envolvimento efetivo das empresas, em alternativa a apenas sinalizarem as dificuldades que enfrentam, pelo que, será totalmente relevante que possam contactar o CEPRA para esse efeito, sabendo-se que é algo que faz parte intrínseca da nossa intervenção e que não tem qualquer custo.

A formação pode ser uma ferramenta importante na retenção de talento dentro das oficinas? De que forma? 

Eu diria não só das oficinas, mas na generalidade das empresas, seja qual for a área de atuação, a formação contínua desempenha um papel essencial na retenção de talento.

Investir na formação é um caminho win-win: a empresa ganha porque capacita os seus profissionais com novas competências, aumentando a eficiência e a qualidade dos serviços. Por sua vez, os colaboradores beneficiam porque se tornam mais qualificados, valorizados e motivados, o que contribui para o seu bem-estar e vontade de permanecer na organização.

Qual a formação que tem mais procura atualmente, quer na área técnica, quer não técnica (relacionada com o setor do pós-venda automóvel)?

Por motivos óbvios, as ações de formação com maior procura são ao nível dos veículos híbridos e elétricos. Neste âmbito, o CEPRA é pioneiro e quase operador exclusivo numa oferta de formação baseada na norma alemã DGUV 209 | 093, tendo realizado muitas dezenas de ações de formação, por todo o país, o que se traduz em centenas de profissionais habilitados e certificados para intervirem, com a máxima eficácia e segurança, em sistemas de alta tensão.

Mas continuamos a ser procurados para as restantes formações técnicas, incluindo a formação de inspetores para Centros de ITV, e peritos, cuja empregabilidade é praticamente de 100%.

Quer para esta formação, quer para outra de cariz menos técnico, o CEPRA está a caminhar no sentido de aumentar a oferta de formação à distância, com a criação de um estúdio dedicado, para além de disponibilizar vídeos específicos e de carater transversal que possam auxiliar a autoaprendizagem, como forma indireta de apoiar os profissionais e empresas do setor.

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