As maiores dificuldades surgem nas condições extremas e o Inverno pode trazer alguns desafios. Saiba como contornar os efeitos da meteorologia.
{ TEXTO FERNANDO SOARES – PRODUCT LEADER AXALTA COATING SYSTEMS PORTUGAL }
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Em qualquer atividade são as condições extremas que colocam mais dificuldades à respetiva execução com sucesso. Também a repintura automóvel não é imune às condições onde é exercida. O Inverno é caracterizado por elevada humidade no ar e temperaturas baixas. A repintura automóvel não é uma atividade padronizada e, por isso, é afetada pelas condições em que se preparam e aplicam os produtos.
Bastantes vezes, o incorreto acondicionamento dos materiais tem consequências menos positivas no resultado final da pintura. A temperatura de armazenamento dos mate riais de pintura deve ser entre 15 e 25ºC, sendo que a ideal é 20ºC. A viscosidade de aplicação é um parâmetro essencial para o bom desempenho dos produtos, característica esta que depende da temperatura. A utilização de materiais a uma temperatura diferente da recomendada pode originar defeitos de pintura, como “casca de laranja“ ou “escorridos“. Se a temperatura do material for inferior ao recomendado, tendo como consequência uma viscosidade mais elevada, o alastramento da tinta pode ser inferior ao desejado, enquanto que se a temperatura for mais elevada, a viscosidade diminui podendo ocorrer os denominados escorridos.
A viscosidade dos materiais de pintura aumenta com a diminuição da temperatura. É de realçar que a baixas temperaturas as variações de viscosidade são mais acentuadas que a mais elevadas.
Portugal é descrito como tendo um clima ameno. É verdade comparativamente a outros países, mas durante o Inverno português existem arrefecimentos noturnos acentuados. Frequentemente, os materiais no início da manhã têm temperaturas inferiores a 10ºC. A aplicação de um esmalte à temperatura de 10ºC é bastante diferente da aplicação a 20ºC. Também a seleção de endurecedores e diluentes tem de ter em conta a temperatura de aplicação; um endurecedor rápido não evita que a secagem seja mais lenta que o normal se a temperatura do material e do ambiente é, por exemplo, 10ºC.
Outra possível consequência dos acentuados arrefecimentos noturnos é o aparecimento de bolhas de humidade (“blistering“). Os veículos devem estar à temperatura de 20ºC durante a aplicação e secagem, evitando possíveis condensações de água (“blistering“).
A existência de humidade contínua como a chuva é a maior causa de “blistering“. Isto deve ser considerado em conjunto com os resíduos de sais da lixagem a água, transpiração das mãos, de ciente remoção de focos de corrosão ou resíduos de humidade no sis tema de pintura.
Se a humidade, a atuar no objeto desde o exterior, não evaporar em devido tempo, existe o risco de penetrar no sistema de pintura. Se a humidade entrar em contacto com resíduos internos, principalmente de sais, a pressão osmótica aumenta. De acordo com as leis da natureza, a água com sais tende a criar um equilíbrio com a humidade isenta de sais do exterior. Isto atrai ainda mais água, formam-se as bolhas e a tinta destaca-se do substrato. Estas bolhas podem formar-se entre o substrato e o primário, dentro da película do aparelho ou na interface entre as demãos de tinta. A qualquer velocidade, as bolhas aparecem se a água for atraída em determinados pontos produzindo, então, uma pressão que é suficiente para causar a deformação das camadas de tinta.
De forma a prevenir a ocorrência de “blistering“, as condições e o fluxo de trabalho devem ser verificadas. Devem ser observados os seguintes pontos:
• O substrato a pintar deve estar limpo, desengordurado e seco.
• Os tempos de evaporação de solventes e secagem devem ser respeitados.
• Os resíduos de lixagem, particularmente resíduos de sais devem ser evitados e removidos.
• Evitar e remover completamente do substrato a pintar contaminações provenientes da transpiração das mãos (a utilização de luvas é recomendada).
• É imperativo desengordurar o substrato antes de aplicar o acabamento.
• O ar comprimido utilizado para pulverizar a tinta deve estar seco (o filtro separador de água e óleo deve ser purgado regularmente).
TEMPERATURA DO VEÍCULO
A temperatura do veículo a repintar também deve ser monitorizada. Se é permitido que este arrefeça, pode formar-se uma pequena película de condensação. A película de condensado não é sempre visível mas pode ser a causa de posteriores perdas de aderência e outros defeitos. A melhor prática é colocar o veículo dentro da oficina aquecida algumas horas antes da pintura para harmonização da temperatura do veículo com a da oficina. Após o processo de secagem na estufa, o veículo deve arrefecer na área oficinal antes de ser exposto a condições invernosas.
Em Portugal existem poucos locais onde é habitual nevar e, por conseguinte, a utilização de sal nas estradas é pouco frequente. Mas já é mais comum a deslocação em turismo para algumas estâncias de Inverno onde se utiliza este método para limpar as estradas. Antes de entrar nas oficinas, os veículos a repintar devem ser objeto de lavagem profunda. No caso da repintura com base bicamada aquosa é também fundamental a utilização de um desengordurante aquoso para melhor dissolução de quaisquer resíduos de sal.
Desde 2007 que a repintura automóvel está sujeita, dentro do espaço europeu da Comunidade Económica, a legislação restritiva na utilização de componentes orgânicos voláteis (COV), muitas vezes designados mais simplesmente por solventes. Uma das consequências desta legislação foi a utilização de tecnologia de produtos aquosos na designada base bicamada.
A aplicação e a secagem da base bicamada aquosa é muito dependente das condições de humidade ambiente. A base bicamada aquosa demasiado molhada pode conduzir a desvios de cor, um aspeto mais escuro, manchas em cores metalizadas ou com efeito metálico mais grosso, mais dificuldades de secagem com consequências ao nível do brilho do verniz aplicado posteriormente.
A repintura automóvel no Inverno não deve ser uma dificuldade. Apenas é necessário conhecimento, planeamento e preparação
As especificações da pistola de aplicação e a respetiva pressão de pulverização devem ser sempre cumpridas escrupulosamente. Mais ainda se estivermos na presença de condições extremas; um bico da pistola de aplicação maior ou uma pressão demasiado baixa conduzem a aplicações demasiado molhadas. Tal como se mede e verifica a temperatura de aplicação, a humidade relativa do ar da cabina de aplicação também deve ser monitorizada através de um higrómetro. Com estes dados pode consultar os documentos existentes e ajustar o produto para que a aplicação seja o mais fiável e robusta possível.
A repintura automóvel no Inverno não deve ser uma dificuldade. Apenas é necessário um pouco de conhecimento, planeamento e preparação para que os processos decorram com suavidade e sem sobressaltos.
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