Antes de começar a ler este artigo, aconselho fortemente o caro leitor a utilizar o desinfetante e a colocar a máscara de proteção. Não por si, que acredito que se encontre num ambiente seguro no momento desta leitura, mas pela saúde do artigo, pois o mesmo encontra-se cheio de positividade e esperança num futuro melhor a médio prazo e não o queremos contaminar, verdade?
*Artigo de Opinião de toda a equipa da RPA (Rui Paulo & Almeida, Lda)
Todos sabemos que vivemos um momento de tragédia. A mesma começa na perda de milhares de vidas e acaba numa economia mundial despedaçada. Este artigo de opinião vai focar-se sobre a atualidade do nosso setor, o aftermarket automóvel em Portugal, bem como as possíveis oportunidades que podem surgir durante este tempo, no mínimo, complicado.
O público-alvo do mesmo serão os empreendedores do setor, pois acredito que o papel dos líderes e a sua tomada de decisão é crucial para o sucesso das organizações, projetos e ideias. Em tempos de crise, esta importância é redobrada. Este é o momento em que se pede aos nossos empreendedores que assumam as suas posições e que enfrentem os duros desafios que têm pela frente com coragem! Muitos deles, infelizmente, terão a necessidade de recorrer à banca. É importante perceber que recorrer à mesma deverá ser mais do que para pagar dívidas, numa perspetiva de investir no futuro próximo alavancando assim o seu negócio, ou afundaremos o pouco que resta da nossa economia. Por outro lado, se aproveitarmos o duro momento que atravessamos para fazermos uma análise interna de como podemos reestruturar o nosso modelo de negócio, talvez consigamos tirar o melhor partido de uma situação realmente complicada.
Este artigo é uma tentativa de o ajudar a reinventar o seu modelo de negócio empresarial, através de um exercício prático. O objetivo do mesmo é guiá-lo pelas respostas que só você tem.
É crucial começar por aceitar o facto de que a economia mundial muda em grande velocidade, tendo impacto direto em todas as empresas, como nunca antes teve. Estamos inseridos num mercado que facilmente oscila com os acontecimentos externos, pelo que precisamos de munir o nosso modelo de negócio para tal realidade. Se o nosso modelo de negócio só está pronto para quando o mercado está financeiramente favorável, então, precisamos de aceitar que todas as décadas vamos ter momentos muito duros pela frente e que poderemos não sobreviver a um deles. Por outro lado, se tivermos uma filosofia conservadora, que não maximiza os nossos recursos empresariais, o nosso negócio não será otimizado na maior parte da sua existência. Precisamos garantir que o nosso modelo de negócio é ágil o suficiente às oscilações económicas do País, da União Europeia e do Mundo.
A única maneira em que acredito que isto seja possível é através do capital humano da empresa, garantindo a polivalência dos colaboradores! Utilizando uma oficina como exemplo prático e supondo que a mesma tem 4 operativos, que no seu dia-a-dia têm produtividade média de 5h das 8h laborais, após o surto da pandemia covid-19, o fluxo de trabalho da oficina desceu para metade, deixando 2 colaboradores sem qualquer produtividade. Enquanto responsável, é meu dever tirar proveito destes dois colaboradores ao máximo. As perguntas que tenho de fazer a mim próprio são: que competências estes colaboradores têm ou podem adquirir, de forma a melhorar o atual modelo de negócio? Que áreas precisam de ser intervencionadas, de modo a serem otimizadas? Algum destes colaboradores pode tornar-se uma mais-valia no serviço pós-venda? Será que podem adquirir alguma competência que possa solucionar uma necessidade do meu cliente, que ainda não tem solução? Que vantagem competitiva terei eu sobre os meus concorrentes, se investir tempo em formação dos colaboradores?
Acredito que este súbito abrandamento de trabalho pode fazer com que muitas empresas se reinventem, com estratégias que lhes serão proveitosas a curto e a longo prazo.
Continuando no exemplo acima referido, vamos tentar analisar o que está a afastar o consumidor final das oficinas. Este é um momento em que a maioria da população não tem a necessidade de utilizar o seu veículo para se deslocar. É, portanto, a altura ideal para executarmos as manutenções preventivas nos veículos dos nossos clientes. Então, o que afasta o cliente da oficina? Não querer sair de casa, por temer a sua segurança. Certo! E a longo prazo? Como será que esta mudança comportamental, afetará a maneira do cliente pensar? Valorizará mais o seu tempo em família? Dará mais valor ao seu tempo e começará a fazer mais compras online? Que modelo de negócio posso eu criar hoje, para que também seja proveitoso a longo prazo? E se averiguássemos os custos de criar um serviço onde fossemos buscar o veículo do cliente?
Fica a faltar resolver a questão da segurança. Para tal, podemos criar um serviço de lavagem do veículo com higienização no ato de entrega. O pagamento de toda a intervenção poderá ser feito por MB WAY ou transferência bancária, evitando assim o contacto presencial. Assim sendo, temos mais dois serviços que podem ser vendidos e temos dois funcionários sem produtividade. Que tal começar a contactar a nossa base de dados, questionando o estado de saúde dos nossos clientes, potenciando assim a relação com o mesmo e, aproveitando para lhes dar a conhecer o nosso novo serviço? Desta forma, o cliente saberá que quando voltarmos à normalidade, a sua mobilidade não estará em causa, graças ao nosso serviço.
Perdoe-me a audácia, mas gostava de pedir que se acompanhe de uma folha de papel e da sua caneta favorita, e que tenha a paciência de voltarmos ao básico. Peço ao leitor que pense em qual foi o motivo que o levou a abrir a sua empresa, ou seja, que lacuna identificou no mercado e qual foi a solução que encontrou que poderia preencher. Esta, como sabe, é a Missão da sua empresa. Peço que seja a primeira linha que vai escrever na folha que tem consigo.
Quando volta a pensar no momento em que abriu atividade, lembra-se qual era o seu “cliente tipo”?
Melhor do que ninguém, sabe as adaptações que a sua empresa já passou ao longo dos anos, para ir sempre ao encontro das necessidades dos clientes, pois elas variam de forma natural com a evolução de tecnologias e mudanças de mentalidades geracionais. Esta última década, com a evolução tecnológica e a oferta de pacotes de mobilidade, era notável uma rutura na maneira de como o consumidor final olhava para a sua mobilidade. Neste momento, a dúvida será se após este surto, o mesmo valorizará de uma maneira diferente a sua mobilidade. E, como o mais difícil é precisamente adivinhar o futuro, proponho que utilizemos a estratégia inversa, ou seja, pensar no que sabemos que não vai mudar, adotando assim a estratégia do fundador da Amazon, Jeff Bezos. No seu entender, o que o seu cliente vai continuar a valorizar? Que necessidades vai ele continuar a ter? Destas necessidades, quais são as que a sua empresa já apresenta soluções? Quais não tem, mas pode criar? Aos poucos, com estas perguntas estamos a começar a construir a sua Visão, para os próximos 5 anos. É preciso criarmos planos operacionais (curto prazo), táticos (médio prazo) e estratégicos (longo prazo) para a implementação destas ideias que está a ter, transformando as ideias em objetivos. Após saber para onde quer ir e de o ter escrito, é importante realizar uma análise interna. Assim, peço que escreva quais são os recursos que a sua empresa dispõe neste momento, sendo eles recursos humanos, recursos financeiros e recursos materiais. Analise se os mesmos são os necessários para atingir a sua Visão e, se não forem, quais necessitava para a atingir. Garanta que tem consigo os indicadores de performance de produtividade / rentabilidade, financeiros e de satisfação de cliente quando estiver a construir o seu planeamento e a sua visão. Caso não os tenha, é um excelente momento para os criar, pois, apenas através de indicadores, conseguimos perceber se a estratégia que montámos está a ser bem-sucedida para que o resultado final seja o desejável, ou seja, cumprir o planeamento e atingir os nossos objetivos. Peço que considere que vivemos numa era em que a tecnologia impera e, infelizmente, muitos modelos de
negócio ainda não se adaptaram a esta realidade. Será que este momento não seria tão duro se já tivesse a faturação através do mundo online? Que passos já deu para digitalizar o seu dia-a-dia e quais pode dar?
A RPA pretende estar próxima dos seus parceiros neste momento turbulento. Estamos assim a construir uma apresentação para alertar as oportunidades e as ameaças que este momento nos apresenta. Esperamos que este artigo tenha sido um contributo igualmente favorável ao restante setor. Que continuemos todos no mesmo, em segurança e com saúde, quando o momento que atravessamos passar.
Votos de Sucesso e Saúde de toda a equipa.