As plataformas da Pós-Venda celebram uma década de atividade e, para assinalar este marco, reuniram contributos de vários profissionais do aftermarket. Entre eles está António Caldeira, do CEPRA, que oferece a sua visão sobre a evolução do setor e os desafios que continuam a moldar o pós-venda automóvel.
O que está a suceder no setor da formação oficinal atualmente, era o que previa há 10 anos que estivesse a acontecer agora?
Descontando o facto de nesse período ter ocorrido uma pandemia a nível global, pode dizer-se que antevimos a relevância que as questões da eletrónica, conectividade, digitalização e mobilidade elétrica iriam ter ao nível das competências dos gestores e trabalhadores das empresas do setor. Foi assim que o CEPRA, consciente desta inevitabilidade, desde 2015 começou a realizar cursos dedicados a veículos híbridos e elétricos, uma iniciativa muito inovadora à época.
O que mudou na formação oficinal nos últimos 10 anos?
Apesar de se continuar a assistir ao aumento da idade média do parque automóvel, há uma maior perceção sobre a importância da formação contínua, uma vez que as necessidades de conhecimento técnico são cada vez maiores e rapidamente evoluem. Outra mudança foi a adesão à formação à distância, em formato síncrono e assíncrono, uma tendência acelerada pela pandemia Covid-19.
Qual é o ponto da situação atual da formação oficinal em Portugal?
A formação, tal como o setor, está num período de grande dinamismo. As oficinas estão mais modernas ao nível digital e dos equipamentos, com necessidades formativas mais diversificadas, sendo a tendência para a adesão a redes oficinais, com as vantagens e inconvenientes que daí advêm ao nível da formação. Mas, mercê da qualidade da formação que o CEPRA desenvolve, e apesar do aparecimento de novos operadores, continuamos a ter uma notoriedade e nível de intervenção acima do que é historicamente habitual.
O que mais poderá ter impacto na formação oficinal durante os próximos 10 anos?
Neste prazo temporal, aumentará a dificuldade das organizações de formação em integrar formadores nos seus quadros, uma vez que serão profissionais cada vez com maiores competências, com níveis de saber teórico próximos do ensino superior e um robusto saber prático, o que induzirá a sua escassez no mercado. Um outro aspeto que já hoje condiciona a formação oficinal é o acesso aos dados técnicos e as dificuldades inerentes ao facto de os veículos automóveis serem um “computador com rodas”, com múltiplos sistemas integrados, software e conectividade, sensores, inteligência artificial e capacidade computacional.
Como acha que a formação oficinal estará daqui a 10 anos?
Com a eletrificação dos veículos, a maior ou menor ritmo, a digitalização dos processos e o avanço da IA, as oficinas terão de investir em formação cada vez mais especializada. Para isso, o CEPRA e os outros operadores de formação profissional também têm de apostar em metodologias de aprendizagem mais interativas e fáceis de chegar aos formandos, nomeadamente com recurso a plataformas online e apoio personalizado. Ainda assim, e apesar de cada vez ser mais evidente qual o sentido da evolução, no prazo de uma década haverá uma mudança significativa, mas não prevejo uma rutura tão grande como a que acabará por acontecer num prazo mais alargado de tempo, fruto do abrandamento da implantação das viaturas eletrificadas e do aumento da idade média do parque circulante.










