A elevada dependência de importações de automóveis em Portugal aumenta o risco de os condutores serem expostos a fraudes, concluiu um estudo da empresa de dados automóveis carVertical.
O relatório aponta que mais de 60% dos veículos verificados em Portugal foram importados, o que cria lacunas nos registos históricos e dificulta a identificação de quilometragens manipuladas e danos ocultos.
A análise dos relatórios históricos de veículos adquiridos por utilizadores da carVertical entre setembro de 2024 e agosto de 2025 revelou que 3,8% dos veículos verificados apresentavam quilometragem reduzida. Entre os automóveis importados, 3,6% tinham o conta-quilómetros adulterado, enquanto nos carros usados apenas em Portugal essa percentagem foi de 4,1%. O estudo sublinha que, embora a probabilidade de encontrar um conta-quilómetros adulterado seja maior em veículos usados localmente, os importados também representam um risco significativo.
A carVertical refere que a ausência de troca internacional de registos, incluindo quilometragem e histórico de acidentes, faz com que o histórico de um veículo passe a ser, por vezes, “zero” quando é exportado, situação que facilita fraudes e esconde informações relevantes sobre o estado real do automóvel. Matas Buzelis, especialista em automóveis da carVertical alerta para as diferenças legais entre países quanto à manipulação dos conta-quilómetros e para a consequência prática dessa fragmentação de dados: “o risco de comprar um carro com quilometragem adulterada é sempre várias vezes mais elevado ao escolher um modelo importado”.
Complementando os dados dos relatórios, um inquérito efetuado pela carVertical junto de utilizadores da plataforma entre outubro e novembro de 2025, com cerca de 10 000 participantes em 35 países, revela que 46,3% dos compradores de automóveis não confiam nos vendedores de carros usados, 75% temem problemas ocultos e 35% afirmam ter sido enganados no passado. A maioria dos inquiridos defende o acesso a dados históricos do veículo e a partilha de informação não confidencial para reduzir a fraude.
O estudo descreve variações regionais nas importações, indicando que a Letónia, Lituânia, Sérvia e Ucrânia apresentam percentagens particularmente elevadas de veículos importados, mas realça que em Portugal 61,5% dos carros verificados foram trazidos do estrangeiro e 38,5% foram conduzidos apenas localmente. A carVertical argumenta que quanto maior for a proporção de veículos importados num país, maior é a probabilidade de compradores se depararem com problemas ocultos.
A empresa opera com dados provenientes de mais de 900 bases de dados globais e processa milhões de relatórios históricos de veículos anualmente, o que lhe permite identificar tendências sobre o mercado de carros usados. A metodologia do estudo combina a análise dos relatórios obtidos entre setembro de 2024 e agosto de 2025 com o inquérito aplicado no carregamento dos relatórios da plataforma entre outubro e novembro de 2025, sendo a amostra constituída por utilizadores ativamente interessados em carros usados.
O relatório conclui que uma maior transparência e partilha de dados não confidenciais sobre os veículos reduziria a fraude e traria clareza ao mercado europeu de usados, mitigando riscos tanto para compradores como para vendedores honestos.









