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 “E… aconteceu mesmo!”, Dário Afonso, ACM

22 Agosto, 2022

Alguns como eu, andamos a apregoar faz algum tempo que os gigantes americanos da distribuição de peças, chegariam à península ibérica e chegaram. No mesmo alinhamento, e para ceticismo de alguns, apregoei que os fundos de investimento também chegariam à distribuição de peças e chegaram. E, tudo isto, no espaço de um mês.

A norte-americana GPC, através da sua “filial” europeia, Alliance Automotive Group, comprou a distribuidora de peças espanhola Lausan, que detém a portuguesa Soulima. Para termos uma ideia da dimensão da GPC (Genuine Parts Company), em 2021, faturou $18.9MM (qualquer coisa como €18.1MM). Os players do nosso mercado mais atentos a estas movimentações, acreditavam que a LKQ chegaria primeiro à península ibérica, no entanto, a GPC conseguiu pela calada, fazer a sua jogada de antecipação. Tendo em conta a estratégia de soluções que este grupo tem junto das oficinas, espera-se que a Lausan e a Soulima, venham a desenvolver um trabalho ainda mais intenso junto deste canal.

No que diz respeito à entrada dos fundos de investimento no negócio da distribuição de peças, também tivemos a nossa estreia em Portugal. O Fundo Crest Capital Partner adquiriu a Auto Delta. A Crest tem como estratégia a aquisição de empresas portuguesas com resultados (EBITDA) superiores a 2M€. Se este fundo quiser comprar mais empresas do ramo da distribuição de peças, se mantiver o critério de EBITDA superior a 2M€, não tem muitas opções… É por isso fácil identificar os potenciais alvos.

Para muitos, pode parecer estranho que esta “turma das finanças”, venha agora investir o seu dinheiro na distribuição de peças. Mas não é. E a razão é simples. O negócio da distribuição de peças é considerado um investimento refúgio. Ou seja, quando as economias e as bolsas caem, o negócio da distribuição de peças ou cai pouco ou consegue mesmo manter-se. Quando as economias crescem e as bolsas sobem, o negócio da distribuição de peças também sobe. Numa perspetiva estritamente financeira, no negócio das peças não se ganha muito (comparativamente a outras indústrias e outros negócios), mas o risco do investimento é muito baixo.

Algo que não nos podemos esquecer nunca é que os fundos de investimento servem para rentabilizar ao máximo o dinheiro dos seus investidores. Isto é dizer que, até podem perceber pouco (ou nada) do negócio da distribuição de peças, mas terão um foco muito grande no retorno rápido, do seu investimento nestas empresas. Que normalmente, um dia mais tarde, venderão a uma outra entidade com a sua mais-valia.

Com aquilo que aconteceu, neste último mês, e com tudo o que fervilha em surdina à volta do aftermarket, iremos ter nos próximos meses muitas novidades. Mas, mais importante que estas notícias bombásticas, é o que tudo isto impacta no mercado e nas empresas do nosso setor.

Estamos a viver momentos de mudança profunda no nosso setor e, algumas empresas, continuam teimosamente a fazer mais do mesmo…. Será que vai correr bem?! Temo que não…

Artigo de Opinião Dário Afonso, publicação na edição 81 da revista Pós-Venda.

 

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