A sustentabilidade é um tema que nenhuma grande empresa do aftermarket quer descurar. É muito mais que uma moda, como se compreende por esta entrevista a Filipa Pereira, Coordenadora de Marketing da Ferdinand Bilstein Portugal.
De que forma é entendido o conceito de “sustentabilidade” no bilstein group?
A sustentabilidade é, de acordo com a ONU, “suprir as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades”. Para nós, enquanto empresa, a sustentabilidade é a utilização dos recursos estritamente necessários à nossa operação sem recorrer a mais do que o que é preciso e sem comprometer aquilo que são as nossas necessidades diárias. É imprescindível existir um esforço coletivo para planear formas de nos tornarmos mais sustentáveis, significando isto uma poupança global de recursos, sempre que possível. A sustentabilidade não está apenas relacionada com o facto de nos tornarmos mais amigos do ambiente, mas sim com a utilização inteligente de recursos de forma a recorrer apenas ao que é necessário, evitando o desperdício. Naturalmente que tudo isto vai significar um impacto tremendo no meio ambiente. Desta forma, o bilstein group entende a sustentabilidade como a forma de nos tornarmos o mais conscientes possível das nossas necessidades e otimizar, sempre que possível, todos os recursos que estão à nossa disposição.
Em que níveis da organização (produção, produtos, matéria-prima, logística, investigação, etc.) estão a trabalhar o conceito de “sustentabilidade”?
Trabalhamos diariamente o conceito de sustentabilidade em todos os níveis da organização. Sempre que nos apercebemos que existe margem de melhoria e otimização de recursos, atuamos, mas sem nunca comprometermos aquilo que são as nossas necessidades para o desenvolvimento do nosso negócio. Para nós, a sustentabilidade é muito mais do que reduzir a pegada de carbono de um produto. À medida que trabalhamos para nos tornarmos uma empresa mais sustentável, tentamos abranger todos os domínios deste tema. Do nosso ponto de vista, a sustentabilidade é composta por três componentes principais: Economia – envolve a produção de produtos de elevada qualidade e duração que têm em consideração a proteção ambiental e a mobilidade acessível; Ecologia – foco em processos e estruturas que conservam recursos tanto quanto possível; Aspetos Sociais – concentram-se em salários e condições de trabalho adequados ao longo de toda a cadeia de distribuição.
De que modo é que a “peça” se pode tornar mais sustentável?
O percurso da “peça” começa muito antes da mesma chegar aos diversos veículos. Começa na escolha das matérias-primas que lhe vão dar forma, seguindo-se do modo como será fabricada, transitando para os inúmeros testes de qualidade a que será submetida e ainda a forma como será embalada e transportada entre os diversos níveis da cadeia de distribuição. Em qualquer fase deste percurso é possível torná-la mais sustentável e isso passa essencialmente por decisões. Será cada uma destas decisões que vai dar lugar a escolhas mais amigas do ambiente e que, a serem tomadas de forma global, poderão realmente impacta não só o nosso negócio, como tantos outros.
Quando é que a vossa empresa planeia ser neutra para o clima (sustentável) em termos da linha de produtos?
Estamos a prosseguir para nos tornarmos cada vez mais sustentáveis, não excluindo nenhuma hipótese de conseguirmos dar mais um passo nesse sentido. Contudo, é algo extremamente desafiante e um projeto ongoing onde constantemente temos de investir tempo e recursos. Por esse motivo, neste momento não temos todas as condições reunidas que nos permitam evidenciar quando é que conseguiremos ser 100% neutros. Ainda assim, podemos garantir que trabalhamos todos os dias para atingir esta meta.
Em que áreas se estão a fazer os maiores avanços em termos de sustentabilidade?
Pela nossa perceção os maiores avanços atualmente prendem-se essencialmente com dois eixos de atuação: as energias renováveis e a abolição do plástico. Ambas as áreas têm sido alvo de diversas medidas que se tornam cada vez mais evidentes e naturalmente acabam por contribuir, e muito, para a sustentabilidade. Sobretudo no caso do plástico a legislação em vigor e que assenta sobretudo na utilização de plástico de utilização únicas (sacos) fez com que o cidadão comum ajustasse as suas decisões e as suas próprias rotinas para evitar o contínuo aumento da utilização de plástico. Quanto às energias renováveis, habitamos num país que tem imensas potencialidades neste campo e tanto empresas como cidadão comuns podem e devem explorar as opções disponíveis, que farão certamente diferença no nosso planeta a longo prazo.
Em que medida é importante o conceito de sustentabilidade no aftermarket na relação com outros player´s do setor e com o mercado em geral?
A médio prazo a sustentabilidade será, sem dúvida, uma vantagem competitiva para qualquer empresa, seja ela ou não do aftermarket. Muitas vezes o termo sustentabilidade soa-nos a utopia e a um conceito distante, mas a verdade é que este é um tema que está na ordem do dia e vai tornar-se cada vez mais visível e relevante. Da mesma forma que hoje decidimos tendo em conta o preço ou a taxa de serviço, um dia a sustentabilidade e, mais concretamente, as práticas das organizações neste âmbito, serão também um fator de decisão. No futuro, as empresas mais sustentáveis serão premiadas e enaltecidas e isso acabará por se refletir no posicionamento de cada uma delas. Por acréscimo, em termos concorrenciais, será também um fator a ter em conta pois será mais um elemento a ditar a diferenciação entre os vários players.
Que impacto terá a sustentabilidade no aftermarket?
Na continuidade da pergunta anterior, acreditamos que a sustentabilidade vai impactar o aftermarket, da mesma forma que o vai fazer noutros setores. Em relação aos preços é muito difícil conseguir prever quando se trata de uma tendência que será global, ou seja, as empresas vão inclinar-se para melhores práticas de sustentabilidade, logo não saberemos se haverá um impacto global ao nível dos produtos. Importa refletir que, muitas vezes, a sustentabilidade representa uma despesa inicial elevada para ganhos profundos no futuro e, portanto, esta despesa pode vir a ser refletida nos preços dos produtos.
Artigo publicado na REVISTA PÓS-VENDA 90, de março de 2023. Consulte aqui a edição.