Para terminar estas 12 edições sobre GESTÃO OFICINAL, nada melhor do que falar de um tema que diz respeito a todos nós: o ambiente.

Trata-se de um tema de primordial importância hoje para qualquer oficina de automóveis, que algumas ainda não querem dar a atenção que este assunto merece, muitas vezes por desleixo, outras vezes por desconhecimento e ainda porque tratar de assuntos ambientais está longe de ser o alvo estratégico de uma oficina.

Porém, pensamos que qualquer oficina está ciente de que ao não cumprir certas obrigações do ponto de vista ambiental, incorre em multas e coimas diversas, algumas delas bem avultadas e que podem colocar em causa a continuidade do negócio.

Tratar dos resíduos convenientemente não deve ser olhado como só um mal necessário (e obrigatório) pelas oficinas, mas muitos empresários poderão olhar para isto como uma oportunidade, até porque alguns resíduos são rentáveis, mas sobretudo também como uma aposta da oficina na modernidade.

Atualmente muitos clientes valorizam as empresas que têm práticas ambientais e de sustentabilidade, pelo que qualquer oficina que seja exemplar nestes capítulos poderá comunicar isso para os seus clientes, como uma vantagem face às restantes.

Uma questão muito importante que se tem vindo a debater no setor das peças de automóveis, a todos os níveis, é a sustentabilidade das operações, quer na produção ou na logística, quer na aplicação ou no reaproveitamento. Aqui a oficina desempenha um papel muito importante, pois a sua atividade implica diretamente em áreas como a logística, como no reaproveitamento das peças, sem esquecer naturalmente a parte de aplicação das peças. Todas estas vertentes têm impacto em áreas como a sustentabilidade (ambiental e económica) das oficinas.

Para ter uma noção da importância deste tema, empresas como as gestoras de frotas, começam também a avaliar a sua rede de prestadores de serviços através da prática de soluções ambientais e de sustentabilidade e, como tal, poderá perder uma boa fatia de clientes que na realidade ainda não olha convenientemente para esse tipo de assuntos.

1 RECICLAGEM DE RESÍDUOS AUTO
Este é um tema muito importante em qualquer oficina moderna. Quanto maior a atividade, mais resíduos vai gerar, tornando por isso a gestão desses resíduos complexa. Não é fácil para o dono de uma pequena, média ou grande oficina gerir os resíduos e, por isso, atualmente existem uma série de entidades com propostas de gestão de resíduos 360º, mas essas empresas não resolvem todos os problemas, embora possam dar uma ajuda muito importante. A verdade é que seguindo as sugestões dessas empresas ou uma boa gestão de resíduos, a oficina tem que sempre criar um fluxo de reencaminhamento de resíduos interno. As boas práticas começam dentro da oficina e se uma oficina for muito desorganizada na gestão dos resíduos internamente, vai continuar a ter muitas dificuldades em cumprir com as metas ambientais. E isso pode querer dizer custos avultados em coimas e multas!!!

2 FOCO NA GESTÃO DE RESÍDUOS
Não sendo o negócio principal de qualquer oficina, a política de gestão de resíduos deve ser algo que envolva toda a equipa. Ao estabelecer-se procedimentos internos perfeitamente datados, estruturados e rotinados, permite criar um fluxo de resíduos interno na oficina, que rapidamente se traduz numa oficina mais limpa. Todos os funcionários devem estar envolvidos nessa rotina de modo a que os resultados sejam consistentes e visíveis. Explicar repetidamente os benefícios das boas práticas ambientais a todos os funcionários é uma forma de se obter bons resultados ao nível da gestão internas dos resíduos. Uma política de gestão de resíduos poderá ser feita assim que um determinado serviço é terminado, deixando dessa forma o local limpo para o próximo serviço, sendo também uma boa forma de criar uma rotina no reencaminhamento interno dos resíduos.

3 LOCAL ESPECÍFICO PARA RESÍDUOS
É normal encontrar nas oficinas diversos espaços onde se encontram resíduos da atividade. A localização dos resíduos deve estar num espaço definido para o efeito em que todos os recipientes devem estar identificados por tipologia de resíduos. Tal prática beneficia também os operadores externos que fazem a recolha dos resíduos regularmente. Dessa forma ganha tempo a oficina e os prestadores de serviços externos, através da simplificação das operações de recolha de resíduos. Não sendo fácil de o concretizar, o local dos resíduos não tem que ser necessariamente um local sujo, o ideal é que o mesmo tenha muita luz e as paredes, por exemplo, pintadas de branco.

4 COMUNICAR “SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL”
Ao efetuar uma gestão de resíduos profissional na sua oficina, utilize essa prática para a comunicar com o seu cliente final. Obviamente que a ideia não é mostrar-lhe o local onde estão os resíduos, mas sim informar o cliente de que a oficina cumpre com todos os preceitos legais em matéria de gestão de resíduos e, como tal, é uma oficina “sustentável”. Esta boa prática ambiental é cada vez mais um benefício para as próprias oficinas, que o devem utilizar para se valorizar junto do cliente e junto da sociedade em geral, atendendo a que são aspetos cada vez mais valorizados por todos nós.

5 IMAGEM
Não basta ser é preciso também parecer. Mesmo tendo as melhores práticas ambientais a oficina deve cuidar da sua imagem. Uma oficina sustentável pode ser aquela em que o cliente se sinta confortável quando lá entra, em que a imagem das suas instalações é cuidada (não existem peças, pneus, caixas, etc., espalhadas por todo o lado), o ambiente é limpo, existe muita luz e todos os espaços estão organizados de forma funcional. As oficinas que seguem estes modelos, e já são muitas em Portugal, têm desde logo uma enorme vantagem face às restantes, pois o cliente fica logo com outra confiança tendo em conta o local onde deixa o seu carro. Uma oficina assim já tem meio caminho feito rumo à sustentabilidade.

6 PEÇAS VERDES
Um bom exemplo de economia circular e de sustentabilidade são as agora chamadas Peças Verdes (peças usadas). A sua utilização, nomeadamente nas oficinas de colisão (peças de chapa), é cada vez mais aceite (pelos clientes) e recomendada, mesmo pelas seguradoras. Aliás, as peças usadas há muito que são utilizadas pelas oficinas independentes, a diferença é que agora o negócio de Peças Verdes começa a estar um pouco mais estruturado e a sua utilização começa a ser vista com outros olhos pelo cliente. Porém, tente sempre comprar peças de origem conhecida e certificada, obtidas por via legal e comercializadas por operadores certificados para o efeito.

7 AR COMPRIMIDO
Um dos grandes centros de custos “invisíveis” numa oficina é o ar comprimido. Quanta vezes monitorizou a sua instalação de ar comprimido? Certifique-se de que não existem fugas no sistema e de que o mesmo funciona corretamente de acordo com as necessidades da oficina. A aquisição de um compressor deve sempre obedecer às necessidades reais da oficina e não ter um compressor com uma capacidade muito acima das necessidades.

8 EXAUSTÃO DE GASES DE ESCAPE
De modo a cumprir com o nível de emissões dentro de uma oficina deverá ter um bom equipamento de exaustão de gases de escape. Não realize operações com o motor a trabalhar sem utilizar um equipamento deste género. Não é só por questões ambientais, mas também de saúde dos seus funcionários e de higiene do seu local de trabalho. Um melhor ambiente de trabalho aumenta a produtividade.

9 SEGURO DE RESPONSABILIDADE AMBIENTAL
O seguro de responsabilidade ambiental é obrigatório para oficinas. Com este seguro a oficina garante a sua responsabilidade pelos danos ambientais causados nas instalações da própria oficina e resultante da sua atividade. A sua oficina fica assim protegida no caso de contaminação ou ameaça iminente nas espécies e habitats naturais protegidos, águas e solos.

10 EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
Sabe se a sua oficina é energeticamente eficiente? Nunca pensou nisso? Alguns estudos recentes referem as enormes poupanças mensais que uma oficina pode obter se for energeticamente mais eficiente. Tudo passa por uma análise de toda a iluminação, mas também aos equipamentos que consumam eletricidade. Existem empresas especializadas na avaliação da eficiência energética e o custo da sua atividade é rapidamente recuperado pelos benefícios diretos das poupanças alcançadas.

11 REPARAR EM VEZ DE SUBSTITUIR
A prática nos últimos anos tem sido substituir em vez de reparar, mas com a crescente dificuldade na obtenção de peças começa a ser importante repensar a fórmula e talvez optar pela reparação em vez da substituição (sempre que houver essa possibilidade). Aliás, a reparação acaba por ser mais sustentável e talvez economicamente mais interessante para a oficina.

12 HIGIENE, SAÚDE E SEGURANÇA NO TRABALHO
Não só deve cumprir os preceitos legais no que diz respeito aos assuntos da higiene, saúde e segurança no trabalho, como deve ir muito além deles. Os equipamentos de proteção individual são muito importantes para quem trabalha nas oficinas, assim como as condições em que o mecânico trabalha. Um ambiente limpo e seguro é muito importante para o mecânico, mas também para a qualidade do trabalho efetuado pela oficina, sem esquecer que estes tipos de práticas são sustentáveis e facilmente visíveis e percetíveis pelo cliente.

15 DICAS SOBRE PRÁTICAS SUSTENTÁVEIS NA GESTÃO AMBIENTAL

A gestão ambiental e a sustentabilidade são cada vez mais importantes em todos os setores, incluindo oficinas de automóveis. Aqui estão 15 dicas para ajudar a integrar práticas sustentáveis e ambientalmente responsáveis nas operações da sua oficina:

1. Reciclagem de Resíduos Auto
Implemente sistemas de reciclagem para resíduos auto, como óleo usado, filtros de óleo, baterias, pneus e peças substituídas;

2. Eficiência Energética
Adote tecnologias e práticas que reduzam o consumo de energia, como iluminação LED, equipamentos eficientes e gestão eficaz do consumo energético;

3. Manutenção Preventiva
Promova a manutenção preventiva para prolongar a vida útil dos veículos, reduzindo a necessidade de substituição de peças e minimizando resíduos;

4. Formação da Equipa
Forme os seus funcionários sobre práticas sustentáveis e a importância da gestão ambiental. Certifique-se de que eles compreendem e implementam essas práticas no dia-a-dia;

5. Produtos Sustentáveis
Opte por produtos auto e materiais de reparação que sejam ambientalmente amigáveis e tenham menor impacto no meio ambiente;

6. Reutilização de Peças
Incentive a reutilização de peças quando possível, contribuindo para a redução do desperdício e minimizando a procura por novas peças e componentes;

7. Gestão de Água
Adote práticas para a conservação da água, como a instalação de dispositivos de baixo consumo e a manutenção de equipamentos para evitar derrames (separador de hidrocarbonetos é obrigatório);

8. Monitorização de Emissões
Implemente sistemas para monitorizar e reduzir as emissões de poluentes dentro da oficina;

9. Certificações Ambientais
Obtenha as certificações ambientais reconhecidas para a sua oficina, expondo-as na receção, demonstrando assim comprometimento com práticas sustentáveis;

10. Educação dos Clientes
Informe seus clientes sobre práticas sustentáveis e ofereça opções ecologicamente corretas, incentivando a adoção de medidas conscientes;

11. Gestão de Resíduos Químicos
Manipule e trate de produtos químicos de maneira responsável, seguindo as regulamentações ambientais e evitando a contaminação do solo e da água;

12. Iluminação Natural
Aproveite a luz natural sempre que possível, reduzindo a dependência de iluminação artificial durante o dia;

13. Investimento em Tecnologia Verde
Considere a atualização para tecnologias mais verdes, como equipamentos de baixo consumo e ferramentas elétricas eficientes;

14. Correta gestão de stock
Defina uma boa política de gestão de stocks e dessa forma terá menos custos e uma operação mais eficiente ambientalmente;

15. Peças Verdes
A sua utilização é cada vez mais bem aceite pela sociedade, por isso avalie sempre qual a melhor solução e se não será melhor reparar e vez de substituir.

COM O APOIO:

Artigo publicado na REVISTA PÓS-VENDA 100, de janeiro de 2024. Consulte aqui a edição.