Tal como no setor dos ligeiros, também no das peças de pesados se sentem os problemas causados pela escassez da oferta. Manuel Cardoso, gerente da Global Parts, explica muito bem o que se passa neste momento no setor.
Que efeitos está a ter na vossa atividade a dificuldade de abastecimento de peças junto dos vossos fornecedores?
A escassez de componentes a nível mundial, em especial os que incorporam elementos eletrónicos, cada vez mais frequentes, aliado aos problemas decorrentes das paragens forçadas de unidades de produção e às dificuldades de transporte e logística, têm um impacto muito significativo nos lead times dos principais fabricantes. Atravessamos uma fase em que toda a cadeia de abastecimento está comprometida.
Que alternativas foram levadas à prática para compensar essas dificuldades? Reforço de stock?
A Global Parts tem vindo a tomar medidas de há meses a esta parte para colmatar a carência através de reforço do stock, mas não deixa de sentir os seus efeitos. A nossa oferta é quase exclusivamente de componentes de primeiro equipamento, e esses são precisamente os mais afetados, em virtude da procura dos fabricantes de camiões e automóveis. Por não abdicarmos desse padrão de qualidade, sofremos significativamente o impacto da escassez.
Que tipologia de peças foram mais afetadas por esse problema?
O problema é transversal a todo o tipo de produtos, sendo notório que os componentes de base eletrónica são os mais afetados.
Poderão os preços das peças aumentar até final do ano e em 2022?
O aumento dos preços é já uma realidade e é expectável que continue por algum tempo. Pelo menos até ao final do terceiro trimestre, momento em que alguns analistas preveem alguma normalização das cadeias de abastecimento. O que é garantido é que o nível de preços que for alcançado será o novo padrão.
Poderão os veículos permanecer em média mais tempo em oficina à espera de peças?
O mercado tem uma oferta muito significativa de players, entre o mercado de origem e de reposição, pelo que é provável que as viaturas em reparação possam ter tempos de permanência nas oficinas semelhante aos anteriores. Contudo, o cliente final deverá estar preparado para ver aumentado o custo da manutenção, por via da subida dos preços das peças.
Existe alguma previsão, por parte dos vossos fornecedores, para este problema deixar de existir e voltar-se à normalidade que existia até finais de 2019?
Como se disse antes, acredita-se que algures durante o quarto trimestre deste ano a situação possa começar a normalizar, com a retoma da atividade mundial a níveis próximos do período pré-pandemia.