As petrolíferas estão a competir para se tornarem empresas mais ecológicas, mas seis delas estão no topo da lista no que se trata de reverter a pegada de carbono. As grandes petrolíferas mundiais foram responsáveis nos últimos 50 anos por mais de 10% das emissões totais de CO2.
Fonte: WORLD ENERGY TRADE
As petrolíferas estão a competir para se tornarem empresas mais ecológicas, mas seis delas estão no topo da lista no que se trata de reverter a pegada de carbono. As grandes petrolíferas mundiais foram responsáveis nos últimos 50 anos por mais de 10% das emissões totais de CO2.
Em grande parte, a procura pela transformação é um dado adquirido uma vez que as empresas de petróleo e gás estão sujeitas a uma pressão cada vez maior por parte dos acionistas, ativistas e governos locais para medir e reduzir as suas emissões de carbono de uma maneira que vá mais além de medidas superficiais.
A contribuição das empresas Big Oil nas emissões de CO2
Numa publicação do ano passado do jornal The Guardian, com uma análise conduzida por Richard Heed do Climate Accountability Institute dos EUA, a principal autoridade mundial no papel das grandes petrolíferas na crescente emergência climática, fica evidente o que as empresas mundiais extraíram do solo e as emissões subsequentes pelas quais os combustíveis fósseis são responsáveis.
Desde 1965, o ano em que os especialistas dizem que tanto os líderes da indústria como os políticos conheciam o impacto ambiental dos combustíveis fósseis, as 20 empresas principais da lista contribuíram em 35% de todo o dióxido de carbono e metano relacionados com toda a energia mundial, num total de 480.000 biliões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (GtCO2e).
A Chevron encabeçou a lista das oito empresas privadas, seguida de perto pela Exxon, BP e Shell. Juntas, estas quatro empresas estão por detrás de mais de 10% das emissões de carbono do mundo desde 1965.
Uma iniciativa para tentar reverter o dano
Em julho de 2020, a Oil and Gas Climate Initiative (OGCI), uma aliança voluntária liderada por diretores executivos de algumas das maiores empresas de energia do mundo, anunciou que o seu objetivo seria reduzir, até ao ano de 2025, a intensidade média de carbono do total das operações de petróleo e gás das empresas associadas, entre 20 e 21 kg de dióxido de carbono equivalente por barril de óleo equivalente (CO2e / boe). Esse valor começa com um número base, em termos gerais, de 23 kg de CO2e / boe referenciado a 2017.
Os membros da iniciativa incluem a BP, Chevron, CNPC, Eni, Equinor, ExxonMobil, Occidental, Petrobras, Repsol, Saudi Aramco, Shell e Total. No total, estas empresas representam mais de 30% da produção mundial de petróleo e gás.
Os bancos são avessos ao risco
O ano passado, cerca de 130 bancos, que representam aproximadamente um terço do total mundial, com ativos combinados de 47 biliões de dólares americanos, comprometeram-se a alinhar os seus negócios com o Acordo Climático de Paris. Foi a maior promessa climática jamais realizada pelo setor bancário, cujo maior objetivo é o financeiro. Mas agora cheira a risco, não a dinheiro, pelo que Paris se torna cada vez mais atrativo.
Muitos bancos, especialmente na Europa, enfrentaram nos últimos anos uma crescente pressão por parte do público e de ativistas para deixarem de financiar projetos com combustíveis fósseis. Tudo isto se traduz em risco.
Alguns desses bancos disseram que iriam deixar de financiar especificamente projetos para centrais a carvão ou para exploração e produção de areias petrolíferas e petróleo no Ártico. Há uns meses atrás, Morgan Stanley tornou-se no primeiro banco dos EUA a começar a medir as emissões geradas pelas empresas às quais concede empréstimos e nas quais investe.
Empresas norte-americanas e europeias, uma grande diferença
Algumas empresas do grupo Big Oil, especialmente as europeias, têm objetivos individuais para reduzir as emissões. Algumas até mesmo se comprometeram a tornarem-se empresas de energia líquida zero até 2050. Porém, nos Estados Unidos, as grandes empresas Exxon e Chevron demoraram a adotar medidas e a seguir o exemplo.
A ExxonMobil, em particular, foi criticada pela sua falta de objetivos progressivos e por não levar em conta as alterações climáticas nas suas práticas contabilísticas e premissas de preços das matérias-primas.
Embora tanto a Exxon como a Chevron tenham fixado objetivos para reduzir as emissões, as metas são lamentavelmente curtas em comparação com as suas competidoras europeias.
A Exxon disse que reduzirá as emissões em uns 10% na sua operação de areias petrolíferas até 2023, e a Chevron comprometeu-se numa redução de 5 a 10% na intensidade de carbono nas suas operações petrolíferas.
Com isso em mente, segue a lista das 6 principais empresas de petróleo e gás com os planos de pegada de carbono mais ambiciosos, o que não necessariamente significa que já tenham as pegadas de carbono mais baixas.
1: Eni
A italiana Eni anunciou o seu plano para se tornar carbonicamente neutra em 2018, o que a coloca na primeira empresa petrolífera a comprometer-se com uma pegada de carbono zero líquida. O plano já foi atualizado várias vezes e, segundo o último deste ano, a Eni vai reduzir em 80% as suas emissões de gases de efeito estufa.
Para a Eni, o gás é um combustível de transição que está a adquirir um papel cada vez mais importante no futuro da empresa, com o objetivo de alcançar 60% de participação na matriz de produção em 2030 e cerca de 85% em 2050. O GNL está a contribuir de forma decisiva para o crescimento do gás e a Eni está a desenvolver um modelo para se tornar líder do mercado.
Estas ações contribuirão para que a Eni seja mais sustentável e possa explorar os combustíveis fósseis com menores emissões de gases de efeito estufa como combustível ponte para a transição energética a longo prazo.
2: Equinor
Em fevereiro de 2020, a Equinor da Noruega deu a conhecer um plano para reduzir a intensidade líquida de carbono, desde a produção inicial até ao consumo final, da energia produzida em pelo menos 50% até 2050.
A empresa está a planear a redução das emissões de gases de efeito estufa do seu offshore de petróleo e gás. Também, para as suas operações de campo e instalações terrestres na Noruega, a Equinor planeia reduzir em 40% até 2030 em comparação com os níveis de 2005, atingir os 70% em 2040 e ‘quase zero’ em 2050.
No entanto, o objetivo da redução não abrange as operações de exploração da empresa fora da Noruega. A partir da próxima década, a estratégia também vai passar por soluções baseadas na energia eólica marinha, na captura e armazenamento de carbono e hidrogénio verde, que está atualmente em testes.
3: Royal Dutch Shell
Entre as empresas europeias e norte-americanas Big Oil, a Shell está posicionada na lista com a de menores emissões, com 31,9 biliões de toneladas de CO2.
Em abril, a Shell disse que esperava reduzir as suas emissões de carbono em 50% até 2050. A empresa também pretende reduzir a pegada de emissões de carbono dos produtos energéticos que vende em 30% até 2035 e cerca de 65% até 2050.
Tem sido um caminho longo e complicado até agora. Em 2018, os acionistas da Shell rejeitaram uma proposta de um grupo ativista para estabelecer objetivos de emissões obrigatórias para limitar o aquecimento global. Antes disso, a empresa apontava a uma redução de 20% até 2035 em comparação com os seus níveis de 2016.
4: Repsol
Em dezembro de 2019, a empresa espanhola Repsol anunciou o seu objetivo de alcançar zero emissões líquidas até 2050. Também disse que, neste processo, o valor dos seus ativos de petróleo e gás teria um impacto de 5.300 milhões de dólares americanos.
A empresa disse que poderia atingir pelo menos 70% do seu objetivo utilizando tecnologia que já estava desenvolvida ou quase pronta.
Como parte dos seus esforços para acabar com as emissões, a Repsol reviu os seus planos de capacidade de produção de energia baixa em emissões, como é chamada, de 4,5 GW para 7,5 GW até 2025.
A empresa também avança em direção à descarbonização com o desenvolvimento de projetos associados à transição energética, e aumentou em 3.000 MW, para chegar aos 7.500 MW em 2025, o seu objetivo de capacidade de produção de energia elétrica baixa em carbono, e começará a expandir-se para outros mercados para tornar-se um interveniente internacional líder nas energias renováveis.
No negócio de Upstream, a Repsol orientará a sua carteira de ativos até ao cumprimento do Acordo de Paris para alcançar os objetivos previstos. Esta visão traduz-se numa estratégia de equilíbrio das reservas de gás e petróleo, com uma visão do gás como combustível para a transição energética, também levando em conta o papel ativo que o petróleo deve ter num planeta mais descarbonizado.
5: Total
A empresa francesa Total anunciou em maio de 2020 o seu objetivo de chegar às zero emissões líquidas até 2050 junto com a sociedade para o seu negócio global em toda a sua produção e produtos energéticos utilizados pelos seus clientes.
Através de uma declaração conjunta desenvolvida pela Total S.A e investidores institucionais, como participantes na iniciativa global para investidores Climate 100+, a Total dá três passos importantes para atingir este objetivo:
- Zero emissões líquidas nas operações mundiais da Total até 2050 ou antes.
- Zero emissões líquidas em toda a sua produção e produtos energéticos utilizados pelos seus clientes na Europa até 2050 ou antes.
- Redução em 60% ou mais na intensidade média de carbono dos produtos energéticos utilizados em todo o mundo por todos os clientes até 2050 (menos de 27,5 gCO2 / MJ), com etapas intermédias de 15% até 2030 e de 35% até 2040.
Este objetivo é sustentado pela estratégia de desenvolver a Total como uma empresa de energia abrangente, com soluções de petróleo e gás, eletricidade baixa em carbono e neutralidade de carbono como partes integradas do seu negócio.
6: BP
A BP, com sede no Reino Unido, era outra empresa mal classificada no ranking da pegada de carbono publicado pelo The Guardian. Mas os tempos mudaram e a pressão continua a aumentar.
Agora, a BP tem como objetivo reduzir 3,5 milhões de toneladas de emissões anuais de gases de efeito estufa equivalentes a CO2 em todos os seus negócios até 2025.
Basicamente, a BP aponta a um crescimento líquido zero nas emissões operacionais até 2025 como uma forma de evitar que a sua pegada de carbono cresça junto com o negócio. O plano mais abrangente é alcançar uma pegada de carbono zero líquida em todas as operações da BP sobre uma base absoluta até 2050 ou antes. A petrolífera também pretende reduzir para metade a intensidade de carbono dos produtos que comercializa até 2050 ou antes.
Cinco objetivos para a BP atingir as zero emissões líquidas:
- Zero emissões líquidas em todas operações da BP em termos absolutos até 2050 ou antes.
- Zero emissões líquidas em carbono na produção de petróleo e gás da BP em termos absolutos até 2050 ou antes.
- Redução de 50% na intensidade de carbono nos produtos que a BP comercializa até 2050 ou antes.
- Instalar a medição de metano em todos os locais principais de processamento de petróleo e gás da BP até 2023 e reduzir a intensidade das operações de metano em 50%.
- Aumentar a proporção de investimento em negócios que não sejam o petróleo e o gás ao longo do tempo.
Um novo mundo para o aftermarkert?
No texto aqui publicado da responsabilidade da WORLD ENERGY TRADE, fica claro que existe uma rápida vontade de algumas das principais companhias do mundo da energia acelerem o seu processo ao nível da transição energética.
Nos próximos anos (menos de uma década) algumas destas companhias vão encerrar algumas das suas refinarias, caminhando para fontes de energias distintas, mas com um impacto ambiental muito mais reduzido.
Por sua vez tem-se assistido, por arte de alguns governos (Alemanha e Estados Unidos, por exemplo) incentivar, com apoios milionários, a aceleração da transição do parque automóvel, isto é, mais rapidamente do que se esperava poderão existir fortes incentivos ao fim da produção de veículos automóveis com motores a combustão, o que abrirá a porta para que veículos automóveis com outro tipo de propulsão ganhem cada vez mais protagonismo.
Recentemente na Europa, as vendas de veículos eletrificados (não confundir apenas com veículos elétricos) ultrapassou as vendas de veículos com motores a combustão.
Estes e muitos outros indicadores são um sinal claro de que a mobilidade tal como a conhecemos atualmente, poderá caminhar, mais rapidamente do que se espera, mas uma maior sustentabilidade. Os efeitos desta situação serão óbvios para todos os setores de atividade e o aftermarket, tal como o conhecemos atualmente, também será muito afetado (para o bem e para o menos bem). O mercado pós-venda poderá mudar bastante nos próximos anos por via da transição energética em curso, sem considerar outros aspetos relevantes, que têm a ver com a digitalização… e outros!!!