A seriedade no negócio e a qualidade do serviço prestado pela sua empresa permitiram a Manuel Guedes Martins ser hoje uma personalidade reconhecida na assistência a equipamentos oficinais para pesados em Portugal.
ENTREVISTA PAULO HOMEM / NÁDIA CONCEIÇÃO
Com sede em Serzedo, em Vila Nova de Gaia, a Manuel Guedes Martins, há mais de 20 anos a operar no mercado, é hoje a referência quando se fala em assistência técnica a equipamentos de oficinas. A MGM comercializa também todo o tipo de acessórios para esses equipamentos, mas Manuel Guedes Martins, em entrevista à PÓS-VENDA PESADOS, assume que a aposta na qualidade e certificação do trabalho que a empresa homónima desenvolve ao nível da manutenção do equipamento oficinal são aquilo que a diferencia no mercado.
Como define e posiciona a Manuel Guedes Martins no mercado em
Portugal?
A Manuel Guedes Martins é uma empresa com serviço 24 horas na assistência técnica a equipamentos oficinais, onde se inclui também este serviço para pesados. O facto de o serviço estar em funcionamento 24 horas é muito importante. Além disso, apostamos na eficácia e rapidez, com 12 carrinhas na rua de forma permanente. Vamos ao local, temos compressores de substituicão para o cliente, se for necessário. Temos uma equipa de 22 pessoas, em que apenas seis não são técnicos. Damos assistência a todo o tipo de equipamentos: elevadores, máquinas de lavar peças, ar comprimido, material de lubrificação, máquinas de retificar discos. Estamos dedicados principalmente à reparação e manutenção de equipamentos oficinais, mas também trabalhamos a parte comercial, de venda de equipamentos. Na MGM, temos o privilégio de viver sem um comercial propriamente dito, o boca a boca é a nossa melhor estratégia comercial. Porque o nosso serviço é aquilo que faz o cliente procurar-nos.
Quando fundou a MGM, em 1997, apostando na assistência técnica, tinha ideia da dimensão e importância que a empresa vinha a atingir nos dias de hoje?
Nunca pensei que viesse a ter esta dimensão. Fomos a primeira empresa a fazer assistência técnica, não havia nenhuma empresa dedicada a este tipo de serviço. Comecei com a ideia de vender assistência técnica e, passados estes anos, tenho o privilégio de ter praticamente a mesma equipa, que quase nunca foi mexida, e isso é muito bom, é um grande trunfo para uma empresa, porque não é fácil criar uma equipa estável.
Disse em 2006 que “Em primeiro lugar todos os nossos clientes são nossos amigos”. É este o segredo do negócio?
Sim, penso que será esse o segredo. Sempre tive uma forma de estar de seriedade e de ser cumpridor, e foram esses valores que transmiti à empresa e que se mantém até hoje.
Ainda hoje a rapidez, pontualidade e eficácia são a mais importante garantia
dos vossos serviços?
Sim, são os fatores mais importantes. Não há um cliente que possa dizer que está parado por falha no nosso serviço. Se não fosse assim, não estávamos no mercado há tantos anos. Sou trabalhador e dou o exemplo. Além disso, o Manuel Guedes Martins é conhecido profissionalmente, mas é um homem de contas, que paga a horas e cumpre as suas obrigações. Nunca deixei pagamentos para trás, e são esses valores que trouxe para a empresa. Tenho uma carteira de amigos, e não de clientes.
Em 2010, a MGM inaugurou novas instalações. Este foi um dos momentos mais importantes na vossa atividade?
Sim. Marcou um ponto de viragem na empresa. Ao fim de 10 anos vi que a empresa estava a ter um novo rumo. E foi uma satisfação fazer uma festa de inauguração, porque representou um marco histórico. E agora, quando fizemos 20 anos, íamos fazer uma festa, mas não foi possível devido à pandemia de Covid-19. A inauguração das novas instalações catapultou a empresa para uma nova dinâmica e uma nova dimensão.
A certificação da empresa foi também um passo importante para o seu crescimento no mercado?
Sim. Certificámo-nos em 2010 como Empresa Certificada de Serviços de Assistência Técnica. Aconselho todas as empresas a certificarem-se. Neste momento, já estamos a trabalhar para o Estado Português, por termos esta certificação. Ganhámos alguns concursos para as forças armadas, e isso é muito gratificante para nós. Além disso, investimos também na formação e certificação em manuseamento de gases fluorados em equipamentos de refrigeração. As oficinas têm compressores de ar comprimido para a pintura, que incluem um secador por refrigeração, que pode estar ou não incorporado no compressor, para retirar a humidade do ar, que contêm gases fluorados com efeito de estufa. Para trabalhar com esses secadores os técnicos têm de ter formação para isso e estar certificados. Neste momento temos 3 técnicos com carteira profissional. E a empresa também teve de ser certificada, através da CERTIS, o que aconteceu em 2018. Desta forma, a MGM está preparada, dentro dos trâmites legais, com técnicos certificados na categoria I para executar manobras de assistência e reparação neste tipo de equipamentos. Numa empresa de pesados, se alguém faz uma reparação sem autorização, o técnico e a empresa são multados. Da assistência técnica a MGM foi adicionando também a área comercial, com a venda de equipamentos oficinais.
O que hoje representa mais na vossa atividade: os equipamentos ou o serviço de assistência?
O serviço de assistência representa a maior parte da nossa atividade. A vertente comercial não é o nosso core business. Os equipamentos servem como um complemento ao negócio: quando os clientes pedem, temos equipamentos para venda. Trabalhamos com grandes marcas: KAESER, OMCN, ABAC, BALMA, RAVAGLIOLI. As nossas marcas têm qualidade e durabilidade. E, por fazermos a assistência aos equipamentos, sabemos reconhecer quais são as melhores marcas. Há muitos equipamentos da China à venda em Portugal, por cada equipamento italiano vendem se cerca de seis equipamentos chineses, por preços muito mais baixos, mas que não têm a mesma qualidade. Utilizam materiais de baixa qualidade na sua construção e isso representa um mau investimento. Do ponto de vista legal não há nada que se possa fazer para travar esta realidade, mas podemos aconselhar os clientes para aquilo que é a qualidade dos produtos, porque, na área de equipamentos considero-me um Catedrático. A Ravaglioli, por exemplo, tem uma linha branca, mas o produto continua a ser italiano.
Que tipo de equipamentos a MGM comercializa hoje em dia? Pode equipar qualquer tipo de oficina de ligeiros e de pesados?
Não oferecemos soluções chave-na-mão. Porque não podemos ser bons em tudo. O nosso foco é a assistência técnica. Se for necessário, procuramos parceiros para complementar com outros produtos e equipamentos. Vendemos muitos elevadores para camiões e autocarros. Na área de elevadores de pesados em quase todos os grandes grupos em Portugal, porque prestamos um bom serviço. A mais-valia de quem compre um elevador para pesados é saber, quando o veículo está no elevador e o equipamento avaria, se a assistência técnica é imediata para resolver o problema. É muito importante, quando se compra o equipamento, saber a quem se compra e se existe este suporte técnico por trás, para que as empresas tenham a certeza que, no caso de avaria, rapidamente é solucionada. Isso é muito importante, principalmente no mercado de pesados, em que os veículos não podem estar parados muito tempo, porque há muitos custos associados. Temos equipamentos de substituição para tudo, para os nossos clientes não ficarem parados. Não fazemos reparações eletrónicas, fazemos com um parceiro, fazemos apenas a componente mecânica.
Disse em 2010, que uma das armas da MGM é um grande stock de peças para manutenção dos equipamentos. Ainda hoje é um dos segredos do negócio?
Sim, é fundamental. A mais-valia de uma empresa desta área é ter técnicos, viaturas para se deslocarem, mas também saber o que vamos assistir, para a carrinha ir equipada com tudo o que é necessário para a reparação. Não ter stock é o maior erro que se pode cometer, seja qual for a indústria. Não tendo stock, não se consegue trabalhar. Por fazermos assistência há muitos anos,já sabemos qual o tipo de peças que são mais frequentemente necessárias, sabemos mais do que os fabricantes neste aspeto. E temos muito stock. A economia não vai para a frente enquanto todas as empresas não tiverem stock. O nosso stock é essencialmente para a nossa assistência aos equipamentos, do que para revenda, embora também se façam vendas de peças. Sempre defendeu a certificação da assistência técnica aos equipamentos oficinais, mas até hoje pouco ou nada mudou na lei. A lei não mudou nada. Vou a debates, a congressos, batalho por isto, mas nada tem mudado. O Ministério da Economia sabe que há fraude, mas não existe fiscalização. A lei existe, mas tem de haver uma autoridade que faça a inspeção e faça cumprir a lei. Só quando há um acidente é que se vai ver que, muitas vezes, foi uma empresa que fez a manutenção sem estar devidamente credenciada, por exemplo, ou que se vende vinhetas fraudulentas. A vinheta tem a marca, modelo, número de série, ano, tara, dia da revisão e data da próxima, seguro de responsabilidade civil, com a nossa apólice. O técnico dá isto, e recebe a documentação de tudo o que foi feito, numa ficha técnica por equipamento de tudo o que foi feito. No ar comprimido também há muita falta de fiscalização. Há uma lei que obriga a fazer uma prova hidráulica ao reservatório, por exemplo. Mas, normalmente, só quando os acidentes acontecem é que os peritos verificam que não há documentação.
Trabalham mais com oficinas de ligeiros ou de pesados? Os clientes da área de pesados são representativos na vossa atividade?
A área de pesados representa cerca de 30% do negócio. Nos pesados estamos muito bem conceituados. Estamos ligados a quase tudo o que são empresas de carroçarias estamos em Portugal. Estamos em quase todas as oficinas de empresas de camiões de média e pequena dimensão. Nos transportes temos mais de 100 empresas clientes, com oficinas próprias.
As exigências de manutenção ao nível dos equipamentos para veículos pesados são diferentes face à manutenção dos equipamentos oficinais para ligeiros?
Uma vez por ano fazemos todas as verificações, revisões preventivas, no caso dos ligeiros. Mas, nos pesados não arriscamos, fazêmo-lo de seis em seis meses. Do ponto de vista tecnológico, é semelhante, mas um equipamento para pesados é de maior tonelagem e por isso requer maior manutenção. Há um desgaste maior e por isso aconselhamos a manutenção preventiva duas vezes por ano. E, caso exista alguma questão a resolver durante essa revisão, resolvemos na hora, ou fazemos um orçamento.
Dispõe a MGM de alguma plataforma digital de venda de peças e equipamentos para os profissionais?
Temos o nosso site. A tecnologia dá-nos algo de bom: o cliente envia-nos uma fotografia pelo Whatsapp e rapidamente vemos o que é e damos preços de peças. O nosso site tem as peças e, caso não tenha, facilitamos os desenhos técnicos ao cliente. Enviamos por email e o cliente pede as peças que necessita. Podemos dizer que 99% dos assuntos que nos chegam, conseguimos resolver. Temos tanto conhecimento e experiência que, muitas vezes, a mesma peça dá para utilizar em diversas máquinas.
Nunca pensou abrir uma filial em Lisboa?
Muita gente nos pede que o façamos. E temos muitos clientes que preferem pagar-nos deslocação para irmos a Lisboa, do que contratar outra empresa, porque sabem que resolvemos o problema e temos um bom serviço. Ultimamente, têm-nos aparecido muitos clientes de longe, por este passa palavra.
Como tem visto a evolução do setor oficinal em Portugal?
O setor automóvel teve anos em que houve muito investimento. Neste momento, o ramo automóvel não está muito bem e as oficinas têm muita concorrência clandestina. Em 10 km há 30 ou 40 oficinas a trabalhar só de noite, empregados que trabalham nas empresas e de noite fazem o seu biscate em casa. E isso é um grande problema para as oficinas. No caso do mercado dos camiões, neste momento está a ter muito investimento, e é uma área que tem “pernas para andar”. Nunca houve tantas empresas de camiões a funcionar bem. Nos anos de crise, os maus encerraram atividade e ficaram os melhores. É um setor que se tem vindo a modernizar, as empresas têm muito boas instalações, com boas oficinas.
Como avalia o serviço da MGM daqui a 10 anos?
A minha política é viver o presente. Mas claro que temos de pensar no futuro. A empresa está muito bem, como nunca esteve, não temos mãos a medir de trabalho. Se tivéssemos mais técnicos, conseguiríamos dar resposta a muito mais trabalho. O investimento que estamos a fazer neste momento, é com o objetivo de crescermos. Os elétricos chegam, e estão a ter uma evolução muito grande, e as oficinas têm de ter ferramentas específicas para trabalhar nestes veículos. Mas serão sempre precisos elevadores, ar comprimido, etc. Acredito que os camiões nunca irão desaparecer, e ainda haverá automóveis como os conhecemos durante muitos anos.
Artigo publicado na Revista Pós-Venda Pesados n.º 32 de fevereiro/março 2021. Consulte aqui a edição.