Atenta à evolução do mercado, a TIPS 4Y pretende estar sempre um passo à frente, ao desenvolver soluções para colmatar as necessidades atuais e futuras do setor automóvel. Em entrevista à PÓS-VENDA, Pedro Barros faz uma retrospetiva do percurso da empresa e revela os novos caminhos tecnológicos da TIPS 4Y.
ENTREVISTA PAULO HOMEM E NÁDIA CONCEIÇÃO FOTOS MICAELA NETO
Pedro Barros, CEO da TIPS 4Y, orgulha-se do percurso da empresa que, com apenas 8 anos de existência, é já PME Excelência e uma referência no mercado.
Como é que atualmente define e posiciona a Tips 4Y no mercado?
A TIPS 4Y é uma empresa tecnológica, que tem o propósito de criar o melhor conhecimento sobre a identidade do automóvel, por forma a oferecer soluções inovadoras com impacto na mobilidade em todo o ecossistema auto. Ajudamos os clientes na transição digital e na inovação dos seus modelos de negócio.
O projeto Tips 4Y é hoje aquilo que tinha pensado quando lançou a empresa?
Sim e Não! Desde o princípio sempre dissemos que a TIPS quer estar onde o futuro está a ser desenhado, mas a gestão do conhecimento não estava nos nossos horizontes à época! Temos feito um trajeto, que é passar dos dados para o conhecimento, porque os dados permitem produzir informação de valor acrescentado.
Quais foram ao longo destes anos os momentos que deram novos rumos à Tips 4Y?
Existem três momentos marcantes na vida da empresa que lhe deram novos horizontes: a implementação do serviço de pesquisa por matrícula, a abertura do capital da empresa e a aproximação à universidade. A nossa missão tem vindo a ser adaptada de acordo com a evolução do mercado e das competências internas que incorporámos, permitindo-nos responder a novos desafios de enorme valor para o cliente.
A relação histórica com o TecDoc acabou por ser a mola impulsionadora da TIPS 4Y?
A TecDoc foi a espinha dorsal do início da empresa e ainda é o nosso principal parceiro, mas o hoje a relação é muito mais equilibrada, a TIPS contribui com os seus desenvolvimentos para a comunidade TecAlliance e é convidada a partilhar soluções de gestão automatizadas de licenças que temos desenvolvido com grande sucesso. Ou seja, neste momento existe uma relação de parceria profunda com a TecAlliance. Todo o percurso que a TecAlliance tem vindo a fazer também está muito alinhado com o nosso propósito, que é na área da gestão do conhecimento. Estamos presentes em todos os momentos importantes da TecAlliance, há aqui uma relação que funciona no dois sentidos e em que procuramos estar alinhados em termos de estratégia.
Quais são hoje as principais soluções tecnológicas que a Tips 4Y disponibiliza aos clientes do setor do pós-venda?
Fizemos recentemente um exercício muito interessante onde envolvemos toda a empresa e um consultor de marketing estratégico, para redesenhar a nossa oferta no âmbito das atuais competências da empresa e no contexto da nossa missão. De acordo com o novo racional, o redesenho da oferta da TIPS torna agora mais claro o nosso posicionamento e proporciona uma visão evolutiva dos dados para o conhecimento, através de soluções complementares em meios digitais. Em breve comunicaremos ao mercado as novas nomenclaturas da nossa oferta, que se resumem em 4 grandes áreas: uma área com serviços para quem necessita de apenas aceder aos dados de valor acrescentado (ex. pesquiso uma matrícula e identifico viatura, peças e informação técnica). Uma área de soluções digitais para quem necessita de aumentar eficiência a partir dos dados (ex. plataforma de venda online), outra área para quem pretende verdadeiramente um acelerador digital, acedendo a um ecossistema de ponta a ponta que interliga todos os pontos de contacto na jornada do cliente, desde a antecipação da visita à oficina até à entrega da viatura, envolvendo o cliente final, oficina e parceiros estratégicos ao longo da jornada. E, por fim uma área exclusivamente dedicada à nossa capacidade de gerar conhecimento e inteligência de negócio, que permita sustentar decisões estratégicas no mercado automóvel e de forma transversal a todos os seus players.
A loja de Peças Online está institucionalizada nos grossistas, mas o retalho demora a pegar nessa ferramenta. Qual a razão para isso?
Muito mudou este ano, mas se nos reportamos até ao final do ano passado, a principal razão é porque uma loja de peças online, como o nome indica, serve para vender apenas peças. Como os retalhistas compram para vender, a utilização de uma Webshop disponibilizada pelos seus fornecedores grossistas faz todo o sentido. Mas as oficinas compram para reparar, pelo que faz mais sentido uma plataforma oficinal disponibilizada pelo retalho, que permita à oficina comprar as peças necessárias através de orçamentos ou ordens de reparação. A meu ver as soluções devem ser distintas, as características de uma loja direcionada para o retalho serão diferentes de um portal direcionado para as oficinas, que terá de responder de uma forma mais abrangente, não só para comprar uma peça, mas porque essa peça será pedida ao abrigo de um orçamento. E essa solução poderá disponibilizar também informação técnica para a reparação.
Acha que com esta crise (Covid-19), a vertente da loja de peças virtual vai assumir maior importância?
Sem dúvida que sim. O Covid-19 veio acelerar a importância da transformação digital. As lojas de peças online eram vistas como estratégias de venda em zona alargada, mas tudo mudou. Passámos de GoGlobal para GoLocal e de repente as lojas online passaram a ser soluções de proximidade e venda local, resolvendo os problemas impostos pelo distanciamento social e protocolo sanitário.
A importância dos dados é enorme. O que é que a Tips 4Y está a fazer a este nível?
Os dados não servem de nada sem contexto. O petróleo é muito valioso, mas só nos serve depois de transformado – não conheço nenhum carro que funcione a petróleo! A TIPS está a fazer o “move” dos Dados para o Conhecimento e neste sentido estamos a trabalhar com a Universidade NOVA, no sentido de gerar inteligência em cima dos dados e de criar o conhecimento que permita apoiar os nossos clientes com indicadores estratégicos sobre o seu negócio, que lhes permita criar disrupção e novos modelos de negócio. É um projeto a três anos, muito interessante.
Atualmente quantas matrículas têm na vossa base de dados?
Temos cerca de 11 milhões de registos, dos quais muitos estão inativos, porque o parque automóvel tem cerca de 6,2 milhões de veículos, e isto permite-nos trabalhar serviços de combate à fraude. O nosso registo mais antigo é de 1912 e o mais recente de abril de 2020. Trabalhamos os dados, para normalizar, corrigir e adicionar informação. Temos entidades que estão relacionadas indiretamente com o mercado automóvel e que também nos pedem informação.
Das entidades para as quais a Tips 4Y trabalha (concessionários, distribuidores de peças auto, gestoras de frotas, oficinas e redes, retalho de pneus e seguradoras), qual é o mais representativo na vossa atividade?
Trabalhamos para todos os que se relacionam com o automóvel, porque conhecemos o veículo como ninguém. Somos mais conhecidos na distribuição de peças, mas somos igualmente fortes noutros segmentos.
Entende que ainda existe muito info-exclusão no setor pós-venda em Portugal?
Info-exclusão no sentido da dificuldade em trabalhar com ferramentas digitais cada vez menos, mas desconhecimento de que existem soluções, sim há muito desconhecimento. A principaldificuldade que identifico é a perceção da importância do digital como um investimento que permite à empresa ser mais eficiente, mais rentável e autossuficiente, ou seja, a utilização do digital como um meio para abraçar o futuro. Por isso faz tanta falta conhecimento de gestão aos empresários para que possam desenvolver negócios diferenciadores com mais ganhos de produtividade e crescimento. Um dos investimentos que estamos a fazer atualmente é em User Experience, ou seja, fomentar a adoção das soluções digitais pela experiência de utilização que proporcionam.
O Pedro pertence à ACAP / DPAI, como tem visto o trabalho desta entidade?
Penso que ficou bem patente a importância das associações em geral durante a gestão da crise pandémica. Em particular a ACAP/DPAI esteve muito presente no esclarecimento de todas as ações e regulamentos que foram sendo divulgados, forçando sempre a inclusão do pós-venda nos serviços essenciais. Neste sentido desenvolveu, e a pedido do governo, um protocolo sanitário que acabou por ter a participação de outras associações e o selo de estabelecimento seguro que visa comunicar um sentimento de segurança ao cliente final. Partilhou também de forma constante com os seus associados distribuidores e reparadores, informação diversa em como lidar operacionalmente em cenário Covid, não faltando todo o apoio aos sucessivos regulamentos de layoff que foram saindo! É nestas alturas que vemos a importância e a preparação das organizações, e penso que a ACAP esteve muito bem, à altura desta que é uma crise sem precedentes!
O observatório do setor tem sido uma das mais importantes ferramentas que a DPAI tem disponibilizado ao setor. O setor revê-se nesse observatório e tem contribuído ativamente para o mesmo?
No nosso setor existe muita dificuldade para produzir dados que possam alimentar um observatório de atividade, na medida em que as empresas têm muita dificuldade em partilhar informação, mesmo de forma anónima. O observatório inclui o estudo dos rácios do setor, que iniciei há 12 anos com o objetivo de criar um benchmark para a excelência e ajudar os empresários a analisar a sua própria empresa. No entanto, os últimos dados contabilísticos são referentes ao ano de 2018 e os de 2019 vão ser entregues em breve, sendo que, entretanto, o mundo mudou! Se não forem as empresas a alimentar o observatório será muito difícil criar avisos à navegação mais realistas! Também a este nível a crise pandémica ajudou, pois quando convidámos as empresas a partilhar o nível de negócio face ao habitual, a participação foi muito superior ao normal, e este contributo permitiu a todos acompanhar durante 3 meses a agonia do negócio e a sua recuperação. Penso que esta participação já revela a importância que o sector associado deu ao estudo.
Qual a sua opinião sobre a realidade dos elétricos e híbridos. Vieram para ficar?
Devido à pandemia, tem havido um abrandamento. Além disso, a produção de veículos elétricos é ainda muito dispendiosa e está muito dependente da subvenção que os estados dão à compra do veículo, existindo uma forte pressão política e ambientalista para que os veículos eletrificados venham para ficar! A indústria já fez saber que não concordava com a pressão e calendários que estão a ser exigidos pela CE, sendo que o esforço de investimento é enorme e não será rentável a curto prazo! Se as vendas dos elétricos aumentassem 50% ao ano, as vendas de veículos novos em 2030 seriam 100% de VE, mas mesmo assim não teriam uma representatividade acumulada superior a 18% no parque circulante, caso o parque não aumente, pois caso contrário a quota seria mais reduzida! Penso que a agenda dos veículos elétricos possa ficar agora atrasada pela crise que a indústria automóvel está a passar, mas não será abandonada! Neste momento, a fiscalidade é o fator que tem o maior peso na decisão.
Poderá o setor do pós-venda mudar assim tanto no futuro por causa da
eletrificação?
Os híbridos como viaturas eletrificadas terão um impacto mais reduzido na manutenção que os veículos elétricos. Apenas algumas as peças de desgaste, como as da travagem, terão uma vida útil mais prolongada sendo substituídas menos vezes! A manutenção dos 75.000 kms pode variar em média, sem peças de desgaste, entre os 375€ para um veículo de combustão e os 90€ para um veiculo elétrico, ou seja aprox. ¼ do valor! Pela nossa estimativa, num cenário idealista em 2030, só a manutenção dos veículos elétricos poderá representar uma quebra de 14% no total do negocio do pós-venda. Mas também existem várias oportunidades a serem exploradas, como os conceitos one stop center para carregar VE e descontrair, ou o electric car servicing garage que é um franchising centro de diagnóstico para carregamento e lavagem em garagens públicas e privadas, carregamentos portáteis, aluguer de VE, etc..
Qual a sua opinião sobre a evolução do setor pós-venda a curto e médio prazo em Portugal, atendendo aos efeitos desta pandemia?
A pandemia criou um novo palavrão: “Low Touch Economy”, a economia de baixo contacto, em que os clientes estão limitados na sua interação com os agentes comerciais, com as lojas físicas. Existe um protocolo sanitário em vigor! O agendamento generalizou-se em muitas atividades, onde o tempo de visita a clientes é mais restrito. A procura não recuperará tão depressa e as prioridades mudaram! Um carro novo é agora um risco financeiro muito elevado! Por outro lado, existe um receio na utilização do transporte público, pelo que está a aumentar a utilização da viatura particular. Em resumo, a atividade de manutenção deverá recuperar os seus níveis de ocupação em breve, mas com menos contacto. Para podermos estar presentes neste novo contexto é fundamental a aposta no digital, nomeadamente através de plataformas de e commerce, onde existe uma adoção exponencial nesta nova forma de fazer compras! Mas vão existir ofertas de novos produtos e serviços que facilitem a vida aos clientes, adaptando-se aos novos comportamentos. A transição para o digital permite, entre outras vantagens, a de obter ganhos importantes de eficiência.
Quais serão os grandes desafios futuros do pós-venda?
O negócio vai mudar mais nos próximos cinco anos que nos últimos 50! Se pensarmos nos desafios que já chegaram ou que vão ter expressão em breve, como veículos eletrificados, sistemas avançados de apoio à condução, manutenção preditiva, viaturas conectadas, novos conceitos de mobilidade, condução autónoma, mudança de propriedade do veículo, são tudo elementos que vão criar disrupção na forma como desenvolvemos hoje o pós-venda. Teremos menos acidentes, menos avarias, menos manutenção, menos razões para visitar a oficina, face à atual realidade! É fundamental estar bem informado, perceber de que forma cada uma destas tendências terá impacto no negócio, como podemos antecipar perdas no negócio tradicional, promovendo novos modelos de negócio! Teremos de estar preparados para fazer o negócio de forma diferente, e identificar onde estão os elementos transformadores. Será no futuro o negócio OE concorrente do IAM? Não me parece! Para já começaria a pensar como substituir a palavra pós-venda e qual o novo propósito que estas empresas vão ter num futuro próximo!
Perfil
Pedro Barros passou 25 anos no pós-venda como distribuidor, onde criou duas empresas e duas parcerias. Há oito anos passou para as tecnologias de informação, com a criação da TIPS 4Y, reunindo a sua paixão pelos automóveis e pela tecnologia. Exerce também funções associativas há 16 anos.
Perguntas rápidas
Qual foi o seu primeiro carro?
Um Fiat Uno 45, comprado na Promogrupo.
Quantos quilómetros faz por ano?
Cerca de 25 mil quilómetros.
O que mais gosta no sector do automóvel?
A multiplicidade de tecnologias numa única indústria! É impossível aborrecermo-nos!
E o que menos gosta?
A falta de conhecimento de gestão empresarial.
É importante ir ao terreno visitar os associados?
Sim. É lá que aprendemos como criar valor para os nossos clientes.
O que gosta de fazer nos tempos livres?
Faço Trekking, caminhadas, expedições 4X4 em autonomia, eventos automobilísticos. E estou a terminar os caminhos franceses a Santiago.
Artigo publicado na Revista Pós-Venda n.º 58 de julho de 2020. Consulte aqui a edição.