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Personalidade do mês – Hugo de Figueiredo, Davasa: “O futuro das oficinas passa por integrar um conceito oficinal”

Na Sucursal Portuguesa da Davasa desde julho de 2020 como Diretor Geral, Hugo de Figueiredo pretende impulsionar a presença desta empresa de peças generalista no nosso país.

A Davasa tem vindo a reforçar a sua operação em Portugal, onde está desde 2004, e a nomeação de Hugo de Figueiredo como Diretor Geral no nosso país foi uma das estratégias implementadas. Hugo Figueiredo tem uma vasta experiência no mundo das peças e acessórios automóvel e integrou a Sucursal Portuguesa da Davasa para dar continuidade aos vários projetos da empresa em território português. Em entrevista à REVISTA PÓS-VENDA, este responsável explica algumas das apostas da Davasa para aumentar a sua presença no aftermarket, como o investimento na digitalização e a inclusão de novas marcas no seu portfolio.

Como caracteriza a Davasa?

A Davasa é uma empresa sediada em Espanha, com quase duas décadas de trabalho em Portugal. Somos um distribuidor de peças generalistas. Temos várias marcas e vários tipos de oferta, num portfolio bastante vasto para o aftermarket. A empresa passou por várias fases. Em Portugal estamos num caminho crescente, e a nossa presença tem vindo a intensificar-se nos últimos anos.

Assumem-se mais como grossistas ou como retalhistas de peças?

Temos dois públicos-alvo: as oficinas e o retalho. A nossa maior ênfase é em oficinas, com uma percentagem esmagadora do negócio. Mas queremos estar cada vez mais presentes nos retalhistas. Estamos a desenvolver uma estratégia para estarmos mais presentes no retalho. Vendemos também ao consumidor final, apesar de a nossa estratégia não passar por aí. Das nossas três unidades, Lisboa e Porto têm venda direta ao público, no balcão. Apenas a delegação de Coimbra não tem. Em resumo, assumimo-nos como um distribuidor de peças, que está mais presente nas oficinas.

A estratégia direcionada para o retalho passa por terem em algumas localizações outras empresas que trabalhem preferencialmente convosco?

Existe uma estratégia para estar mais presente no retalho que passa por dar condições aos retalhistas para que possam trabalhar as oficinas e estar atentos a não fazermos concorrência a esses próprios retalhistas. Mas não estamos a falar de franchisings. Não fechamos a porta no futuro, mas a estratégia atual não passa por aí. Passa por encontrar retalhistas que pretendam ser nossos parceiros.

Tudo o que existe em Espanha têm em Portugal?

Uma grande parte dos produtos, sim. Os clientes têm acesso ao stock que existe em Portugal, mas também em Espanha, havendo apenas algumas marcas em Espanha que não comercializamos em Portugal.

Qual a autonomia da Davasa em Portugal em relação a Espanha?

A sucursal de Portugal é autónoma, a gestão principal é feita em Portugal, com o apoio dos principais responsáveis de Espanha. Trabalhamos diariamente com inputs da nossa estrutura de Espanha e dos diferentes departamentos. Mas temos de ter em conta que somos um mercado diferente do Espanhol, apesar das semelhanças, e por isso tratamos Portugal como um mercado próprio. Temos departamentos em Espanha que trabalham os dois mercados em comum. A forma de abordar o mercado Português na forma de abordar os meios humanos e materiais é autónoma de Espanha. Temos uma estratégia adaptada ao mercado português que é discutida com Espanha. Existem aspetos que resultam num país e não no outro. Há algumas diferenças: os clientes portugueses são mais exigentes no que toca às tecnologias, à modernização, compras online, etc. temos tentado modernizar cada vez mais, e o caminho é esse.

Atualmente estão presentes em Lisboa, no Porto e em Coimbra… está prevista outra abertura?

Sim. Temos a ambição de abrir novas localizações, provavelmente na zona sul do país, mas irá depender da evolução da empresa e do mercado.

A empresa está estabilizada em termos de investimentos?

Sim. Estamos numa fase de consolidação das operações. Neste momento temos uma estrutura menor em relação ao passado, mas uma rentabilidade mais elevada. Os próximos investimentos serão feitos a seu tempo, de uma forma gradual e consistente.

Quais as principais marcas de peças da Davasa?

Trabalhamos com várias marcas premium como a Sachs, Brembo, Motul, entre outras. Temos também marcas mais económicas, que nos permitem outro posicionamento no mercado, temos as marcas próprias Autopro e QWP. A QWP é uma marca própria do Grupo SAG, onde estamos inseridos, e estamos a fazer uma grande aposta e a introduzir novos produtos sob esta marca. Contamos com baterias, motores de arranque e alternadores, discos e pastilhas de travão. É uma  marca branca, mas com uma qualidade superior ao que é o normal neste posicionamento. Em breve vamos introduzir os produtos de direção e suspensão, filtros, entre outros. Antes de introduzirmos um produto estudamos o posicionamento de preços, a questão logística, etc.

A Autopro e a QWP têm já expressão nas vendas da Davasa?

Sim, têm alguma expressão, no caso da QWP ainda não tem o peso que pretendemos. O nosso objetivo é que tenham uma importância muito maior na empresa, pois são as marcas que nos trazem maior rentabilidade, além de serem marcas que nos diferenciam no mercado. A QWP tem tudo para se tornar uma marca com grande peso no negócio, e é esse o objetivo do Grupo SAG. Sendo uma marca nova, têm sido feitos alguns ajustes, ao nível de preço, por exemplo, mas o feedback tem sido bom até ao momento. No caso da Autopro, irá também continuar a ser comercializada, mas não em todos os produtos. Será, gradualmente, substituída pelos produtos
QWP. Também ponderamos a hipótese de comercializar, nas baterias, a marca Yuasa. Mas, de momento, temos a Bosch como marca premium, a QWP e a Autopro.

Como funciona a componente logística do negócio da Davasa?

As três unidades de Portugal têm stock próprio, com o qual trabalhamos com os nossos clientes. Temos depois um apoio de Espanha, onde recorremos caso não exista o produto em Portugal. Atualmente a nossa logística é assegurada por meios próprios, para o negócio de proximidade, e com transportadores para distâncias superiores.

Qual a dimensão do stock da Davasa em Portugal?

Temos cerca de 23 mil referências em stock, no conjunto dos três armazéns em Portugal. Há um investimento grande em stock, para podermos dar resposta rápida aos nossos clientes. O grande investimento é em referências de maior rotação. Tudo o resto é um investimento mais comedido.

Através de que meios se relacionam com as oficinas para os pedidos de peças?

Por vários meios como por telefone, pela plataforma B2B, através do Whatsapp ou dos nossos vendedores. O meio preferencial depende da zona. Na zona de Lisboa a plataforma é a mais utilizada, enquanto na zona do Porto é mais frequente as oficinas ligarem para o balcão, e temos também outros clientes noutras zonas, como Santarém, por exemplo, que fazem muitos pedidos através dos nossos comerciais. No caso da plataforma B2B, cada vez existem mais oficinas a optar por fazer os seus pedidos através da Internet. A nossa plataforma sofreu melhorias há cerca de dois anos. Procuramos dar à oficina as várias opções, e cada cliente decide de que forma prefere trabalhar.

Que efeitos teve a pandemia, a guerra da Ucrânia e a consequente inflação no vosso negócio?

Ainda existem algumas dificuldades no acesso às peças, com algumas ruturas de stock, mas é algo que já está a normalizar. A Davasa em Portugal teve uma grande  resiliência, e a nossa equipa tem demonstrado uma grande capacidade de resposta e de foco nos clientes. A operação já está estabilizada, em relação ao que era antes da pandemia.

Têm existido várias fusões no mercado em Portugal. Considera que é algo que vai continuar a existir no aftermarket?

Creio que é algo que poderá acontecer. Mais de 20% do volume de negócios do aftermarket europeu, segundo um estudo da Berner, está concentrado em 12 empresas. E isto afeta também o mercado ibérico. A tendência para a globalização dos mercados na Europa está a crescer, e é algo a que Portugal não irá ser exceção. Este tipo de fusões poderão tornar o mercado ainda mais agressivo do ponto de vista comercial. O negócio poderá ser tratado de outra forma, de uma forma mais profissional em termos de entendimento entre todos os players. Se houver menos players, poderá ser mais fácil esse entendimento, com maior respeito, empresas mais profissionalizadas e dar origem a uma forma de tratar o mercado mais positiva.

A Davasa foi pioneira na iberização do mercado. Considera que este é um fenómeno que irá continuar no mercado?

A Davasa é um dos bons exemplos de como a iberização funciona e temos outros casos recentes, por isso, admito que poderão existir mais no futuro. Nos últimos cinco anos, este fenómeno aumentou, pois as empresas começaram a pertencer a grupos, mas também porque a tendência é a de tratarmos o mercado ibérico como um todo. E as empresas Espanholas, ao perceberem que isso está mais próximo de acontecer, apostam em estar mais presentes em Portugal.

Têm vindo a dinamizar o conceito de redes oficinais através da CGA Car Service. De que forma estão a trabalhar isso?

A falta de mão de obra qualificada pode vir a ser um fator decisivo para o crescimento do negócio. As oficinas precisam de mais apoio técnico e de formação contínua, além das peças e um conceito oficinal pode oferecer tudo isso. Fazemos parte do Grupo CGA e estamos a dinamizar o conceito de oficinas CGA em Portugal. Uma das nossas prioridades é o desenvolvimento deste conceito, que está a ter um crescimento ibérico muito grande. Neste momento temos 12 oficinas dinamizadas com o conceito CGA Car Service, e continuamos a procurar novos aderentes. Há um investimento por parte da CGA para ser feita esta angariação. Sim, penso que o futuro das oficinas passa por integrar um conceito oficinal. As oficinas que não acompanharem a evolução do mercado, irão ficar para trás. Nós queremos estar na linha da frente, ajudar as oficinas a crescer, e daí estarmos a dinamizar este conceito.

Que outras novidades irão existir em breve na Davasa?

Temos uma estratégia muito ambiciosa para o mercado Português nos próximos anos, mantendo-nos atentos ao que já estamos a tentar melhorar. A pouco e pouco iremos revelando esse plano. Mas estaremos cada vez mais presentes, mais atualizados e com uma melhor capacidade de resposta aos nossos parceiros.

Artigo publicado na REVISTA PÓS-VENDA 94, de julho de 2023. Consulte aqui a edição.

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