Através de um inquérito, a Pós-Venda foi saber as medidas que as oficinas tomaram durante este período de Pandemia, mas também o que esperam da sua atividade a curto e médio prazo.
TEXTO PAULO HOMEM E NÁDIA CONCEIÇÃO
O Covid-19 e os seus efeitos vão andar pelo mercado pós-venda, pelo menos durante os próximos longos meses. Não há volta a dar, temos mesmo que viver nos próximos tempos com esta nova realidade que tivemos de aceitar à força, pois não havia opção nem plano B. Como é que as oficinas reagiram a tudo isto nos últimos dois meses? Diríamos que reagiram bem… em função das circunstâncias, até porque o Governo, tomou a decisão acertada de manter este setor em funcionamento.
De acordo com o estudo que a Revista PÓS-VENDA fez às oficinas, tendo validado 320 respostas, a verdade é que apenas 8,9% decidiram fechar as suas portas devido ao Coronavírus. Pela análise dos dados, tratavam-se de pequenas oficinas, que dessa forma analisaram que não tinham condições de manter a porta aberta, seguindo dessa forma as regras impostas para o distanciamento social. Aliás, a grande maioria das oficinas considerou que o Governo fez bem em manter a atividade aberta para todo o tipo de clientes e não apenas para os veículos afetos às atividades de emergência e combate ao Covid-19.
REDUÇÃO DA ATIVIDADE
A partir do momento em que as restrições à circulação de pessoas foi imposta, já se sabia, passariam a circular nas estradas muito menos automóveis. Deixou de haver filas de trânsito nos acessos às grandes cidades em horas de ponta e nas auto-estradas portuguesas estima-se que a redução do volume de tráfego foi de 75%. Muito menos carros na estrada quer dizer que temos muito menos carros nas oficinas e, por consequência, uma redução do número de serviços.
Apenas 4,4% das oficinas disseram que a redução na atividade foi até 25%, mas a maior fatia das oficinas (120 neste inquérito) afirmam que a redução na atividade foi acima dos 75%. Mais significativo é juntar todos os dados das oficinas que tiveram uma redução superior a 50% no serviço, estando neste caso a falar-se de mais de 70%.
Sensivelmente metade das oficinas reduziram o seu horário de funcionamento, ajustando-o a esta nova realidade e, após ser decretado o estado de emergência por parte do Governo, pouco mais de 40% das oficinas tiveram que reduzir o número de empregados. Apenas 21,8% das oficinas disseram que não vão aderir ao lay-off simplificado, enquanto 43% já o fizeram ou irão fazer, existindo contudo uma percentagem que ainda não decidiu o que fazer sobre esta matéria.
PEÇAS
Tal como dissemos no número passado da revista PÓS-VENDA, um dos bons barómetros da atividade da distribuição de peças no nosso país é a atividade da CARF (única empresa especializada que faz a distribuição de peças de automóveis e pneus a nível nacional). Durante parte do mês de abril a atividade da CARF reduziu-se a metade, sendo que uma parte do serviço bi-diário até foi retomado a meio do mês. Por isso, é natural que mais de 63,1% das oficinas tenham notado algumas dificuldades no abastecimento de peças, quase 31% revelaram que o abastecimento de peças esteve normal e apenas 6% disseram que sentiram muitas dificuldades.
Nas páginas que se seguem pode ver, ler e analisar estes e muitos outros dados que recolhemos neste inquérito junto das oficinas, mas também um conjunto muito vasto de opiniões dos responsáveis das oficinas (não divulgando o nome da oficina nem o nome do responsável que deu a opinião) que abordam o tema do futuro da sua atividade. Trata-se de um trabalho exclusivo da revista PÓS-VENDA, que agradece a todos os que nele participaram.
A opinião das oficinas:
Oficina de pneus, BRAGA
“Muitas empresas irão fechar. Os apoios bancários/estado só ajudarão as mais viáveis. E sabemos como o sector se encontrava antes da pandemia. Sobrevivência e muita ginástica financeira”.
Oficina de mecânica, AVEIRO
“Ao contrário do que muitos imaginam, as oficinas hoje em dia não usufruem de avultados lucros, fruto de extrema carga fiscal, questões ambientais e concorrência desleal, de forma que as oficinas que conseguirem sobreviver a esta fase irão levar muito anos a recuperar. Importante será adaptarmo-nos aos novos tempos e traçar novas estratégias de negócio”.
Oficina de colisão, PORTO
“Esta pandemia está a dizimar muitos dos setores da nossa economia e, por esse facto, no pós-venda automóvel, irá com certeza ser evidente”.
A opinião das oficinas:
Oficina de mecânica, SANTARÉM
“A minha opinião sobre o impacto da pandemia no nosso setor é muito negativa, pois com esta crise vão aumentar as ditas oficinas de vão de escada, a concorrência desleal vai acentuar e, como tem sido hábito, as autoridades nada vão fazer quanto a isto para nos defender. O estado, até ao momento, não deu nada às empresas, facilitou algumas coisas, mas não está a ajudar o nosso setor. Nos próximos anos, o mesmo vai aumentar a nossa carga fiscal mais que nos últimos anos para mais uma vez nós pagarmos esta fatura que vai ser bastante alta”.
Oficina de pneus, BRAGANÇA
“A queda de faturação vai continuar, porque muitas pessoas vão ficar sem trabalho e, consequentemente, sem rendimento, e a despesa com o carro é a que mais se adia. O carro só vai à oficina quando vai à vistoria ou quando as autoridades chamam à atenção. E quando vão à oficina adiam o mais possível o pagamento das faturas. E as oficinas, fragilizadas financeiramente como estão, não podem continuar a facilitar, e vão perder clientes”.
Oficina de mecânica, PORTO
“A degradação expectável das capacidades económicas será a maior dificuldade.
Por outro lado, as dificuldades/crises, tem sempre o condão de obrigar a repensar a
forma de estar no mercado, iremos sair reforçados, se até lá conseguirmos manter a atividade. Como estamos integrados numa rede de oficinas, o apoio e dinamismo desta, será fundamental”.
A opinião das oficinas:
Oficina de mecânica, AVEIRO
“Terá um grande impacto naquilo que é o mercado atual e na forma como está montada toda a logística à volta do mesmo. A crise que se avizinha não vai deixar ninguém indiferente. O mercado vai ser exigente e vai seleccionar as oficinas que estão preparadas em termos de solidez financeira”.
Oficina de pneus, LISBOA
“O setor vai passar por muitas dificuldades, onde muitas oficinas poderão ter de reduzir custos para manterem a sua atividade. Vai recuperar a médio prazo, dependendo das ajudas que forem decretadas futuramente”.
Oficina de mecânica, LEIRIA
“Vai ter um impacto enorme. Mais uma vez o paradigma mudou, vão vencer os que tiverem mais capacidade de adaptação”.
A opinião das oficinas:
Oficina de mecânica, SETÚBAL
“O impacto claramente é negativo, sendo que os clientes irão perder poder de compra e num futuro a curto/médio prazo irão repensar melhor se querem efectuar determinadas reparações necessárias mas dispendiosas, podendo a segurança rodoviária estar em risco”.
Oficina de pneus, PORTO
“A curto prazo, a diminuição da atividade, que poderá ser menor do que é expectável, pelo facto de os consumidores necessitarem de mobilidade. A médio prazo, poderá haver um crescimento para os operadores que conseguirem ultrapassar esta fase”.
Oficina de mecânica, SANTARÉM
“Haverá menos dinheiro por parte dos clientes. As reparações serão só as necessárias e inevitáveis. Os clientes irão descuidar as revisões e mesmo o não haver inspeções periódicas irá baixar a produtividade das oficinas”.
A opinião das oficinas:
Oficina de mecânica, BRAGA
“Além da pandemia, outras situações existem, em simultâneo, que fragilizam o nosso setor, como sejam as seguradoras estarem a aproveitar-se e a fragilizar as oficinas com as peritagens caseiras, onde celebram com os próprios clientes acordos de reparação (sem os clientes terem conhecimentos técnicos, pondo em causa a segurança rodoviária)”.
Oficina de mecânica, SANTARÉM
“Vai gerar desemprego no setor e uma redução dos clientes na abordagem à oficina, pois as pessoas podem trabalhar a partir de casa e assim reduzir custos no automóvel, poupando nas deslocações”.
Oficina de mecânica, MADEIRA
“As empresas que já estavam mal vão fechar e sobretudo as microempresas vão ter muita dificuldade em sobreviver. Os meios remotos de comunicação com cliente terão novo fôlego”.
A opinião das oficinas:
Oficina de pneus, VISEU
“Ao nível de venda de pneus novos, já estava mal, mas vai ficar pior, está melhor para quem vende pneus usados, em que muito deles não oferecem segurança na estrada”.
Oficina de colisão, AVEIRO
“O prolongamento das inspeções periódicas foi excessivo em relação a outras medidas decretadas. Põem em causa questões de segurança. O consumidor final/empresas irá ter poder de compra muitíssimo reduzido. Prevê-se um reajustamento do mercado auto/oficinas. Redução de número de oficinas como nova redução de margens”.
Oficina de mecânica, LEIRIA
“Muito provavelmente, os clientes só irão deslocar-se para reparar as viaturas em caso de necessidade extrema. As revisões serão adiadas devido a dificuldades económicas e muito provavelmente muita dificuldade em pagar as mesmas”.
A opinião das oficinas:
Oficina de mecânica, CASTELO BRANCO
“Trará sérios problemas ao setor. Um número elevado de viaturas apenas se desloca à oficina na altura da inspecção periódica. Assim, o volume de reparações baixará significativamente. O limite das manutenções também se prolongará, pois as viaturas não circulam e, com a redução do tráfego automóvel, também se reduzem as colisões”.
Oficina de pneus, BRAGANÇA
“Alteração de hábitos por parte dos clientes e necessidade de aplicar mais meios digitais”.
Oficina de mecânica, LISBOA
“Os clientes só aquando de emergência/ avaria é que se vão deslocar à oficina, ninguém quererá fazer as manutenções regulares, tanto pela quebra de rendimentos como pelo medo do contacto social. Logo, traduz-se na quebra de serviços e de facturação”.
Oficina de mecânica, PORTO
“A grande dificuldade será a adaptação dos níveis dos valores orçamentados antes da pandemia, uma vez que os clientes, de forma geral, não estarão tão dispostos a investir na manutenção das suas viaturas, o que vai levar à recessão dos valores praticados. Terá que haver uma adaptação no valor de mercados de peças, desde a produção, importação, e setor intermediário, e mão de obra final para que o setor não pare de vez. Claro que para isto acontecer tem de haver também ajustes nos encargos que são impostos às oficinas, pois se os encargos se mantiverem ou subirem aí torna-se preocupante”.
Oficina de mecânica, FARO
“Quem conseguir lá chegar irá enfrentar o desafio da eletrificação”.
Oficina de mecânica, COIMBRA
“Terá algum impacto, depende da duração das medidas e na situação económica em que o país ficar. Terá sem duvida mais impacto nas vendas de automóveis do que na reparação”.
Oficina de mecânica, SANTARÉM
“Vamos ter um período de readaptação, e todos os outros mercados também vão influenciar o nosso sucesso”.
Oficina de mecânica, LISBOA
“O impacto será e está já a ser grande, no futuro teremos de nos adaptar, inovar e criar condições para retomar a actividade, dependendo sempre da evolução da economia, de uma forma menos presencial por parte do cliente, o que passará por meios de comunicação digital”.
Oficina de mecânica, LISBOA
“Certamente nada voltará ao mesmo do que era antigamente. O retrair da confiança dos clientes na aquisição das viaturas novas vai propocionar uma oportunidade de negócio”.
Oficina de pneus, LISBOA
“O ramo de pneus e jantes irá sofrer, porque as pessoas terão menos dinheiro para comprar pneus, mas a principal queda irá ser a da venda de jantes de substituição ou a alteração da estética, quer a nível de stands, quer a nível particular. A nível da mecânica, poderá aumentar, devido à procura maior de serviços fora do concessionário, e, pelo atrasar das revisões, haverá avarias mais recorrentes”.
Oficina de mecânica, PORTO
“Devemos aproveitar todas as medidas que o Governo coloca à nossa disposição, para garantir a viabilidade, a longo prazo, das nossas empresas”.
Oficina de mecânica, SANTARÉM
“Terá impacto, principalmente em pequenas oficinas ou as que não estão ligadas a uma rede oficinal, essas dificilmente conseguiram aguentar todos os encargos, possivelmente 30% a 40% irão encerrar a atividade”.
Oficina de colisão, PORTO
“O mercado oficinal vai cair 45%”.
Oficina de mecânica, LISBOA
“Na generalidade, o modo de funcionamento das oficinas irá ser igual ao que sempre foi. Vão existir clientes que depois desta pandemia vão preferir um atendimento mais digital”.
Oficina de pneus, AVEIRO
“Será muito difícil pois irá dar potencial aos chamados biscateiros”.
Oficina de mecânica, MADEIRA
“Dificilmente voltamos ao que éramos antes desta pandemia”.
Oficina de mecânica, LISBOA
“O mercado vai entrar em recessão, tanto particulares como empresas vão estar descapitalizados, o que fará com que a frota automóvel envelheça e traga dificuldades de recebimento às empresas do setor”.
Oficina de pneus, AÇORES
“Haverá uma quebra generalizada do poder de compra. Logo, o volume de negócios será inferior, e a pressão sobre as margens será ainda maior”.
Oficina de mecânica, FARO
“Terão de encerrar pelo menos 80% das empresas para que seja rentável para quem se aguentar aberto”.
Oficina de mecânica, PORTO
“Regredimos 15 a 20 anos”
Oficina de mecânica, BEJA
“Nos meses seguintes haverá uma redução de cerca de 40%”.
Oficina de mecânica, CASTELO BRANCO
“O cliente vai alongar mais a manutenção e exigir sempre uma melhor higienização da viatura”.
Oficina de pneus, PORTO
“Haverá maior cuidado na higienização dos veículos, as oficinas irão estar dotadas de mais produtos de limpeza e desinfeção e a relação cliente-oficina irá mudar com novos conceitos e estratégias”.
Oficina de mecânica, COIMBRA
“É positiva pois permite-nos desenvolver novas soluções e maior organização”.
Oficina de mecânica, LEIRIA
“Este setor vai ter um impacto reduzido, uma vez que o automóvel vai continuar a ser um bem de primeira necessidade”.
Oficina de colisão, PORTO
“O impacto no imediato e a curto prazo na nossa área é gigante, sendo que é difícil ter noções a médio prazo, porque existem vários fatores a ter em consideração, sendo já um deles o aumento do desemprego, o que faz com que a reparação e manutenção da viatura passe para 2.º ou 3.º plano”.
Oficina de mecânica, LISBOA
“No imediato vai haver um decréscimo da atividade. A médio prazo vamos ter uma retoma gradual e acreditamos, que na reparação independente vai, seguramente, ser mais procurada novamente”.
Oficina de mecânica, AÇORES
“A curto e médio prazo vai levar à falência muitas oficinas, a longo prazo tudo voltará ao normal mas só dentro de uns 4 a 5 anos”.
Oficina de mecânica, LEIRIA
“A curto prazo haverá mais marcações não presenciais e o cuidado redobrado na higiene. A médio prazo, alguns hábitos irão mudar, mas o funcionamento deste setor, para pequenas empresas, manter-se-á”.
Oficina de pneus, LISBOA
“O lado positivo é que vem limpar muitas oficinas de “vão de escada” e outras boas mas mal geridas, que sobrevivem no fio da navalha. O lado negativo é que reduz muito o poder de compra, sobretudo nos particulares”.
Oficina de mecânica, LISBOA
“As consequências são evidentes, a ajuda do Estado em tudo isso é que irá posicionar o futuro do país. É provável que, devido à nossa cultura, o impacto seja grande nos primeiros meses, mas depois de estarmos tranquilos, voltará tudo ao quase normal. Mas irá sempre ficar a marca na economia e nos nossos bolsos”.