Tiago Domingos, da Auto Delta, indica à PÓS-VENDA como a empresa se está a preparar para futuro e quais as suas expetativas para a recuperação da pandemia.
Quais são os fatores / indicadores a ter em atenção na recuperação futura do negócio do aftermarket, na perspetiva do grossista de peças?
Como qualquer negócio de uma economia aberta como a nossa, a retoma geral da atividade económica e o aumento de rendimento das famílias e empresas é o ponto basilar. Olhando especificamente para o aftermarket, a falta de liquidez provocou uma quebra radical das reparações automóveis. Essa liquidez dos proprietários, sendo restabelecida, permitirá a retoma gradual de todos os níveis deste negócio. Assim, começando nos proprietários das viaturas e passando pelas oficinas e retalhistas, qualquer grossista, apostando em marcar a diferença, irá certamente entrar no caminho da recuperação do seu negócio através desse aumento gradual de liquidez.
Que medidas foram e estão a ser tomadas para se potenciarem as vendas neste momento?
Seguindo uma estratégia que se encontrava delineada antes de sermos assolados por esta pandemia, a Auto Delta tem procurado trabalhar cada vez mais a cooperação entre os elos da cadeia do aftermarket, seja procurando ligar marcas e retalhistas (como é exemplo o projecto Official Meyle Dealer) ou apostando no desenvolvimento de uma rede oficinal (CGA Car Service), em parceria com players locais. Esta estratégia, também suportada por campanhas comerciais exclusivas, tem como objetivo o crescimento global do mercado, procurando transmitir a todos os elos da cadeia as melhores práticas, serviços e produtos do aftermarket.
A digitalização do negócio, através de plataformas B2B (e não só) assume agora uma importância maior na relação com o vosso cliente?
Sem dúvida. Durante a vigência do estado de emergência, com a obrigatoriedade do teletrabalho, penso que todos ficámos ainda mais elucidados da importância da digitalização do negócio. As plataformas B2B foram fulcrais para a obtenção dos resultados que se verificaram, importando assinalar que, sem elas, esses teriam sido quase impossíveis de obter e a crise ainda seria mais severa. Mesmo na Auto Delta, tendo sido pioneiros na disponibilização deste tipo de plataformas no nosso país, verificámos que este é um âmbito cada vez mais importante da nossa relação com o cliente.
Qual a sua opinião sobre o futuro do negócio de peças em Portugal, tendo em conta os efeitos da pandemia? Consideram que se vai assistir nos próximos meses a uma enorme guerra de preços no mercado português?
Existirá naturalmente um ajustamento tendo em conta a obtenção de uma maior quota de mercado mas não nos parece que existirá uma clara “guerra de preços”. Em primeiro lugar, pela qualidade dos players e marcas instaladas no nosso país, que procuram na sua grande maioria disponibilizar um produto de qualidade e não centrado exclusivamente no fator preço. Depois, importa frisar que existe também um mercado cada vez mais instruído e ciente da importância que a montagem de produtos de qualidade tem no seu negócio. Por fim, importa frisar que poderá sim existir alguma concentração de players que estejam a passar por algumas dificuldades e que, assim, possam ser adquiridos ou absorvidos por outros com maior dimensão.
Em que ano poderemos atingir os níveis de faturação idênticos aos que o setor demonstrou em 2019?
Essa, neste momento, é a pergunta de um milhão de euros. Tendo sido esta crise provocada pelo aparecimento de uma pandemia, é importante salientar que, enquanto não existir uma vacina ou um tratamento eficaz para a Covid-19, poderá haver um novo surto. Esse novo surto poderá ser ainda mais dramático para a economia, fruto não só da forte contração económica que poderá advir de um novo confinamento mas também de um duro golpe na confiança de cada individuo, avesso a qualquer tipo de incerteza sobre o seu futuro.
Artigo publicado na Revista Pós-Venda n.º 58 de julho de 2020. Consulte aqui a edição.