A digitalização do setor das peças já não é propriamente uma novidade, mesmo se estivermos a falar de peças originais usadas ou peças verdes. Porém, ainda existe um caminho a percorrer, para que todos possam agarrar as oportunidades que existem.
Na recente convenção da ANCAV (Associação Nacional dos Centro de Abate de Veículos), a qual demos destaque na edição passada da revista PÓS-VENDA, foram abordados muito temas interessantes, sobre a dinâmica do mercado que está associada às peças verdes. Ficou evidente que ainda existe um longo caminho a percorrer, nomeadamente em termos legais, para que existe uma sã e leal concorrência na comercialização das peças usadas. Uma das apresentações dessa convenção da ANCAV foi de Daniel Dias, da Atena Software, empresa responsável pelo software que está instalado em muitos operadores de veículos em fim-de-vida, e que deixou alguns dados para análise e para reflexão muito interessantes, que tem tudo a ver com a digitalização das peças verdes.
No ano de 2020 o setor da reparação automóvel representou qualquer coisa como 1.845 milhões de euros, sendo que aproximadamente 60% foi consumo de peças, o que quer dizer que estamos a falar de um negócio que em Portugal representa 1.100 milhões de euros. “Se as peças verdes representarem 10% teremos estaremos a falar de um negócio muito interessante”, refere Daniel Dias. A idade média para abate dos veículos ronda os 23,5 anos, sendo que o parque circulante tem uma idade média de 13,5 anos. Será interessante perceber que82% dos veículos que circulam nas nossas estradas têm mais de 5 anos. “É importante estar atento a estes números no momento de comprar as viaturas”, adverte o responsável a Atena Software, deixando ainda outra reflexão “os veículos a combustão ainda vão ter um peso enorme. Se a partir de hoje não fosse vendido mais nenhum carro a combustão, só em 2035 e que teríamos mais veículos eletrificados a circular nas nossas estradas que veículos a combustão”.
Métricas Atena
O software ATENA é um ERP que gere de A a Z um centro de abate, ajudando em todos os processos de despoluição e desmantelamento do automóvel, sincronizando depois a informação das peças para canais de venda online. Num universo de 140 clientes (centros de abate VFV licenciados) existem neste momento cerca de um milhão e meio de peças catalogadas, sendo que cerca de 700.000 têm imagem e preço. “Se o objetivo das empresas VFV é vender a peça online, a mesma tem que estar bem catalogada, isto é, tem que ter uma imagem e um preço. Dizer que se tem uma peça em stock sem estar bem catalogada isso vale zero”, refere Daniel Dias. Segundos os dados da Atena 61% das vendas de peças verdes ainda são feitas em balcão, sendo que 39% são feitas via lojas online e Marketplace. “Seguramente que o valor das vendas online está a subir. Em 2019 representava apenas 19%”, refere o responsável da Atena Software.
Cerca de 36% das peças verdes comercializadas são de colisão, 25% mecânica, 21% baterias e 11% material de interior, sendo que o preço média da peça verde ronda os 71 Euros (em venda) e o valor da peça que se vende mais vezes é de 44 euros. Num contexto estritamente digital, cerca de 66% das vendas de peças verdes comercializadas têm um valor até 55 euros, sendo que 26% estão no intervalo entre os 50 euros e os 200 euros.
O tipo de cliente das peças verdes são 83% empresas e 17% particulares, “o que nos leva a concluir que o mercado das peças verdes é estritamente profissional pois estamos a falar de oficinas”, diz Daniel Dias.
O volume de peças devolvidas é de 6% (entre os cliente Atena), sendo que dentro dessa taxa de devolução 40% diz respeito a uma identificação errada da peça e 44% o facto de a peça estar danificada. Na sua apresentação, Daniel Dias focou-se ainda no tema da catalogação, incentivando os diferentes operadores de VFV da necessidade do fazerem corretamente, afirmando tratar-se de “um trabalho doloroso mas tem que se garantir que tem que ser bem feito. Só a correta catalogação permitirá que a peça exista e possa ser vendida”.
O responsável da Atena Software deixou ainda dados sobre a presença das empresas VFV no digital, através de lojas online ou no Marketplace, reforçando que o marketing digital traz às empresas uma série de vantagens, como chegar as novos mercados, o poder trabalhar com o google e o facto de aumentar a recorrência e a fidelização do cliente, sem esquecer a otimização de todo o processo administrativo na empresa.
Artigo publicado na REVISTA PÓS-VENDA 95, de agosto de 2023. Consulte aqui a edição.