A Associação de Defesa do Consumidor visitou várias casas de pneus de forma anónima para atestar a qualidade dos pneus usados. Os resultados são preocupantes. Fabricantes e retalhistas de pneus comentam o estudo.
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“Os pneus novos são mais segu- ros e rentáveis que os pneus usados”. A conclusão do estudo da DECO não deixa margem para dúvidas e põe em causa a venda de pneus usados. A Associação de Defesa do Consumidor coloca mesmo no estudo o nome das empresas em causa e que apresentavam falhas graves nos pneus que venderam aos técnicos da DECO. As visitas foram anónimas. “Dos 89 pneus usados comprados, 50 não deveriam ter sido vendidos já que apresentavam falhas que punham em causa a segurança e 23 estavam ilegais”, explica Alexandre Marvão, responsável pelo estudo da DECO.
Esta ação da DECO vem na sequência de uma procura crescente por pneus usados, muito por consequência da crise. Porém, há questões de segurança que têm que ser analisadas. Assim, o estudo revela que dos 89 pneus usados comprados, 18 deles apresentavam menos de 1,6 mm de profundidade de piso (mínimo legal para um pneu poder ser usado); 17 tinham mais de 10 anos; 11 eram pneus de Inverno, algo pouco comum e recomendável para um país com o clima português; e 5 tinham remendos laterais ou rasgões que colocam em causa a segurança do veículo. Além disso, nesta espécie de cliente-mistério que a DECO fez, em 11 situações foi obrigada a comprar um único pneu, por não haver um par igual para as dimensões procuradas. Em dois locais, os técnicos colocaram os pneus nas jantes e só então repararam que um deles estava furado, “o que é revelador de uma falta de triagem prévia”, alerta a DECO.
A Associação levanta uma questão importante: “em Portugal não existe regulamentação sobre a venda de pneus usados”, tal como acontece, por exemplo, no Reino Unido, onde os pneus usados aprovados têm de ostentar uma marca que os distinga dos novos, de modo a informar o consumidor. A somar a esta questão não há também legislação sobre a idade máxima destes produtos, mas os fabricantes e as associações da área automóvel consideram que a sua substituição deve ocorrer quando tiverem mais de 7 a 10 anos, adianta Alexandre Marvão. “Venderam-nos um conjunto de pneus de 1996, ou seja, com 19 anos, e verificámos que 17 tinham mais de 10 anos”.
A DECO mediu a profundidade do piso em todos e em diferentes pontos, “As medições na transversal mostraram vários pneus com um perfil oval, ao ponto de alguns nem se equilibrarem em pé”.
A Associação de Defesa do Consumidor lamenta que seja possível “encontrar qualquer produto que o comerciante considere apto para circular”. Mesmo quando, por vezes, os pneus têm a profundidade legal no piso, mas há aspetos que são invisíveis e que podem comprometer a segurança. A DECO concretiza esta questão da segurança alertando para a degradação das condições de travagem. “Segundo vários estudos, a distância de travagem pode aumentar cerca de 10 metros entre um pneu novo e outro com 1,6 mm de profundidade de piso, quando se circula a 80 km/h.”
NOVOS MAIS BARATOS?
A DECO tenta ainda desmistificar a questão do preço dos pneus usados, o único argumento de escolha para quem opta por esta solução. Contas feitas, os responsáveis da associação não têm dúvidas em afirmar que os pneus usados são mais caros do que os novos. Porquê? “Considerámos que os pneus novos são vendidos com cerca de 8 mm de profundidade de piso. Já nos usados, medimos 2,5 mm, em média. Com base nos preços médios encontrados para cada uma das três medidas compradas (175/65 R14, 195/65 R15 e 205/55 R16) tanto para pneus novos como para usados, realizámos os cálculos”. E a conclusão é clara: “Concluímos que os usados são menos rentáveis: cada milímetro útil tem um custo duas vezes superior ao de pneus novos (30,95 contra 15,05€). Para um pneu usado compensar financeiramente terá de ter 4,5 mm de profundidade de piso ou mais.” Fica por avaliar o ponto a partir do qual é mais rentável para os profissionais.
OPINIÃO
RICARDO MARTINS – DIRETOR DE MARKETING DA CONTINENTAL PNEUS PORTUGAL
Nos últimos tempos, um estudo da Associação Portuguesa de Defesa do Consumidor – a DECO – veio colocar na agenda mediática um tema que entre os profissionais do setor é recorrente – a falta de legislação, regulamentação e de controlo na importação e comercialização de pneus usados. Num mercado livre e concorrencial há, e sempre haverá, espaço para estes produtos. No entanto, seria importante a existência de regulamentação que defina os critérios e os procedimentos a adotar por quem atua neste segmento de mercado, de forma a garantir que quando estes equipamentos voltam a entrar no mercado reúnam as condições necessárias para garantir a segurança dos automobilistas. A Continental tem desde há largos anos uma posição muito clara sobre esta matéria. Tem inclusive disponí- vel em diversas plataformas um conjunto de recomendações sobre a utilização dos pneus usados, sobretudo aqueles que têm uma origem desconhecida ou duvidosa, uma vez que não é possível saber a que tipo de utilização e manutenção estiveram ex- postos, podendo os mesmos estar danificados a ponto de os tornar impróprios para uso. As recomendações da Continental sobre a utilização de pneus usados assentam em três vetores essenciais: Segurança, Rentabilidade e Sustentabilidade, todos eles já sobejamente explanados nas diversas peças jornalísticas que resultaram da divulgação do estudo. De que forma podemos resolver os problemas detetados e identificados pela DECO? A criação de regulamentação clara e objetiva para o setor, reforçada com fiscalização de forma a garantir a qualidade dos produtos que estão ao acesso dos consumidores e a segurança rodoviária dos mesmos, poderia ajudar. Mas, esta legislação e fiscalização deve ser também acompanhada por campanhas de sensibilização e de de esclarecimento junto dos consumidores para que estes estejam alerta para os riscos da aquisição de pneus usados e para o perigo que estes constituem em termos de segurança caso não reúnam as devidas condições.
OPINIÃO
CEPP – Comissão Especializada de Produtores de Pneus da ACAP
Este sempre foi um tema que preocupou a CEPP e por isso mesmo foi a sua primeira campanha lançada para o exterior “ Pneu usado de origem desconhecida pode ser arriscado”. Desde esse momento tem estado sempre presente em todas as outras companhas de sensibilização que temos efectuado e que são realizadas com contato direto ao consumidor. Para além da altura de piso que os pneus apresentam, existem fatores que não devemos esquecer e que condicionam em muito a Segurança Rodoviária como sejam as condições da borracha da banda de rola- mento, a forma de desgaste, deformações e agressões no flanco, reparações internas ou externas e estado de contaminação ou de envelhecimento dos flancos, entre outras. Os pneus usados têm também estado associados à fuga a impostos e taxas, como a taxa de reciclagem e entrada no país à margem de qualquer declaração de importação.
OPINIÃO
CERP – Comissão Especializada do Retalho de Pneus da ACAP
É com agrado que vemos que o tema dos “Pneus Usados” seja alvo de um estudo por parte de uma organização tão relevante e com peso na sociedade portuguesa como a DECO-PROTESTE. Sem dúvida que é um tema nacional, pois estamos a falar de segurança rodoviária que pode afetar qualquer pessoa, em qual- quer lugar e a qualquer momento.
A CERP (Comissão Especializada do Reta- lho dos Pneus) dentro da estrutura ACAP (Associação Automóvel de Portugal), há muito que se preocupa em promover que o comércio de pneus usados seja transpa- rente e regulado, para que todos os interve- nientes estejam satisfeitos.
Foi com essa premissa que entregamos há cerca de dois anos, no antigo IMTT, hoje IMT (Instituto da Mobilidade e dos Transportes), um projeto para regulamentar o setor dos pneus usados em Portugal, sendo pioneiro na Europa!
O projeto engloba controlo (maquinaria de testes), normas (rotulação), procedimentos a efetuar por parte das empresas (forma- ção) que operam este tipo de produtos, as- sim como a sua identificação (acreditação). Este é o caminho que nos move, um setor regulado, comprometido com a qualidade e principalmente amigo do ambiente…
O mundo do pneu não tem de ser negro!
Revimos o artigo da DECO-PROTESTE e consideramos que alguns assuntos ficaram por abordar ou foram abordados de uma forma menos completa, que passamos a referir:
– Pneus usados, que foram ressulcados ou aprofundados os rasgos do pneu.
Alguns comerciantes ávidos de lucro rápido, ressulcam os pneus (atividade contemplada nos pneus pesados, para os pneus devidamente identificados pelo fabricante – regroovable), para “enganar” os clientes mostrando que estão a fazer uma excelente compra!
Quantos pneus foram faturados?
Um dos maiores problemas dos pneus usados é o facto de não pagarem os respetivos impostos. Muitos destes produtos são importados sem qualquer documento e vendidos sem fatura, concorrendo de uma forma desonesta com outros atores e produtos do mercado.
Foram dadas ou referidas garantia dos pneus?
De acordo com a legislação portuguesa, todos os bens de consumo vendidos por profissionais a consumidores são alvo de garantia, no caso de bens usados, por acor- do escrito das partes, 1 ano.
O consumidor sabe?
Passados seis meses, algum destes revendedores aceita uma reclamação num pneu usado?
Como em tudo, há boas referências e boas práticas nesta área do setor dos pneus, efetuadas por gente de boa índole que por sua iniciativa e consciência toma todas as ações para que o seu cliente saia satisfeito, mas que infelizmente é absorvida por este mar desregulado, sem critérios e valores. A CERP-ACAP poderia ter ajudado neste estudo e até complementá-lo com mais informação ou com mais questões, pertinentes e relevantes, como por exemplo, quantas destas empresas que vendem pneus usados estão identificadas e cadastradas nas entidades fiscais.
Temos tido várias reuniões de trabalho, com trabalho árduo (muitas vezes sem resultados) e esperamos que a DECO se possa associar aos nossos projetos, pois estamos ao dispor para qualquer iniciativa que vise regulação e transparência do setor dos pneus. Se cada instituição ou organismo trabalhar, cada uma, para o seu lado será mais difícil o caminho…
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