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“O Lado B da repintura automóvel”, Opinião, Luciano Freixedelo

8 Setembro, 2021

Quando se aborda o tema da repintura automóvel, associamos de forma espontânea e  inconsciente a temas relacionados com tintas e/ou vernizes. No entanto, o mundo da repintura automóvel não se cinge apenas à “pistolada final”, pois existe todo um outro mundo a montante e até mesmo a jusante.

Na qualidade de responsável técnico e comercial do mercado automóvel português da Saint Gobain Abrasivos, lido diariamente com distribuidores e concorrentes na repintura automóvel de norte a sul do país – incluindo ilhas –  e também com preparadores, pintores e gerentes em dezenas e dezenas de concessionários e oficinas onde faço demonstrações e ensaios. No entanto, gostaria de frisar que é a título individual e não institucional que escrevo este artigo de opinião.

O mercado da repintura automóvel em Portugal sempre foi definido e orientado pelos fabricantes de tinta auto através das suas marcas. Os principais players têm normalmente duas ou três marcas no seu portfólio de forma a garantir uma abrangência nos vários nichos, que normalmente são definidos pelo preço/qualidade.

Diretamente, mas principalmente (ainda) através dos seus Distribuidores, os fabricantes de tintas disputam entre si de forma competitiva, os processos de adjudicação nos concursos anuais ou bi-anuais abertos pelos concessionários ou oficinas multimarcas.

Em Portugal, ao contrário de outros países europeus, os Distribuidores representantes das marcas de tinta monopolizam também a quase totalidade do negócio dos produtos acessórios – como produtos de lixagem, copos de pintura e mistura, fitas de mascaramento, material de isolamento, massas e boinas de polimento, EPI´s, etc. Cada Distribuidor está fidelizado exclusivamente a um fabricante de tinta – distribuindo uma ou todas as marcas do seu portfólio – mas raramente está fidelizado unicamente a um fabricante de produtos acessórios.

Até há poucos anos atrás, os Distribuidores, canalizavam praticamente todo o seu foco e atenção comercial ao negócio da tinta/verniz, relevando para segundo plano a questão dos produtos acessórios que completam o processo de repintura. Felizmente que esse paradigma tem vindo a mudar nos anos mais recentes.

Fruto de diversos fatores, como a era da digitalização que permitiu um acesso mais liberal e acessível a todos e de todos –  criando-se grupos virtuais de especialistas como o de pintores e preparadores que trocam ideias, mostram os seus trabalhos e pesquisam novos produtos e soluções –  os níveis de conhecimento e exigência têm vindo a aumentar e cada vez mais se dá importância a uma boa preparação da superfície antes da repintura da mesma. Os próprios concessionários e oficinas multimarcas, atualmente nos processos de adjudicação incluem nos cadernos de encargos os produtos acessórios como parte integrante do negócio.

Os Distribuidores, aqueles mais atentos ao mercado e às suas necessidades e expetativas, já assumiram uma postura de maior relevância e atenção para os produtos acessórios, apostando em ações de formação nos seus Centros de Formação. No último ano pelos menos 3 Distribuidores resolveram avançar com a construção de Centros de Formação próprios, não somente para aplicar em ações sobre aplicação de tintas e vernizes, como também para aprendizagem e aplicação de processos de lixagem, de chapa e de polimento.

No entanto, na minha opinião e face ao que verifico no terreno, deparo-me ainda por vezes com situações de ignorância técnica dos preparadores e pintores, aliada à uma gestão oficinal e de RH ainda retrograda e tradicionalista que leva a que muitas oficinas de colisão se limitem apenas a conhecer e recolher a informação de produtos e processos que seus os Distribuidores lhe apresentam. O que infelizmente nem sempre significa que seja o melhor para ambos, tanto em termos de solução técnica, como em termos de vantagem económica. E aqui é necessário analisar a questão sob duas perspetivas. A primeira é que o comercial do Distribuidor poderá ter a tendência para vender aquilo que lhe dá menos esforço vender, a segunda é que também ele não terá a formação ou conhecimentos para propor ou apresentar uma outra solução ao seu Cliente oficina.

Há ainda um longo caminho a percorrer no que diz respeito à importância dada por todos os intervenientes aos produtos acessórios – seja na formação técnica, seja na própria ética comercial que impeça canibalização de preços e esmagamento das margens.

Felizmente, hoje em dia verifico uma grande disponibilidade dos preparadores e pintores das oficinas e até dos próprios comerciais dos Distribuidores, em receber formação nos produtos acessórios que permita aos primeiros melhorar substancialmente a qualidade dos seus trabalhos com uma redução dos tempos de preparação antes da repintura e aos segundos terem argumentos e bases técnicas para aconselharem os seus Clientes de forma efetiva e não no conhecimento empírico do “achómetro”.

Uma maior sinergia, um sentido de parceria constante e confiante entre os Distribuidores e os fabricantes de produtos acessórios é algo que se tem vindo a materializar nos últimos 3 anos e que na minha opinião é a chave para conduzir a resultados de excelência.

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