Os efeitos económicos da pandemia de Covid-19 são algo sem precedentes e parece-me ser consensual que se por um lado ainda não se sabe qual o verdadeiro impacto desta crise na vida económica, por outro, nada vai ficar como dantes.
Existe sério risco de colapso de economia devido à situação que iremos enfrentar, sem qualquer comparação com as crises anteriores, com consequências nos nossos comportamentos, na redefinição do sistema de valores, no relacionamento com os outros e na nossa perspetiva para o futuro.
O impacto até agora foi, sem surpresa, diferente nos vários subsetores do automóvel representados pela ARAN. É nas vendas que está o grande impacto, com muitas empresas retalhistas a terem a necessidade recorrer ao lay-off parcial. O estudo realizado pela ARAN demonstra que no universo de 950 empresas contactadas, 50 % recorreram ao lay-off. Neste momento, o contacto presencial praticamente desapareceu e estão a ser utilizadas plataformas de venda digitais. Alguns destes processos poderão, depois da pandemia, passar de provisórios a definitivos, com ganhos de produtividade para as empresas de retalho automóvel.
Desenganemo-nos, porém! As vendas de automóveis novos vão ser a área que mais vai sofrer no pós-crise sanitária, dado que as “cicatrizes” económicas dos consumidores vão ser profundas. O incentivo à compra terá de ser uma realidade.
Ainda nas vendas, permito-me fazer especial referência ao comércio de usados. Embora este já tenha uma componente digital há vários anos, é um negócio com especificidades que tornam a intervenção humana mais premente. Nas atuais circunstâncias, após o levantamento de estado de emergência e com alguns setores a retomarem atividade, poderá existir uma procura de compra de carros usados para assegurar um transporte em segurança. Esse fenómeno está, de resto, a ocorrer na China, onde estudo de intenção de compra automóvel apontam para essa realidade, que se poderá manter pelo menos enquanto não houver vacina ou imunidade de grupo para o novo coronavírus.
No setor oficinal, que pôde continuar a laborar no estado de emergência, mas que, naturalmente, sentiu quebra, a resiliência impera com os empresários a recusarem-se a baixar os braços. Algumas empresas optaram pelo lay-off parcial e foram realizando trabalhos por marcação e outros já planeados, mantendo, sempre, o contacto com os clientes. Exemplo de planeamento é o caso de um associado que reforçou o stock de baterias, dado que quando os automóveis circulam menos aquele componente “sofre”. Resiliência é isto e é por isso que não tenho dúvidas que nas oficinas a queda será inferior à de outros subsetores automóvel.
Quanto aos pronto-socorro, sendo uma atividade essencial, as empresas continuam a trabalhar. No entanto, dado que há menos veículos nas estradas, também têm menos trabalho. O regresso será gradual.
Apoios no imediato e de longo prazo
O setor automóvel, tal como a generalidade das atividades económicas, preciso de fortes apoios, no futuro imediato e no médio e longo prazo. Os cortes nas receitas foram brutais e abruptos, pelo que toda a ajuda é pouca. Para já, a injeção de capital é urgente e, no futuro, o incentivo à compra de todo o tipo de viaturas parece-me a forma de permitir alguma recuperação a um setor que é essencial para o país em termos de receita fiscal e de criação de emprego.
No imediato, a ARAN, cumprindo o seu papel de sempre de estar ao lado dos associados, presta um apoio muito prático. Falamos diariamente com todos os associados para perceber as suas necessidades, dado que todos os departamentos da ARAN em plena laboração, mesmo que em teletrabalho. A cada dois dias, o departamento jurídico envia aos associados uma súmula a esclarecer as medidas do Governo. Somos, de igual modo, contactados pelos associados para dar indicações concretas. Em suma, estamos sempre atentos a todo o tipo de apoios que existem e publicamos informação sobre os mesmos no site e nas newsletter que enviamos aos associados.
Além disso fizemos, logo nos primeiros dias de crise pandémica, uma parceria com uma empresa de tintas que começou a produzir gel desinfetante e assumimos os custos do primeiro envio. Outro de vários exemplos concretos foi o termos encontrado um fornecedor de máscaras FPP2.
Como referi no início deste artigo, o setor está ainda a perceber o que pode acontecer no pós-Covid-19. Cerca de 30% das empresas ainda não recuperou da crise anterior e quem não tiver uma almofada financeira vai passar por dificuldades sérias. No meio de tanta imprevisibilidade, os empresários do setor sabem que há sempre algo com que podem contar: o apoio da ARAN. Continuamos e continuaremos a estudar soluções muito práticas para ajudar os associados e articular com as autoridades para o reconhecimento do esforço e resiliência do setor.