Conhecida pelo seu dinamismo e da oficina que representa, Sérgio Furtado, gerente da Auto Furtado (oficina com sede na Póvoa de Varzim), fala do impacto que o Covid-19 teve no seu negócio e, especialmente, sobre o impacto que irá ter no futuro. Uma entrevista pela ler com atenção.

Como empresário, sócio e gerente da Auto Furtado, como tem sido gerido este período e se há decréscimo no volume de negócios e qual a percentagem?
A gestão tem sido feita com um rigor e um esforço adicional por parte da Auto Furtado, pois desde que foi decretado o estado de emergência, houve um decréscimo na ordem dos 50% no volume do negócio da nossa empresa.

Contudo, pelo setor em que operamos, sentimos que temos uma grande responsabilidade nesta fase para com a sociedade, especialmente com aqueles clientes que estão na chamada “linha da frente” e é nosso dever garantir a sua mobilidade com o menor constrangimento possível.

Por outro lado, preocupamo-nos com os nossos colaboradores e em assegurar-lhes todas as condições de trabalho e segurança, porque são eles que fazem com que a nossa empresa opere nestes tempos difíceis.

Sem esquecer, claro, os 20 anos de presença no setor da reparação automóvel leva a que tenhamos uma responsabilidade acrescida com os nossos fornecedores e com a nossa região pois é nosso dever contribuir para que a economia ultrapasse esta situação o mais rápido possível e com o menor impacto possível.

Sobre os apoios que o Governo desmobilizou para acudir a esta situação, a empresa recorreu a algum mecanismo e se os mesmos são suficientes para ultrapassar esta fase?
Ainda não recorremos aos apoios previstos, pois começamos desde muito cedo a delinear um plano de viabilidade económico-financeiro até ao final deste ano. Esta gestão permite-nos olhar com algum distanciamento e antecipar alguns dos impactos que esta situação nos vai trazer ao invés de andarmos atrás do prejuízo.

Entendemos que os apoios têm uma finalidade positiva, mas a sua disponibilização não é tempestiva e poderão chegar tarde demais para algumas situações.

Há ainda que considerar o impacto desses apoios na gestão futura e que poderão levar a que a empresa subsista nesta fase e que mais tarde não resista, porque não é previsível que a atividade económica retome a 100% nos próximos meses após este confinamento.

Na atividade, na qual conta com vários funcionários, estão todos a trabalhar?
Felizmente a nossa equipa é bastante solidária e percebeu, desde logo, que esta pandemia é um problema de todos nós e mostrou flexibilidade para a rotatividade de férias entre os vários colaboradores, para a segurança de todos e para a saúde financeira da empresa. Desta forma, conseguimos ter duas equipas a laborar em períodos de 15 dias rotativos e, quando esta fase terminar, estarmos 100% operacionais para tentarmos minimizar este 2º trimestre que se prevê muito negativo e, também tentar manter todos os postos de trabalho atuais. Acresce ainda, em número mais reduzido, os colaboradores em sistema de teletrabalho.

A oficina automóvel é um dos setores que pode estar aberto. Que procedimentos os clientes encontram na Auto Furtado para repararem o seu automóvel?
Ainda antes do estado de emergência adotámos e comunicamos aos nossos clientes através das redes sociais e da nossa newsletter as medidas que estávamos a implementar, das quais gostaria de destacar: a limitação ao atendimento presencial dando primazia às marcações por via não presencial (telefone, sms, WhatsApp, website, email, redes sociais), serviço de entrega e levantamento ao domicílio nos concelhos de Póvoa de Varzim e Vila do Conde das viaturas dos clientes, possibilidade de pagamentos em diversos meios (TPA, TPA VISA, Transferência ou MBWay), desinfestação diária das nossas instalações através da aplicação dos mesmos produtos que são usados nas vias públicas, controlo diário do estado de saúde dos colaboradores disponibilizando aos mesmos máscaras, luvas de proteção, material desinfetante e viseiras e, as habituais proteções nas viaturas que sempre utilizamos.

Dispomos ainda de uma área de isolamento para o caso de surgir alguma situação em que seja necessário isolar algum elemento suspeito e que cumpre, todas as orientações emitidas pela DGS.

Na sua área de negócio, este tem sido também um período para readaptação e podem surgir novas oportunidades?
Sem dúvida. Em termos comerciais temos tido contactos de novos clientes, nomeadamente através da nossa presença nas redes sociais e do nosso website (uma aposta nos canais digitais que está agora a dar mais resultados que nunca).

No que diz respeito a questões operacionais, conseguimos aumentar a rentabilização do tempo de trabalho através das reuniões online, de novas formas de comprar material aos nossos fornecedores (lojas online ou comunicações por vídeo-chamada) e também, iniciar formações online para os nossos colaboradores uma vez que certos temas não necessitam da componente prática e consequente presença física

Como analisa o negócio e as relações empresariais pós pandemia?
Os negócios pós pandemia terão uma evolução lenta porque é natural que o receio da proximidade social e das pessoas voltarem a ter que passar por uma situação de confinamento permaneça durante algum tempo.

No setor da reparação automóvel perspetivo a continuação de certas medidas que adotámos, pelo receio da proximidade nas relações empresariais. Mas vejo também com algum otimismo que poderemos retomar mais rapidamente a nossa atividade do que outros setores, porque nos dias de hoje a mobilidade é essencial para a população em geral e, além disso, no período pós pandemia, pelo receio da proximidade, a população irá privilegiar o uso da viatura particular em detrimento dos transportes públicos.

Perspetivo ainda, a possibilidade de expandir o negócio da Auto Furtado para outras áreas relacionadas com o setor automóvel e a nível pessoal, noutras áreas onde poderão surgir novas oportunidades de negócio.