O mais recente relatório do Observatório Indicata revela que o mercado europeu de veículos usados se mantém globalmente estável, apesar de diferenças regionais.
De acordo com o Indicata, a procura continua robusta na Europa Ocidental, enquanto alguns mercados da Europa Central e do Sul mostram sinais de arrefecimento, penalizados por taxas de juro elevadas e perda de poder de compra.
Depois de dois anos de fortes ajustamentos, os preços estabilizaram na maioria dos países, com outubro a apresentar uma tendência globalmente estável. Modelos mais comuns registam ligeiras correções, enquanto viaturas recentes e bem equipadas mantêm melhor o seu valor. Espanha e Suécia poderão ainda sofrer ajustes adicionais nos próximos meses à medida que os preços normalizam após o pico inflacionista.
A escassez de usados com menos de dois anos continua a marcar o mercado, consequência dos baixos registos de novos entre 2020 e 2023 e da retenção prolongada de frotas. Veículos com três a quatro anos consolidam-se como os mais procurados, enquanto viaturas com mais de cinco anos ganham peso num parque automóvel europeu cada vez mais envelhecido. Em cidades com restrições ambientais mais rigorosas, a rotação destes usados mais antigos começa a abrandar.
No combustível, a gasolina mantém forte atratividade e o diesel revela resiliência acima do esperado no Norte e Leste da Europa, apoiado por adiamentos e suavizações de zonas de baixas emissões em cidades como Berlim e Estocolmo.
Elétricos
As motorizações híbridas continuam a crescer, mas os veículos 100% elétricos enfrentam desafios acrescidos, com volumes em alta e valores em baixa, pressionados por fortes descontos no mercado de novos e pela incerteza sobre baterias e valor de revenda. Em países como Reino Unido e Países Baixos, esta pressão já se reflete nos usados. Os dados de Market Day’s Supply mostram um mix competitivo.
Volkswagen Golf, T-ROC e Peugeot 208 lideram as vendas de modelos até quatro anos, enquanto Tesla Model Y, Model 3 e MG 5 surgem como os mais rápidos a sair do stock, com MDS próximo ou abaixo de 35 dias em algumas motorizações. No segmento híbrido e elétrico, destacam-se ainda BYD Seal U e Lynk & Co 01, confirmando o papel crescente das marcas chinesas no mercado de usados. Em termos de preços, a maioria dos grandes mercados europeus mantém níveis modestamente acima de janeiro de 2020, com aumentos acumulados de 8 a 11 pontos percentuais em países como Espanha, Polónia e Itália, enquanto mercados nórdicos como Finlândia e Noruega registam recuos face ao pico pós-pandemia. A Turquia continua um outlier, com uma subida superior a 300 pontos percentuais no mesmo período.
O segmento de veículos comerciais ligeiros mantém procura firme, sustentada por empresas de entregas, profissionais e autarquias, com rotação elevada e preços estáveis, sobretudo nos diesel mais recentes. A eletrificação neste segmento permanece lenta, dependente de incentivos e de infraestruturas de carregamento dedicadas a frotas. Andy Shield, Diretor Global do Indicata, afirma que “após anos de volatilidade intensa, o mercado europeu de usados entrou numa fase de estabilização, mas com assimetrias evidentes. Enquanto os modelos térmicos e híbridos mantêm procura sólida e rotação previsível, os veículos elétricos enfrentam um ajustamento estrutural marcado por excesso de oferta e pressão nos valores residuais. A escassez de usados recentes continua a condicionar a dinâmica do mercado, ao mesmo tempo que o parque automóvel europeu envelhece e as restrições urbanas criam bolsas regionais de procura muito específicas. O próximo semestre será decisivo para perceber se os elétricos conseguem estabilizar ou se a correção se prolongará.”
