A Michelin anunciou, hoje, aos 1254 empregados das fábricas de Cholet e de Vannes, a sua intenção de encerrar a respetiva produção, o mais tardar, até ao início de 2026. Ambas as fábricas enfrentam, há vários anos, graves dificuldades económicas.
Apesar do notável empenho das equipas, e dos esforços do Grupo, não foi possível preservar a viabilidade das duas fábricas. Os dois centros viram-se gravemente afetados pela transformação estrutural dos mercados de pneus para automóveis e furgões, e de pneus para camiões, assim como pela deterioração da competitividade da Europa, especialmente devido à inflação e ao aumento dos preços da energia. Esta decisão foi tomada como último recurso, uma vez que foram analisados e avaliados todas as soluções e cenários alternativos.
Nos últimos anos, os mercados europeus de pneus para turismos e furgões, e para camiões, sofreram o forte impacto de uma profunda transformação, com uma forte tendência para os pneus de baixo custo, provenientes, principalmente, da Ásia, que foi prejudicial para os segmentos premium. De facto, ao longo de uma década, a quota de mercado dos pneus de entrada de gama para turismos e furgões, e para camiões, aumentou em 9 e 11 pontos, respetivamente, retirando quota aos segmentos premium correspondentes, que caíram 11 e 8 pontos (Fonte: Roland Berger: maio de 2023, para pneus para camiões, e junho de 2024, para pneus para turismos e furgões). Esta situação levou a um excesso de capacidade de produção estrutural em algumas das fábricas de pneus para automóveis de passageiros e furgões, e para camiões, da Michelin na Europa.
Consciente das consequências da sua decisão, o Grupo compromete-se a mobilizar todos os recursos disponíveis para apoiar individualmente os 1254 empregados, e as duas comunidades, afetados por estes encerramentos.
O Grupo Michelin inscreverá uma provisão de, aproximadamente, 330 milhões de euros nos seus resultados financeiros consolidados para o ano de 2024.
Primeiro compromisso do Grupo: soluções personalizadas para apoiar cada empregado afetado
Consciente das consequências desta decisão, a prioridade do Grupo, agora, é proporcionar apoio individual a cada uno dos empregados afetados, para ajudá-los a construir um novo futuro para a sua carreira.
Neste momento, a Michelin tomou a decisão voluntária de suspender a produção em ambas as fábricas até 11 de novembro, para dar tempo à direção e aos sindicatos de proporem discussões coletivas e individuais com os empregados. O objetivo é estabelecer um sistema de apoio aos empregados, que garanta assistência imediatamente após o anúncio.
No âmbito da consulta aos órgãos de representação dos trabalhadores, e das negociações sindicais relativas às medidas de apoio, a direção estabeleceu o objetivo claro de que, no final da fase de apoio, cada empregado disponha de uma solução personalizada.
Medidas de apoio reforçadas e adaptadas
Todos os empregados afetados disporão de um apoio individual, para ajudá-los a construir um novo futuro:
– Alguns serão elegíveis para a reforma antecipada
– Outros poderão optar por um acompanhamento no sentido de transferências internas
– Por último, para aqueles que podem optar por medidas de recolocação, o que deverá ser o caso de uma grande maioria dos empregados:
1 – Apoio individual e personalizado aos empregados será proporcionado por uma consultoria especializada, garantindo uma solução fiável para o regresso ao trabalho; juntamente com uma análise em profundidade da empregabilidade dos empregados: formação contínua e cursos de formação personalizados, possibilidade de reconversão
2 – Para criar as melhores condições possíveis para facilitar a entrada num novo posto externo:
2A – Possibilidade de um apoio contínuo após o período de experiência com um novo empregador, caso o posto não seja confirmado;
2B – Compensação, por eventuais perdas remuneratórias, de até 400 euros brutos por mês durante três anos.
Será negociada uma comissão paritária para supervisionar o plano de apoio, por forma a que os sindicatos e a direção possam garantir, conjuntamente, o bom funcionamento do plano para cada um dos empregados afetados.
Uma abordagem que tem em conta o contexto dos dois centros
A abordagem também tem em conta as sólidas competências da mão-de-obra, e as especificidades das fábricas de Cholet e de Vannes. Em particular, no que respeita às pessoas: conhecimentos técnicos da indústria muito procurados, uma grande maioria operadores de produção, frequentemente com fortes vínculos com a sua região, poucos trabalhadores em final de carreira. E, no que diz respeito às comunidades, mercados de trabalho bastante dinâmicos.
O segundo compromisso do Grupo com as comunidades de Cholet e de Vannes: contribuir ativamente para a criação de, pelo menos, o mesmo número de postos de trabalho, do mesmo tipo, a nível local
O Michelin mobilizará toda a experiência da Michelin Desenvolvimento, a sua entidade dedicada à criação de empresas e de postos de trabalho, para apoiar a revitalização dos mercados laborais de Cholet e de Vannes. A Michelin Desenvolvimento analisará as oportunidades para futuras operações de fabricação, ou baseadas em serviços, em concertação com os decisores locais, e com parceiros de desenvolvimento económico no território. Estas oportunidades serão avaliadas à luz das estratégias de desenvolvimento das comunidades locais.
As ações de revitalização terão como propósito desenvolver atividades que gerem empregos orientados para o futuro, em benefício das comunidades afetadas, principalmente no sector da indústria, e dos serviços destinados à indústria.
As experiências de revitalização precedentes monstram que a criação real de empregos supera o número de empregos afetados pelo encerramento de fábricas. No mercado laboral de Joué-Les-Tours, em quatro anos, foram criados 1054 postos de trabalho, para 706 postos de trabalho suprimidos. No mercado laboral de La Roche-sur-Yon, ao longo de quatro anos, foram criados mais de 635 postos de trabalho, para 613 postos de trabalho suprimidos, com um potencial para alcançar 825 criações de emprego, tendo em conta o acordo de revitalização assinado, mas que ainda não foi ativado.
França é um país nuclear e estratégico para o Grupo
França é um país central e estratégico para a Michelin, onde se encontra a sua sede mundial, em Clermont-Ferrand, e o seu centro mundial de investigação e desenvolvimento, no Campus de Ladoux, onde, diariamente, cerca de 3000 investigadores internacionais desenvolvem os próximos avanços tecnológicos em compósitos (materiais compostos), para servir novos mercados em todo o mundo. Com quase 2000 novas contratações, e mais de 2000 postos de aprendizes e estagiários nos últimos três anos, a Michelin é um protagonista em termos de contratação e aprendizagem.
Relativamente à fabricação, a Michelin participou ativamente na modernização dos seus centros de produção, sempre que foi possível, de modo a orientá-los para atividades de ultra alto valor agregado, consolidando, assim, os seus centros de produção no país.
De entre todos os fabricantes de pneus europeus, a Michelin é o único que manteve uma tão forte presença industrial na Europa Ocidental, especialmente em França. O Grupo Michelin emprega, atualmente, quase 19 000 pessoas em França, incluindo 9000 na produção, em 15 fábricas. Mesmo com o encerramento da produção de Cholet e de Vannes, França continuará a ser o primeiro país industrial do Grupo na Europa, tanto em número de fábricas, como de empregados.
França é o país onde o Grupo está a implementar de forma mais concreta a sua estratégia Michelin in Motion 2030, posicionando um amplo leque de atividades de ultraelevado valor acrescentado no país
– Fabrico de pneus de alta tecnologia, grandes e especiais (pneus para aviões, agrícolas, de ultraelevada performance para automóveis de passageiros, e para mineração)
– Aceleração do desenvolvimento das atividades da Michelin em soluções conectadas para a gestão de frotas, através de novos negócios, como o Watèa by Michelin.
– Desenvolvimento de novos negócios de materiais compostos. Estas atividades não relacionadas com os pneus estão a tirar partido de mercados dinâmicos tão variados como a construção, a aeronáutica, o sector marítimo e os cuidados de saúde. Representam uma parte importante das receitas, e do crescimento, do Grupo nos próximos anos. Em França, foram levadas a cabo várias primeiras implementações concretas:
1 – Em sistemas integrados de hidrogénio, com a Symbio. Em 2023, o Grupo e os seus parceiros abriram uma nova giga-fábrica, em Saint Fons, o maior centro de fabrico de pilhas de combustível de hidrogénio da Europa, e estão a ser criadas várias centenas de novos postos de trabalho;
2 – No desenvolvimento de soluções insufláveis inovadoras, com a Michelin Inflatable Solutions
3 – Na produção de novas resinas adesivas de origem biológica, que respeitam tanto a saúde como o meio ambiente, com a Michelin ResiCare.
Michelin prossegue os seus grandes esforços e continua a investir em França
Nos últimos 10 anos, a Michelin investiu mais de 2600 milhões de euros em França, dos quais 1500 milhões para modernizar os centros de produção, nas seguintes áreas:
Modernização e digitalização (renovação de linhas de produção, uso de inteligência artificial, etc.).
Política ambiental ambiciosa (descarbonização das fábricas, política de conservação da água, gestão de resíduos, etc.).
Formação contínua e qualidade de vida laboral (lançamento do Talent Campus, acordos de qualidade de vida laboral, ergonomia dos postos de trabalho, etc.).
Por último, em Clermont-Ferrand, o Grupo comprometeu-se com as partes interessadas locais a colocar em marcha um dos maiores projetos de revitalização da Europa: o Parc Cataroux, no antigo centro de produção de Cataroux da Michelin. Este projeto sem precedentes, de 300 milhões de euros, que combina investimento privado e público, poderá conduzir à criação de 1000 novos postos de trabalho até 2030, especificamente na formação de última geração para a indústria, e nos biomateriais do futuro.
Diálogo social e olhar para o futuro: projeto “Michelin France Manufacturing 2030”
A ambição da Michelin é construir uma forte e sólida indústria em França. Como tal, a empresa continuará a trabalhar para alcançar esse desiderato. É por isso que a Michelin vai propor às organizações sindicais trabalhar na criação das condições que permitam às suas fábricas, e aos seus empregados, em França projetarem-se melhor para o futuro.
O Grupo está convicto de que, com o projeto “Michelin France Manufacturing 2030”, através do trabalho coletivo, e da co-construção com os sindicatos, fará emergir elementos para o desenvolvimento das competências e dos percursos profissionais, da organização do trabalho, e da competitividade dos centros – especialmente os de pequena dimensão –, e definirá um nível mínimo de proteção e apoio para os empregados, no caso de ser necessário deslocalizar as atividades, com o intuito de ajudar a preparar o futuro da Michelin, e o dos seus empregados, em França.
Sobre a fábrica da Michelin em Cholet
A fábrica de Cholet, que emprega 955 pessoas, fabrica, principalmente, pneus para furgões, de 17 polegadas e mais pequenos. Estes produtos representam 85% das suas operações. A fábrica também conta cm uma oficina de produtos semielaborados (principalmente compostos de borracha).
Nos últimos anos, o segmento de furgões sofreu uma contração significativa na Europa, com grande impacto nos volumes de produção da fábrica de Cholet, que caíram de cerca de 4375 milhões de unidades em 2019, para aproximadamente 2625 milhões em 2024, sem perspetivas de recuperação.
Sobre a fábrica da Michelin em Vannes
A fábrica de Vannes, que emprega 299 personas, produz, principalmente, reforços metálicos, ou seja, cabos, e encarrega-se de todas as etapas do processo de fabrico. A sua produção é utilizada para fabricar pneus para camiões e turismos em instalações de clientes da Michelin situadas em Espanha, em Itália e no resto de Europa.
Nos últimos anos, os volumes de produção na fábrica de Vannes diminuíram continuadamente, especialmente devido às alterações na procura das fábricas de pneus para camiões do Grupo na Europa. A produção passou de 41 000 toneladas em 2019 para 34 000 toneladas previstas para 2024, uma tendência sem perspetivas de recuperação.