O terceiro painel do Fórum DPAI/ACAP, moderado por Frederico Abecassis, da Hella, e Hélder Pereira, da Mann Hummel, teve como mote: “IAM/OES – integração e evolução do mercado”.
Frederico Abecassis fez uma breve análise da situação geopolítica mundial, a dimensão, dinâmicas e tendências do aftermarket, e a relação atual entre o setor OES e IAM, indicando que as tendências da situação geopolítica mundial, com tensões entre alguns países, as pressões sobre preços de custo, cada vez maiores, a crescente complexidade das peças, o aparecimento de novos mercados e concorrentes, com grandes alterações no mercado e onde surgem novos players, como a China, estão a ter um grande impacto no negócio automóvel. “A Ásia passará rapidamente a produzir 60% do volume mundial de veículos ligeiros. Por sua vez, o Japão está a produzir 25 milhões de veículos, 70% dos quais comercializados no mercado asiático, o mercado que mais cresce atualmente. A índia produz 3 milhões de veículos por ano e tem como objetivo chegar aos 7 milhões até 20230. Com isto, a indústria europeia sai fragilizada, com cortes ao nível da produção e do número de trabalhadores”.
Questionando os presentes sobre se a fronteira entre o negócio OES e IAM irá desaparecer, Frederico Abecassis apresentou alguns dados sobre a evolução do mercado das peças a nível mundial. “Prevê-se que o IAM cresça e que 40% do volume de negócios do aftermarket esteja na Ásia. Além disso, os concessionários estão cada vez mais focados na venda de serviços e peças em vez de veículos novos. Outro fator que traz alterações ao mercado é a proliferacao de marcas de veiculos asiaticos e a eletrificação do parque, o que traz novos desafios ao portfólio de peças e marcas oferecidas pelo IAM”. Indicou ainda outros aspetos, como o surgimento de grandes gupos OEM, “com novas abordagens ao mercado das peças e que criam marcas e conceitos próprios, como a Mopar, do Grupo Stellantis, por exemplo. Esta criação de marcas próprias, que equipam de origem as várias marcas de automóveis que detém poderá aproximar o OES do IAM, pois o fabricante será também o detentor de uma marca de peças multimarca”.
Frederico Abecassis deixou a questão à audiência: “As marcas de equipamento original nas oficinas independentes são uma tendência, mas será que as peças aftermarket nos concessionários de marca também serão? Isto porque os concessionários de marca, hoje em dia, são também oficinas multimarca. Porque não vendermos as peças IAM nas oficinas de concessionários multimarca. Isto é algo que já acontece com os equipamentos. Além disso, têm vindo também a ser desenvolvidos conceitos de oficina multimarca, mais uma forma de as marcas entrarem no mercado IAM, como Distrigo, Motrio, etc. O IAM é um mercado muito apetecível, e os fabricantes estão a olhar para este setor de um prisma diferente, tendo cada vez mais interesse neste mercado. Coloca-se também a estratégia de aquisição, por parte das marcas, do know-how a nível de distribuição indepedente, com a aquisição de grandes distribuidores de peças.
A mesa redonda que se seguiu debateu se continuará a existir uma distinção entre o OS e o IAM.
Pedro Proença, da Create Business, encara como uma oportunidade o facto de, sendo especialistas no IAM, existir a tendência de haver uma infiltração das duas áreas num só mercado, “Há alguns anos, tomámos a decisão de nos focarmos naquilo em que somos especialistas, e, pelo facto de querermos a nossa distribuição mais organizada, tomámos a decisão estratégica de deixar de trabalhar tudo o que tivesse a ver com OES e de nos focarmos nas peças IAM. Somos especialistas na forma de trabalhar no IAM e isto tem funcionado, pois foi decidido numa determinado contexto de mercado, que atualmente se está a alterar, e isso poderá ser um desafio. O nosso objetivo é darmos o melhor serviço ao cliente”.
O responsável lembrou que, a complexidade que existia ao nível de stock das várias marcas, dificultava que este tipo de empresas desse resposta a 100% ao cliente. “Quando tudo isto se converte numa única marca, poderá ser alterado o paradigma, se realmente essa marca conseguir chegar e comunicar com o consumidor. É preciso pensar como vai chegar e ser vendida ao consumidor. E para tudo isso é preciso também ter uma grande capacidade de investimento”.
Por parte da Ayvens, Jorge Pereira afirmou que, enquanto gestora de frota, a empresa não tinha, há alguns anos, por estratégia, praticamente nenhuma relação com as oficinas independentes. “No entanto, já olhávamos para os reparadores independentes como uma oportunidade, porque o que queremos é prestar um serviço de qualidade e rápido ao nosso cliente. E nós, quer seja com marca, quer seja com multimarca, queremos prestar este serviço da melhor forma. Há alguns anos não havia oferta, nas marcas, em certas regiões, e isto levou-nos a ter de procurar outras soluções, para que o veículo não tivesse de ser deslocado, principalmente em serviços de menor dimensão, e os reparadores independentes foram aqui uma solução”.
Sobre a cada vez maior quantidade de marcas novas no mercado, o responsável afirmou que é uma realidade que irá levar a que seja preciso arranjar soluções alternativas. “É um desafio. Hoje em dia existem problemas complexos com peças muito simples. Vamos ter de nos alinhar com aquilo que o mercado tiver para oferecer, porque temos de continuar a prestar serviço de excelência ao nosso cliente. O cliente exige-nos qualidade, por isso a questão da peça OES ou IAM não se coloca, desde que exista a peça, com qualidade, rapidez e ao melhor preço. Porque, se antes havia apenas a questão do preço do serviço, hoje em dia as imobilizações representam um custo muito superior. A prestação de serviços é o que nos norteia e vai continuar a ser assim”.
António Coutinho, Presidente da Divisão de Retalho Automóvel da ACAP e CEO da MCoutinho, seguiu a mesma linha de pensamento, explicando que a orientação da empresa passa por servir os seus clientes da melhor forma e, por isso, serem concessionários, reparadores independentes ou casas de retalho, o importante será satisfazer o cliente. A nossa estratégia passa por isso e, nesse sentido, há 15 anos decidimos também disponibilizar produtos para as oficinas de reparação multimarca, com a AZ Auto. Estamos dois mundos, no negócio no seu todo”.
Respondendo à questão se o facto do surgimento das marcas de segunda linha dos OES irão impactar a gestão do negócio da MCoutinho, António Coutinho explicou que a dificuldade não é a quantidade de marcas, mas sim conseguir entender o cliente. “As marcas ainda não conseguiram perceber o cliente. O reparador independente é um cliente exigente, onde a logística é fundamental. Não vale a pena ser grande e ter muitas marcas, e segundas linhas de produto, se não conseguirmos chegar ao reparador, que precisa da peça naquele momento e que não faz stock. É isso que as marcas têm para aprender e que ainda não perceberam sobre o negocio aftermarket. O mundo das oficinas independentes é diferente dos concessionários, é um mundo de maior rapidez. O aftermarket vai muito à frente das marcas no que se refere à logística”, concluindo, assim, que essa “ameaça” das marcas no IAM não é um problema.
Sobre a estratégia futura da MCoutinho para fazer face aos desafios do mercado, António Coutinho reforçou que a empresa vai continuar a utilizar os mesmos processos e logística. Vamos continuar a estar onde o cliente necessita. Não vale a pena andarmos à frente do mercado, temos de perceber o que o cliente precisa e agir de acordo”.