Depois das oficinas e do cliente, a PÓS-VENDA realizou um novo inquérito, desta feita aos retalhistas de peças, onde se apresentam dados da atividade no período de emergência / calamidade, mas também sobre o seu futuro.
TEXTO PAULO HOMEM E NÁDIA CONCEIÇÃO
Depois de termos constatado no inquérito da edição 56 da revista PÓS-VENDA, realizado às oficinas, que as mesmas mantinham a sua confiança quanto ao futuro da atividade, também neste inquérito se pode tirar como conclusões que a tão falada “resiliência” do setor é mesmo uma verdade.
As casas de peças aproveitaram o facto de o governo ter entendido manter em aberto as atividades relacionadas com a manutenção e reparação automóvel e, por isso, na sua grande maioria mantiveram abertas e em pleno funcionamento.
É certo que reduziram horários e reduziram pessoal, mas não fecharam, demonstrando que também elas queriam apoiar o mercado. Aliás, mesmo as que temporariamente decidiram encerrar, rapidamente voltaram a abrir (até porque a concorrência não fechou). Tal como na maioria das oficinas, também a atividade das casas de peças (que dependente das oficinas estarem a funcionar) ressentiu-se muito neste período de pandemia. Mais de 71% tiveram uma redução da atividade entre 25% e 75%, mas mesmo assim houve casas de peças (16%) que tiveram uma redução de atividade inferior a 25% face a um mês normal de atividade.
Da análise dos dados que vos trazemos nas próximas páginas, de onde poderá e deverá retirar muita informação pode, por exemplo, observar-se que o telefone continua a ser de longe o meio mais usado para a casas de peças se relacionar com a oficina, mas que existe muito interesse por parte dos retalhistas em investir na área digital, nomeadamente em plataformas B2B e em redes sociais.
A distribuição logística (as tão famosas “entregas”) para a oficina, podem ser cadavez mais importantes. Tendo em conta as regras do distanciamento social, no futuro o cliente oficinal poderá ir cada vez menos à oficina, embora isso seja já uma tendência implementada até por certos retalhistas de peças.
No final deste inquérito deixamos ainda um vasto conjunto de opiniões dos responsáveis
de diversas casas de peças (não divulgamos nem o nome do responsável nem o nome da casa de peças) que permitem completar este trabalho. A todos os retalhistas de peças que contribuíram para este trabalho, que foi idealizado a pensar neste mercado, a equipa da revista PÓS-VENDA agradece as respostas e colaboração.
CARACTERIZAÇÃO DAS RESPOSTAS AO INQUÉRITO
Das 98 casas de peças que responderam quase 30% das respostas vieram de Lisboa
e Porto, existindo uma relação direta entre o número de casas de peças que existem por
distrito e as respostas (em percentagem) a este questionário. Mais de 50% dos retalhistas
que responderam a este inquérito têm apenas um balcão / loja, sendo a segunda maior fatia (27,3%) a que corresponde os retalhistas com dois balcões.
A maioria dos retalhistas de peças (mais de 36%) têm até cinco funcionários, mas logo a seguir aparecem os retalhistas que têm mais de 21 funcionários (23,5%).
Um dos pontos fortes das respostas é, não só, as quase 100 respostas, mas também a fiabilidade dos dados e a sua relação com a caracterização do mercado.
COMPORTAMENTO DO RETALHO DE PEÇAS DURANTE O ESTADO DE EMERGÊNCIA / CALAMIDADE
Apenas 6% das casas de peças fecharam as suas instalações, todas elas nos distritos onde existe mais “concorrência”.
De uma forma geral, atendendo ao forte abrandamento da atividade de reparação, 50% das casas de peças reduziram o seu horário de funcionamento, sendo que mais de 60% colocaram funcionários em lay-off.
Nessa fase de Estado de Emergência / Calamidade, praticamente todas as casas de peças que mantiveram os balcões em funcionamento receberam clientes presencialmente, mas a presença dos mecânicos no balcão conheceu uma fortíssima quebra na generalidade das casas de peças, o que é compreensível devido às regras do distanciamento social. Outro dado que confirma os resultados obtidos com o inquérito que realizamos às oficinas na edição 56, é que existiu dificuldades no abastecimento de peças também por parte dos fornecedores das casas de peças.
Curiosamente, 67,7% das casas de peças refere que não obteve, durante este período do Estado de Emergência / Calamidade qualquer tipo de apoio por parte do fornecedor, mas mesmo assim, mais de 28% confessa ter recebido algum apoio.
INICIATIVAS DURANTE O ESTADO DE EMERGÊNCIA / CALAMIDADE
Cerca de 33% das casas de peças aproveitaram o forte abrandamento da atividade, causado por
esta pandemia, para dinamizar ações de formação internamente, isto é, valorizaram os seus recursos humanos. Atendendo que grande parte da formação dada às oficinas é presencial, mesmo assim ainda houve casas de peças (13%) que apostaram em realizar ações de formação para os seus clientes, muito possivelmente recorrendo a plataformas digitais.
Um dos dados mais importantes deste inquérito revela que face a um mês normal de serviço, mais de metade das casas de peças tiveram uma redução da sua atividade entre os 25% e os 50%.
Mais de 16% das casas de peças revelaram que a redução da sua atividade nesta fase em que decorreu o Estado de Emergência / Calamidade foi inferior a 25%, o que se pode considerar uma boa performance. Refira-se que não existe qualquer relação entre a região geográfica das casas de peças e a redução da atividade, pois ela sucedeu de uma forma generalizada de norte a sul, seja no interior ou no litoral.
Outro dado que confirma os resultados obtidos com o inquérito que realizamos às oficinas na edição 56 é que também as casas de peças continuaram a apostar fortemente no telefone para se relacionaram com os clientes (mais de 80%) e que os meios digitais foram pouco usados (e continuam a ser pouco usados).
EFEITOS DA PANDEMIA
Apesar de mais de 80% das casas de peças continuarem a utilizar o telefone para falarem com as oficinas, quase 47% das casas de peças que responderam a este inquérito afirmam que essa relação vai ser cada vez mais digital, aliás dando continuidade a um processo que já se iniciou no passado. Mesmo assim, a maioria ainda diz que a relação casas de peças / oficinas não vai sofrer qualquer alteração nos próximos tempos.
Porém, quase 68% das casas de peças refere neste inquérito que vai investir mais na área digital para atrair clientes.
Quando questionadas as casas de peças sobre a área do digital em que vão investir, as plataformas B2B e as redes sociais ganham um grande destaque. Relativamente a outras estratégias para dinamizar as vendas, não deixa de ser curioso e lógico que a mais apontada prende-se com a questão da fidelização.
O FUTURO DO RETALHO DE PEÇAS E DA ATIVIDADE OFICINAL
Cerca de 41% das casas de peças dizem que no futuro, por causa também do distanciamento social, a distribuição logística de peças na oficina assumirá maior importância da que já tem atualmente. Contudo, mais de 60% das casas de peças refere que as vendas em balcão se irão manter, enquanto perto 37% já considera que se irão reduzir (o que não deixa de ser significativo face à tendência que já existe no mercado).
Um dado muito importante, também ele revelador da tendência que já exista, é o que diz que as casas de peças consideram (mais de 58%) que, no futuro, os grossistas de peças e as marcas vão ter uma maior proximidade às oficinas.
Por último, refira-se que existe um grande optimismo das casas de peças face ao futuro da atividade oficinal. Mais de 57% das casas de peças acha que durante 2021, o negócio oficinal vai retomar a sua atividade normal.
FICHA TÉCNICA
O Inquérito às casas de peças, da responsabilidade da revista PÓS-VENDA, realizou-se durante 3 semanas (de 3 de junho a 23 de junho 2020), através de um formulário online, constituído por 20 perguntas, às quais responderem 98 empresas, representando todos os distritos e regiões autónomas de Portugal. Dados pessoais não foram pedidos, sendo que os dados recolhidos serviram, única e exclusivamente, para efeitos editoriais.
Consulte o artigo completo na edição n.º 58 da PÓS-VENDA.