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MERCADO OFICINAL EM PORTUGAL 2022

A concorrência desleal continua a ser o principal problema que a maioria das oficinas de automóveis enfrentam no seu dia-a-dia. Esta é uma das muitas conclusões que se podem tirar do inquérito que realizámos às oficinas.

TEXTO PAULO HOMEM

Como já é tradição na PÓS-VENDA trazemos nesta edição um pequeno inquérito oficinal, sobretudo a quem trabalha nas áreas da mecânica / eletrónica e chapa / pintura. O clima de alguma incerteza que se vive no setor é derivado de muitos outros problemas que as oficinas têm de enfrentar no seu dia-a-dia, embora se continue a verificar uma enorme resiliência das mesmas, mas os sinais de preocupação quanto ao futuro são também evidentes.

Nas próximas páginas poderá ver algumas das questões que propusemos às oficinas tendo em conta as principais dificuldades que enfrentam no seu dia-a-dia, como lhes colocamos a questão sobre o futuro desenvolvimento da atividade.

As 150 oficinas que responderam a este inquérito foram muito consistentes nos dados que proporcionaram com as suas respostas, isto é, desde as primeiras respostas que as percentagens não se foram alterando muito à medida que mais oficinas iam respondendo.

Pouco mais de 91% das respostas foram dadas pelas oficinas que têm como atividade principal a mecânica / eletricidade / eletrónica (aqui estão incluídas algumas oficinas que fazem pneus), e quase 9% das respostas foram de oficinas de colisão. Como sempre acontece com este tipo de trabalhos, cerca de um terço das respostas são de oficinas de Lisboa e Porto.

Qual a principal dificuldade que atualmente
a oficina de automóveis enfrenta?

Apesar da concorrência desleal ser o motivo que mais afeta a maioria das oficinas, um
outro tema tem ganho cada vez mais relevância: a ausência de mão-de-obra. Mais de
um quarto das oficinas refere que a falta de mão-de-obra pode afetar o desenvolvimento
do seu negócio e que isso é mais preocupante que a redução do número de clientes,
que a falta de abastecimento de peças ou que o aumento do custo das peças. Entre
as oficinas de colisão, o maior problema é a concorrência desleal, seguido pela falta
de abastecimento de peças. Já nas oficinas de mecânica a ausência de mão-de-obra é
a maior dificuldade que as mesmas encontram, seguindo-se a concorrência desleal.

Com que frequência tem dificuldade
em encontrar as peças que procura?

O que não era problema na época “alta” da pandemia, hoje em dia tornou-se um
problema frequente e que gera dificuldades adicionais, como é a falta do abastecimento
de peças. Quase 45% dizem que esse é um problema com que se defrontam todos os
meses e, mais significativo é verificar que quase 40% das oficinas têm esse problema
todas as semanas. Mesmo assim, existem 8% de oficinas que não têm essa dificuldade.

Normalmente qual a origem
da mão-de-obra contratada?

Existindo falta de mão-de-obra no mercado (como bem se constata por este inquérito
e que corresponde ao sentimento que se tem no mercado), quando as oficinas querem
contratar profissionais a melhor fonte de recrutamento são as outras oficinas, como
fica demonstrando pelos 56,1%. Não deixa de ser importante considerar a relevância
que as escolas de formação têm, já que fornecem cerca de 25% dos profissionais que o
mercado procura. Porém, refira-se que isso acontece apenas para as oficinas de mecânica,
pois mais de 99% das oficinas de colisão vão contratar profissionais a outras oficinas
ou recorre a ex-profissionais no desemprego.

Tem dificuldades em encontrar mão-de-obra
(mecânicos / técnicos) para a sua oficina?

Todos sabemos que existe muita dificuldade no setor oficinal para encontrar
mão-de-obra qualificada. Mais de 50% diz mesmo que tem muito dificuldade
em “encontrar” mão-de-obra e apenas 11,5% dizem não ter qualquer dificuldade.
É interessante observar que nas oficinas de colisão é ainda maior a percentagem
de oficinas que dizem ter muita dificuldade em encontrar mão-de-obra.
Apenas uma oficina de colisão disse neste questionário não ter dificuldade
em contratar mão-de-obra.

Quais as peças em que existe
mais dificuldades de abastecimento?

A quebra que tem existido no abastecimento de peças é praticamente generalizado
na área da mecânica / eletricidade / eletrónica. Porém, é especialmente relevante
o fato de quase 40% das oficinas lidar com dificuldades de abastecimento de
peças de eletricidade / eletrónicas.

Qual tem sido o aumento médio do custo das peças,
que habitualmente compra às casas de peças?

O aumento do preço das peças é generalizado no setor pós-venda. É uma
realidade com que todas as oficinas se têm vindo a confrontar. Mas qual terá
sido o aumento? Quase 40% das oficinas dizem que o aumento do valor das
peças foi superior a 10%, e mais de 23% das oficinas referem que o aumento
do valor das peças, em média, foi mesmo de 15%. É também relevante verificar
que em alguns casos o valor do aumento das peças foi de 20% para mais de
16% das oficinas. Nas oficinas de colisão, a maioria das oficinas diz que o
aumento do valor das peças foi de 15%.

Têm notado uma redução no número
de clientes em média (por mês)?

Este é talvez dos dados mais preocupantes deste inquérito para as oficinas
e para o setor pós-venda em geral. Quase 65% das oficinas presentes neste
inquérito referem que têm notado uma redução do número de clientes. Nas
opiniões das oficinas, que estão também neste trabalho, poderá ler algumas
das razões que levam os clientes a afastarem-se das oficinas. Nota-se que esta
percentagem é ligeiramente superior nas oficinas de mecânica relativamente
às oficinas de colisão.

O tempo médio de um veículo em oficina (para
manutenção / reparação) tem aumentado?

Se existem problemas no abastecimento de peças (ver as razões noutro gráfico deste
inquérito) é normal que o tempo médio que um veículo está em oficina (para
manutenção ou reparação) tenha vindo a aumentar. Em 61,5% das operações de
manutenção / manutenção os veículos têm passado mais tempo à espera de peças,
ocupando por isso mais espaço e tempo numa oficina.

Sempre que um veículo fica mais tempo
em oficinas, as razões são:

Ficando um veículo mais tempo parado na oficina quando vai fazer uma
operação de manutenção / reparação é interessante perceber as razões para tal
acontecer. E as razões são óbvias, como pode ver no gráfico, sendo a principal
a falta de peças e a segunda o tempo que o veículo demora a fazer diagnóstico.

Valor da mão-de-obra (em euros) por distrito

Continua a ser muito baixo o valor médio de mão-de-obra praticado em Portugal, dando assim continuidade a uma longa tradição do mercado oficinal português. São poucas as oficinas a praticarem valor de mão-de-obra superior a 40 euros. Pelos dados obtidos pelas 150 respostas deste questionário, face ao valores de 2021 e 2015, regista-se mesmo assim uma ligeira subida do valor médio de mão-de-obra, mas que claramente não compensa o aumento do valor registado, por exemplo, nas peças.

* Dados publicados na revista Pós-Venda
de outubro de 2015
** Dados publicados na revista Pós-venda
de julho de 2021

Num contexto de falta de abastecimento de peças,
admite aumentar o stock de peças na sua oficina?

Algo que as oficinas não querem mesmo é aumentar os seus stocks. Mais de 79%
das oficinas referem que num contexto de falta de peças não querem aumentar
o stock como forma de dar resposta rápida ao seu cliente. Este é um dado que
também revela a forma como o negócio das peças se tornou num negócio
logístico, sobretudo para as casas de peças, em que quem tem a peça é que vende.

OPINIÃO DAS OFICINAS

Qual a sua opinião sobre o impacto da falta
de peças e do aumento do custo de energia
(combustível) no setor da manutenção /
reparação automóvel a curto e a médio prazo?

Autopenense Lda,
Ribeira de Pena Vila Real
O cliente começará a evitar fazer saídas desnecessárias de carro, e pensar nos custos
associados, se anda menos com o carro, precisa de menos manutenção e talvez comece
a procurar oficinas ilegais para reparações mais baratas.

Lúcia Desterro Lda
Covilhã, Castelo Branco
Se imputarmos esse custo ao cliente estamos a sentenciar a nossa empresa, devido
à concorrência desleal que infelizmente tem aumentado, os clientes tendem a procurar
o mais barato, não tem sido fácil fidelizar clientes devido à constante flutuação de
preços de bens essenciais.

Benjamim Araujo, Lda
Barcelos, Braga
A falta de peças tem impacto na satisfação do cliente e muitas vezes por aumento de custos
por via da cedência de viatura de cortesia. O aumento de combustível, essencialmente pelo impacto nos rendimentos dos clientes que ficam com menos recursos e adiam os serviços.

Leiridiesel, SA
Leiria
Vai provocar uma diminuição de clientes particulares pois as razões acima apontadas aliadas à inflação provocam perda de poder de compra e diminuição da capacidade para assumir o custo das reparações. As oficinas terão que se reinventar e procurar em todas as frentes nomeadamente maior aposta em peças usadas, peças reparadas e reconstruídas para fazer face a aumento de custos e escassez de peças.

Inter-Matic Portugal
Loures, Lisboa
A curto prazo é o que já está a acontecer, quando se pede uma peça o valor é X, se por acaso se demoram uns dias ou não tem stock e tem de solicitar novamente, o valor já é outro e superior, há muita inconstância nos valores do material, aumentos constantes, e a outra situação é a questão da logística que piorou significativamente. Os tempos de espera para o material chegar
aumentaram, e algo menor mas que também tem sido frequente e uma mudança de hábito, os clientes entregam os veículos na oficina já na reserva. Resumindo, haverá definitivamente impacto na oficina e no cliente, é mais complicado programar e acelerar a saída dos veículos, cada vez mais dependentes de quem fornece as peças e da logística inerente a isso.

Rede Midas
Aumento dos preços ao público no curto prazo, redução da concorrência por soluções budget com origem em periferias mais distantes (peso da logística). A médio prazo degradação do parque, aumento de risco rodoviário, crescimento da quota de soluções e operadores IAM face a soluções OEM/OES.

Pneufurado, Lda
Sintra, Lisboa
No imediato vai existir algum impacto na vinda do cliente à oficina, mas quando houver necessidade ele virá.

Viuva Lucena & Ferreira Lda
Lisboa
Os custos dos materiais de pintura, esses sim forte aumento e como os orçamentos das companhias de seguros a pintura é formulada com tempos de trabalho e esses não aumentam na mesma proporção vai ser complicado tem de haver um aumento na percentagem do valor de material mas sobre este assunto tudo se vai moldando ás alterações do mercado.

Mecânico na Hora,
Matosinhos, Porto
Penso que dada a conjuntura atual, o nosso governo deveria olhar mais para o setor da reparação automóvel como um setor que é massacrado por leis que obrigam a ter licenças para tudo e mais alguma coisa, e que isso juntamente com os aumentos sucessivos da eletricidade e dos combustíveis torna cada dia mais insustentável manter uma oficina em funcionamento, e até mesmo faz com que certos empresários cessem atividade e passem a trabalhar de igual modo, mas de porta fechada…

Gamisabe, Lda
Figueira da Foz, Coimbra
A meu ver a falta de peças deve-se no imediato aos preços do custo dos transportes, as cargas têm que ser cada vez maiores para se poderem comportar os custos dos transportes e a redução de combustíveis, acerca do aumento do custo da energia, deveria ser diferenciada a energia (eletricidade e gás) que utilizamos para consumo das oficinas, deveria ser criada uma taxa diferenciada para o efeito.

Oficina Portuguesa
Seixal, Setúbal
De momento ainda é cedo para falar sobre o impacto, mas prevejo que o sector automóvel irá subir nas vendas em todas as áreas, os clientes estão cada vez mais a preferir as oficinas independentes que lhes apresentam confiança e acompanhamento personalizado. Um automóvel irá ser sempre uma necessidade e meio pessoal para as pessoas. As oficinas devem criar uma politica de honestidade, inovação e acompanhamento com os clientes, há muito trabalho a ser feito na competência humana tanto no profissional como no pessoal.

Hybrid Car Center
Cascais, Lisboa
Cada vez mais faltam ou já não se fornecem peças para carros relativamente recentes (12-14 anos). Quanto ao custo de energia e de mão-de-obra, é ainda assim difícil argumentar ao cliente a necessidade de aumentar os preços do serviço.

CS Motors
Lagoa, Faro
O facto do Governo ter aumentado os impostos influencia em todos os sectores, não só nas oficinas. O nosso maior problema deriva dos famosos 50% de descontos para toda a população, e a falta de controlo nos mecânicos ilegais. Quando o governo meter as mãos ao trabalho e ver o roubo que é desses famosos mecânicos ilegais, ira gerar mais trabalho nas oficinas e mais qualidade. Porque os mecânicos ilegais muitas das vezes não sabem o que estão a fazer, e depois somos todos julgados pelos erros deles.

Ciriaco Auto, Lda
Loures, Lisboa
Cada vez será mais difícil, os preços para o cliente também aumentam e vão vir menos à oficina e depois procuram as oficinas ilegais que com toda a certeza têm preços muito mais baixos, porque não pagam impostos e ainda levam peças que compram nas lojas de peças que lhes fazem o mesmo desconto que a nós profissionais.

Auto HBraga
Porto Santo
Acho que perderemos parte dos nossos clientes, por alguma falta de possibilidade financeira
dos mesmos e infelizmente começam a optar por oficinas ilegais.

Trilho D’Adrenalina, Com. e Rep. Auto Lda
Lisboa
O principal problema será sem duvida o aumento do custo de vida que irá obrigar os clientes a reorientarem as suas prioridades, ficando, como já é habito aliás, a reparação/manutenção dos seus veículos a aguardar melhor oportunidade. Veja-se o que já acontece com as IPO com quebras de faturação muito significativas, apesar de ser um serviço obrigatório.

Geração Garrida Lda
Viseu
Vamos acabar por sofrer todos com estas alterações. Ambos os lados (cliente/trabalhador) estão em desvantagem em relação ao aumento do custo de tudo em geral. O aumento tem vindo a ser gradual e cada vez mais as pessoas optam por não reparar as suas viaturas tão rapidamente como deveriam, e sim vão ponderando se é necessário ou não. Por mais que tentamos trazer uma boa relação entre preço e qualidade, hoje em dia até o que não é de qualidade é caro. Uma simples revisão de óleo e filtro de óleo que demora nem uma hora, hoje em dia se for um filtro de óleo específico esperamos por vezes uma manhã por isso. Lógico que os cliente acabam por ficar saturados e nosso feedback já não será tão alto como esperávamos. Em suma, a falta de peças em stock, tanto nos fornecedores, como nas próprias oficinas deve-se ao facto de as mesmas estarem a cada dia que passa a um preço superior ao anterior e ao facto de que de semana para
semana temos assistido a um aumento exagerado do custo de energia (combustível), logo não há tantas viagens de fornecedores não há peças em stock. Esta é uma guerra em que estamos todos no mesmo barco.

Revelcar Lda
Loulé, Faro
Sobre a falta de peças tenho notado no atraso no cumprimento de prazos e com o aumento do combustível noto que os clientes adiam a reparação das viaturas devido à alteração do orçamento familiar canalizando parte dele para os gastos de combustível.

João António Brinquete José
Borba, Évora
A falta de peças será cada vez maior devido aos governos taxarem as peças em stock e
muitas delas acabarem em monos, quanto aos combustíveis será maior o problema no sector agrícola que é o que mais me toca e reconheço que os produtos que eles produzem não acompanham os preços dos combustíveis.

André Manuel Banza Cândido
Setúbal
Todos nós estamos reféns destes factos, mas no final de contas quem sofre mais é sempre o cliente final, quer pelo tempo que por vezes o veículo se encontra em reparação, quer pelo aumento do valor das peças.

Auto Joteca
Lagos, Faro
Reduz a rentabilidade, aumenta a ocupação das baias e reduz a satisfação do cliente, traduzindo-se em prejuízo direto para ambas as partes, o que pode provocar a médio prazo o encerramento de algumas empresas.

Auto Furtado
Póvoa de Varzim, Porto
A falta de peças tem como implicação o aumento do tempo médio de reparação das
viaturas provocando o aumento do ciclo de tesouraria e consequentemente o aumento
das necessidades de fundo de maneio. A nível operacional dificulta pelo facto das
viaturas estarem paradas nos elevadores. O aumento do custo de energia (combustível)
tem como impacto a diminuição do poder de compra do consumidor final e a diminuição
dos quilómetros feitos levando a menos idas à oficina e à diminuição da fatura média.

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