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Oficina Sustentável: O paradigma da sustentabilidade

7 Fevereiro, 2025

Durante as próximas 12 edições vamos desenvolver o tema da “Oficina sustentável”, dando continuidade ao trabalho que temos vindo a fazer no “Oficinas com futuro” nos últimos 12 meses.

O nosso objetivo não é falar apenas de sustentabilidade na vertente ambiental, mas acima de tudo continuar a abordar os temas que são importantes para que uma oficina seja sustentável hoje, amanhã e no futuro, tendo em conta os desafios que enfrenta atualmente.

O paradigma da sustentabilidade tem-se tornado um dos principais pilares para a evolução de diversos setores económicos, incluindo o setor das oficinas de automóveis, quer sejam elas de mecânica ou de colisão, quer sejam de pneus ou de vidro.

E o desafio não é apenas para as ditas oficinas independentes, pois qualquer oficina os terá que enfrentar, esteja ela melhor organizada ou não. À medida que cresce a consciencialização sobre os impactos ambientais, sociais e económicos das mais diversas atividades, oficinas de todos os tamanhos são desafiadas a adotar práticas mais responsáveis, equilibrando a eficiência operacional com a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável. A indústria automóvel é um dos principais focos da transição para uma economia mais sustentável.

Veículos elétricos e híbridos, por exemplo, representam uma resposta à procura por menor emissão de gases poluentes. No entanto, a sustentabilidade também deve ser incorporada na cadeia de manutenção e reparação, onde as oficinas em geral desempenham um papel fundamental.

Sabemos que as oficinas de pequena e média dimensão frequentemente enfrentam desafios específicos, como recursos limitados para investir em tecnologia, infraestrutura ou formação. No entanto, com um pensamento mais virado para a sustentabilidade, as oficinas podem se posicionar como líderes locais, conquistando a confiança de clientes e parceiros, ao mesmo tempo em que minimizam seu impacto ambiental.

A primeira ação que qualquer responsável oficinal terá que fazer para resolver o seu paradigma da sustentabilidade é tomar consciência do que pode fazer dentro de portas. Será sempre o dono da oficina a ter que dar esse primeiro passo, e se não for ele próprio o motivador para que essa consciência exista dentro da sua oficina, dificilmente se irão tomar medidas para que se possa de facto avançar na sustentabilidade oficinal.

O que fazer então para que todos dentro de uma oficina tomem consciência deste paradigma de sustentabilidade? É o que lhe dizemos nos tópicos a seguir neste artigo e é o que lhe iremos explicar nas próximas edições.

1 – CONSCIENCIALIZAÇÃO NA OFICINA
Quando falamos em sustentabilidade ou em oficina sustentável o que nos ocorre mais rapidamente à cabeça é o tema dos resíduos. As operações de manutenção e reparação automóvel geram uma ampla gama de resíduos, como óleos lubrificantes, pneus usados, baterias e a mais diversas tipologias de peças. Por isso, implementar programas eficazes de reciclagem e encaminhamento correto desses materiais é uma prática fundamental. Mas como a oficina não é especialista em resíduos, será muito importante estabelecer parcerias com empresas especializadas no tratamento de resíduos, nomeadamente os resíduos perigosos, que ajudam a garantir o cumprimento das regulamentações ambientais e a reduzir riscos para a saúde pública. Porém, aproveite bem essa parceria para que todos dentro da oficina estejam conscientes da importância de tratar os resíduos e não apenas tratá-los porque existem questões legais obrigatórias associadas. Consciencializar todos dentro da oficina para tal ajuda depois ao cumprimento obrigatório de encaminhar os resíduos corretamente.

2 – TECNOLOGIAS E EQUIPAMENTOS
Atualmente é muito importante aproveitar a tecnologia que temos ao dispor para que uma oficina se torne mais sustentável. Por exemplo, investir em equipamentos de diagnóstico modernos e ferramentas de alta ou de maior eficiência pode reduzir o desperdício de recursos e minimizar erros. São muitos o exemplos que lhe podemos dar, mas um deles tem a ver com os sistemas de limpeza de peças e componentes. Estes equipamentos são um bom exemplo de sustentabilidade. Os mais modernos são fechados e os resíduos resultantes da limpeza são corretamente encaminhados. Pode também optar por um sistema de equipamentos à consignação, gerido por uma entidade terceira, que ajuda muito as oficinas na sua jornada rumo à sustentabilidade. Um equipamento que nem todas as oficinas usam são os extratores de fumos, mas são também um bom exemplo quando o tema é sustentabilidade oficinal.

3 – PEÇAS
O tema das peças, em sentido lato, é muito sensível ao assunto da sustentabilidade, quando analisado nas suas diversas vertentes. Em primeiro lugar como resíduo, pois se algumas peças, como discos e pastilhas, são fáceis de armazenar, existem outras que exigem mais cuidado e preocupação, como é o caso dos óleos e das baterias. Todos estes resíduos (em sentido lato) estão perfeitamente regulamentados com um código específico, que ajuda muito as oficinas na sua correta separam e futuro encaminhamento. O cartão, proveniente das peças novas, é também um problema para as oficinas, que muito vezes não prestam a devida atenção ao seu destino. Ainda no tema das peças, quando o assunto é sustentabilidade, teremos que ter em atenção ao uso de peças recicladas ou recondicionadas, sempre quando possível, que podem também contribuir para a redução de resíduos e ajudar na economia circular.

4 – EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
A eficiência energética é um tema que deveria preocupar qualquer responsável oficinal e não apenas por questões de sustentabilidade. Porém, deve-se ter em atenção, que a eficiência energética nas oficinas de automóveis é fundamental para reduzir custos operacionais, minimizar impactos ambientais e aumentar a competitividade do negócio. Ser mais eficiente energeticamente ajuda as oficinas a pouparem, por vezes, muito por dinheiro, mas é preciso ter muita consciência para este assunto. Vamos dar alguns exemplos. A adoção de equipamentos eficientes, como compressores de ar com tecnologia inverter e iluminação LED, pode reduzir significativamente a conta de energia. A implementação de controlos inteligentes, que levam as luzes a desligar-se automaticamente, por exemplo, na secção de peças, pode diminuir significativamente os custos e o consumo de energia elétrica. Monitorizar, permanentemente o consumo energético de equipamentos e instalações, como é o caso do ar comprimido e dos compressores, permite identificar desperdícios e otimizar processos.

5 – FORMAÇÃO
A formação é a melhor forma que cada oficina tem para poder dar passos importantes no caminho de se tornar sustentável. Por mais consciência que se tenha para o paradigma da sustentabilidade, é muito importante que investa na formação de toda a equipa que inclui ensinar boas práticas no uso dos recursos, como água e a energia, bem como no correto manuseio de produtos químicos. A formação em boas práticas oficinais, ajuda todos dentro da oficina a criarem um hábito em tarefas que privilegiem a sustentabilidade. A formação em normas ambientais, ajuda também a que se perceba melhor a razão de certos e determinados resíduos terem que ser corretamente manuseados e reencaminhados. Não basta impor regras, é precisa formação para as explicar e, dessa forma, tornar mais fácil a sua aplicação. Mas a formação leva-nos também às áreas técnicas, pois cumprir melhor e de forma mais correta um determinado procedimento técnico, leva a oficina a ser mais eficiente e rápida, sendo por isso mais sustentável ambiental, mas também economicamente.

6 – CLIENTES
A sustentabilidade pode ser um diferencial competitivo para qualquer oficina que olhe para este assunto de forma séria. Informar os clientes sobre práticas sustentáveis adotadas pela oficina e educá-los sobre a importância da manutenção responsável ajuda a fortalecer o relacionamento com o consumidor. É importante que as oficinas tenham consciência de que os consumidores estão cada vez dando mais valor às empresas (em geral) que estejam comprometidas com a sustentabilidade ou com práticas sustentáveis. A transição para práticas mais sustentáveis no setor de oficinas independentes não é apenas uma tendência, mas uma necessidade. Com o avanço da eletrificação e as regulamentações ambientais mais rigorosas, oficinas que se adaptarem a esse novo paradigma estarão melhor posicionadas para prosperar no futuro. Portanto, as oficinas independentes que adotarem o paradigma da sustentabilidade não apenas contribuirão para um futuro mais verde, mas também garantirão sua relevância e sucesso no mercado.

7 – PARCEIROS
Práticas sustentáveis na oficina podem abrir portas para parcerias com seguradoras e frotas que priorizam fornecedores alinhados a valores ambientais e de sustentabilidade no seu geral. Uma boa parte do parque circulante é gerido por empresas que querem trabalhar com oficinas que cumpram uma série de critérios que, muitas vezes, têm a ver com práticas sustentáveis. Programas de certificação ambiental e incentivos fiscais governamentais podem acelerar o percurso da oficina rumo à sustentabilidade, tornando as oficinas de automóveis mais competitivas neste aspeto em particular.

8 – DESAFIOS
A oficina para a ser sustentável vai enfrentar uma série de desafios a que terá de atender. Em primeiro lugar a mudança cultural, isto é, adotar uma mentalidade sustentável pode ser difícil em organizações acostumadas a práticas tradicionais. Em segundo lugar a falta de informações ou as informações confusas, que leva a que as oficinas não saibam por onde devem começar a sua jornada para se tornaram mais sustentáveis. Depois, também é preciso perceber que sustentabilidade não se refere apenas à componente ambiental. Uma oficina sustentável terá de o ser em termos económicos, sociais, de gestão, de formação, etc. Não se esqueça que mudar regras, ideias, comportamentos, práticas e atitudes, exige também investimento monetário e em tempo.

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