O processo de descarbonização dos transportes em geral é inultrapassável, mas também não será um processo rápido. A Conferência da Apetro 2021 “Os Combustíveis do futuro”, onde estiveram 20 oradores de renome e um público de cerca 350 participantes (por via digital) revelou muito informação sobre esta área.
A conferência foi moderada pela nova diretora do Diário de Notícias, Rosália Amorim, uma presença já habitual nas conferências da Apetro. Na sua abertura, a jornalista destacou o papel dos combustíveis do futuro no mix energético para a transição energética e a sua importância na competitividade da economia.
As boas-vindas e agradecimentos foram dados pela presidente da Apetro, Sofia Tenreiro, ressalvando que “a Apetro e as suas associadas querem reafirmar o seu compromisso de descarbonização da economia, tendo vindo a trabalhar de forma muito afincada para encontrar e implementar soluções que permitam acelerar essa descarbonização e colocar o planeta primeiro lugar”. Sofia Tenreiro acrescentou ainda que “esperamos que as entidades governamentais consigam encontrar e definir um quadro regulatório estável e tecnologicamente neutro, de forma a estas soluções possam ser competitivas, eficientes e exequíveis”.
A primeira intervenção “Clean Fuels For All – Low Carbon Liquid Fuels” foi de John Cooper, Diretor Geral da FuelsEurope e Concawe, que menciona que “as políticas públicas para a década de 2020/2030 não são suficientes para chegar ao objetivo de neutralidade climática, existindo um fosso significativo entre as leis que estão em vigor hoje e o que é necessário para atingir o mesmo objetivo”. Com a utilização dos combustíveis líquidos de baixo carbono “pretende-se uma redução de cerca de 100 milhões de toneladas de CO2 adicional até 2050, uma redução que por si só seria o equivalente a colocar 50 milhões de veículos elétricos”. John Cooper reconhece que “como uma indústria é preciso reconhecer que a eletrificação é muito boa solução para certos tipos de transporte, funcionando muito bem com energia renovável e com baixas emissões globais de carbono”. No entanto, “é preciso ter em atenção que para ter todos os veículos eletrificados, a Europa terá de ter um fornecimento muito forte de materiais críticos para a produção de pilhas e baterias”.
A Liquid Gas Europe também esteve presente com a sua Diretora Geral, Filipa Rio, através da intervenção “BioGPL – uma via renovável para 2050”, que começa por realçar que “o Green Deal destina-se a proporcionar uma transição energética justa e equitativa, que não deve deixar ninguém para trás, e isso significa que não há uma solução única para todos”. Ressalva que o GPL de hoje e o bioGPL de amanhã desempenharão um papel fundamental na descriminalização de custos como parte de um misto de soluções. O novo estudo da LGE mostra que todo o mercado europeu de GPL pode ser 100% renovável até 2050, assumindo um quadro político favorável.
As associadas da Apetro assumiram o compromisso para a descarbonização da economia e têm vindo a desenvolver projetos e tecnologias fundamentais para o novo mix energético.
“Re-imaginar a energia e o Programa Drive Carbon Neutral”, por Anabela Silva, BP
“Mobilidade do Futuro”, por Miguel Angel Gonzalez, CEPSA
“Biocombustíveis: Produção e expedição de E5 na CLC”, por José Manteigas, CLC
“Energia em movimento – one size doesn´t fit all”, por João Pedro Machado, GALP
“Green H2 4 Industry and Mobility”, por Micaela Silva, OZ
“Hidrogénio renovável e combustíveis sintéticos”, por Tomás Malango, REPSOL
“Levar a transição energética do marketing à prática”, por Emanuel Proença, PRIO
O debate, moderado pela jornalista Rosália Amorim, começou por dar início com uma breve discussão de ideias, terminando com as mensagens finais de cada um dos intervenientes.
Ana Calhoa, ABA
Hélder Pedro, ACAP
Campos Rodrigues, AP2H2
Jaime Braga, APPB
João Bernardo, DGEG
Filipe Meirinho, ENSE
Mariana Pereira, ERSE
António Costa e Silva, IST
A sessão de encerramento foi realizada com a intervenção do Senhor Ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Pedro Matos Fernandes, destacando que “os combustíveis fósseis tradicionais deverão ser progressivamente substituídos, sobretudo por eletricidade renovável. Contudo, a eletrificação não é, atualmente, uma opção viável em todo o setor dos transportes devido ao custo e ao volume e densidade de energia pelo que, no médio prazo, será necessário garantir o desenvolvimento, promoção e oferta de combustíveis líquidos alternativos, produzidos a partir de recursos renováveis que cumpram os mais altos critérios de sustentabilidade”.
O Secretário-Geral da Apetro, António Comprido, fez o resumo do evento, que considerou muito rico, com intervenções de muito valor e muito diversificadas, afirmando que: “há um ponto que não merece discussão, acho que todos nós já interiorizámos que o objetivo da descarbonização é transversal a toda a sociedade e todos estamos empenhados em prossegui-lo”.
António Comprido chamou a atenção para a necessidade de evolução em várias frentes, e na necessidade de distinguir a energia primária, onde claramente haverá um decréscimo do recurso às fontes fósseis e uma contribuição cada vez maior às energias renováveis. Sublinhou também o imperativo de avaliar as questões sociais decorrentes da transformação em curso pois enfrentamos “ um problema complexo, um problema holístico e que só com a contribuição de todos, da Academia, dos organismos de investigação e desenvolvimento, da indústria, que traz para o dia-a-dia, para a prática, a aplicação desse conhecimento. Do Estado e dos organismos reguladores, espera-se um quadro regulatório suficientemente estável, não discriminatório e que incentive a evolução não ostracizando nem divinizando quaisquer soluções.