O desafio da mobilidade sustentável esteve em destaque no 35º Convenção da ANECRA, onde também se falou, para além do pós-venda, da digitalização, das vendas de usados e muitos outros temas quentes do setor automóvel.
A Convenção da ANECRA começou por abordar o tema da pós-venda, onde ficou evidente a necessidades das oficinas começaram a apostar cada vez mais no valor da mão-de-obra e não dependerem tanto das peças (ver notícia).
O segundo painel falou da mobilidade mais sustentável, sendo que a primeira pergunta é se o elétrico é o futuro. José Pedro Pinto, CEO da Arval, diz que sim e que as metas para 2023 terão que ser cumpridas, uma opinião que em parte é partilhada por João Reis, da Plataforma para Promoção dos Combustíveis de Baixo Carbono, mas que diz que é impossível que mudar o parque circulante europeu nos próximos anos e por isso, a necessidade de se apostar noutros tipos de combustíveis mais amigos do ambiente. Opinião semelhante tem Tiago Ribeiro (Solera), que fala que os elétricos são apenas uma parte da solução e que o hidrogénio poderá vir a ser muito importante no mercado. Carlos Ferraz, da Prio, diz que a mobilidade elétrica não será o fim dos problemas quanto à diminuição das emissões, pois também ela traz alguns problemas a outros níveis. Já Gonçalo Castelo Branco, da EDP, diz que é evidente que os elétricos vão ter predominância e que os números e a rápida transição que está a acontecer falam por si.
Sobre o tema da Digitalização e da Inteligência Artificial (IA), João Ricardo Moreia, da NOS, referiu que estamos a atravessar uma fase em que as pessoas já utilizaram a IA, mas as empresas ainda estão num processo muito inicial neste aspeto. O responsável da NOS começou por abordar as vantagens da IA na gestão de stock e logística, dizendo que já existem uma série de plataformas que otimizam stocks, a distribuição e a logística, mas também existem soluções para marketing & vendas, que levam ao marketing personalizado, por exemplo, na jornada do cliente. Também foram mostradas diversas soluções de IA para pós-venda e suporte ao cliente, por exemplo, ao nível do agendamento de serviço, diagnóstico remoto, análise de dados de veículos e otimização da performance, assistência técnica, entre outras. O IA chega também já ao recrutamento (recursos humanos), formação, etc, dizendo João Ricardo Moreia que “atualmente hoje já existem soluções de IA para as organizações, que envolvem todas as áreas de uma empresa”.
Outro painel desta conferência teve a ver com os veículos usados. Na generalidade os diferentes elementos convidados para este painel referem o bom momento que o setor atravessa, levando Nuno Castel-Branco, CEO do Standvirtual a dizer que o mercado vai ter um ano tão bom ou melhor do que foi em 2019, o que revela que o setor está a recuperar. Américo Barroso, da Só Barroso, diz que as dificuldades no acesso a produto que existiam há dois anos, agora já existe um excesso de oferta, pelo que a gestão de stocks é prioritária neste momento. No negócio da venda de usados elétricos, é essencial que os veículos tenham um certificado, diz o responsável da Carplus, para que a venda se efetue, sendo que Sandra Sousa, da Xanauto, diz que a venda de usados elétricos é um negócio em que se deve continuar a investir.
No âmbito da parceria da ANECRA com a Motortec, o responsável pela delegação do IFEMA em Portugal, Nuno Almeida, apresentou esta feira espanhola do pós-venda, que se realiza no próximo mês de abril em Madrid de 23 a 26 de abril.
O derradeiro painel falou dos grandes desafios da sustentabilidade da indústria automóvel. Miguel Fonseca, da Salvador Caetano, falou na enorme disrupção em curso no setor e que a regulamentação será responsável por isso em grande medida. Assim, diz o mesmo responsável que o crescimento do negócio dos elétricos é irreversível. Miguel Fonseca referiu que do sistema de propriedade e uso do automóvel, que temos atualmente, passará para o sistema MaaS (Mobility as a Service) entre 2030 e 2035 e para o SAMS (Shared Autonomous Mobility System) para 2040. Aliás, Miguel Fonseca considera que a condução autónoma será uma realidade, já atual nos modernos carros Tesla, mas que no futuro os desafios serão enormes para os prestadores de serviços, pois as necessidades dos clientes (que serão sobretudos frotas) serão vistos na perspetiva da rentabilidade da frota.
Marilina Machado, General Manager da Volkswagen em Portugal, refere que os desafios estão neste momento na eletrificação do parque, opinião que José Pedro Neves, Diretor Geral da Renault, partilha, enfatizando que as metas para 2025 são quase impossíveis de cumprir em termos ambientais. “Por cada quatro carros térmicos que vamos vender em 2025 um terá que ser elétrico. Se não o fizermos não conseguiremos cumprir as metas”, diz José Pedro Neves.
Manuel Coutinho, CEO do Grupo Motorpor afirma que será extremamente difícil cumprir essas metas ambientas, nomeadamente para as empresas (concessionários) que vendam as marcas que têm veículos a combustão e veículos elétricos.
António Oliveira Martins, Diretor da Ayens, refere que a eletrificação do parque nas frotas já está a suceder em bom ritmo e “é uma bola de neve que vai crescendo e não irá parar”. Segundo este responsável, o problema estará muito do lado dos particulares, onde não existem incentivos a que se faça a renovação do parque.
Uma das questões que poderá fazer crescer as vendas nos elétricos será o preço dos veículos, tendo Marilina Machado referido que as marcas estão a trabalhar nesse sentido lançando veículos mais económicos. José Pedro Neves, da Renault considera que terão que ser os veículos térmicos a “pagarem” os veículos elétricos.
Outro problema não estará só no preço, mas também, de acordo com Manuel Coutinho, no facto de os veículos elétricos não servirem para todo o tipo de clientes.
A Convenção da ANECRA terminou com a atribuição dos Prémios “Excelência”, uma iniciativa que a associação retomou neste evento. Assim, foram atribuídos os prémios, nas seguintes categorias:
– Setor Pós-Venda – Auto Lages
– Setor Comércio de viaturas usadas – Só Barroso
– Setor do retalho (Viaturas novas) – Salvador Caetano
– Personalidade do ano no setor automóvel português – Marilina Machado
– Carreira – António Ferreira Nunes