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“Se a oficina quer continuar a prestar um serviço de qualidade, é forçoso estar em permanente atualização”, Nuno Caetano, Hélder Máquinas

2 Junho, 2025

Nuno Caetano, Director Departamento de Auto Diagnóstico na Hélder Máquinas, aborda os principais desafios, a importância da qualificação contínua e o impacto direto da formação na rentabilidade e retenção de talento no pós-venda automóvel em Portugal.

Quais considera serem os principais desafios da formação no pós-venda automóvel em Portugal atualmente?

Neste momento o maior desafio é criar cursos que realmente sejam interessantes para os reparadores. Há muitas oficinas que acabam por estar “escaldadas” com muitas formações em que apesar de terem nomes pomposos, no final a aquisição de novas competências é pouca e a pressão para se vender equipamento é muita. Além disso, com a rápida evolução a que se tem assistido no mundo automóvel, é fundamental que o formador esteja sempre muito informado, caso contrário, arrisca-se a estar a lecionar uma formação obsoleta. Além disso, existe em muitos casos, pouca formação de base, por exemplo na utilização dos instrumentos de medição e interpretação de esquemas eléctricos o que causa que as formações mais avançadas, sejam por vezes pouco produtivas, pois os formandos não têm as bases necessárias para usufruir destas.

O que é necessário fazer para que as oficinas e os técnicos invistam mais em formação?

Apostar cada vez mais na divulgação do conhecimento e em como ter conhecimento técnico é uma vantagem, quer pessoal como laboral. Pois com o conhecimento correcto, é possível chegar ao resultado de forma mais rápida e certeira. Cada vez mais os diversos componentes que estão presentes num automóvel têm custos muito elevados e os clientes já não aceitam a troca de peças para “ver se resolve”. Essa noção e responsabilidade tem de estar cada vez mais presente na mente dos nossos reparadores e, o que tenho verificado ao longo destes anos é que felizmente cada vez há mais interesse em aprender para que não se tornem num futuro muito breve em “dinossauros” da reparação. Com esse objectivo, temos ao longo do tempo divulgado várias informações técnicas de relevo seja nas nossas redes sociais, bem como no nosso canal de Youtube.

De que forma a formação regular influencia o desempenho dos técnicos e o serviço prestado pela oficina?

Tal como já mencionado anteriormente, estamos a assistir a uma muito rápida evolução dos sistemas presentes nas viaturas, quer seja a nível dos sistemas de propulsão, bem como a nível de assistentes à condução. Se a oficina quer continuar a prestar um serviço de qualidade, é forçoso estar em permanente atualização. Essa opção implica tempo e custos? Verdade, mas aí existe uma opção que o reparador tem de tomar: Quer ser conhecido pelo reparador mais barato, ou pelo mais competente? Porque é impossível ser ambos. Isto aplica-se também aos fornecedores de equipamentos técnicos para o ramos automóvel. Há sempre quem tenha um preço mais baixo, mas existem tipicamente muitas diferenças no serviço de venda, instalação, formação e apoio pós venda.

Que indicadores, exemplos ou testemunhos pode fornecer, que mostrem o impacto positivo da formação na rentabilidade das oficinas?

Ao longo dos vários anos em que temos lecionados diversos cursos de formação aos nossos clientes (desde 2007), temos assistido que muitos que começaram a frequentar as nossas formações desde o início continuam a ser assíduos participantes, também que os clientes que tomam a opção , são os que temos verificado um maior crescimento, que a nível de instalações, capacidade e notoriedade na zona onde estão estabelecidos. Mesmo na nossa linha de call center, tipicamente os clientes que são frequentadores assíduos de formações, são só que ligam menos vezes em busca de apoio ou, quando ligam, é com questões complexas. Isso são muitos bons sinais de como a formação tem contribuído para o seu crescimento.

Que competências técnicas e comportamentais, resultantes da formação, consideram mais importantes para as oficinas num futuro próximo?

Um conhecimento enciclopédico quanto às várias tecnologias que estão presentes e a surgirem no mercado. Já está a acontecer, mas no futuro ainda mais, teremos nas oficinas em simultâneo veículos, de combustão convencionais, híbridos, 100% eléctricos, células de combustível, etc. Uma aposta cada vez maior na qualidade, na apresentação e limpeza da oficina, e com os cuidados organizacionais e técnicos, no que diz respeito à segurança, com especial ênfase na segurança.

Como se pode combater a escassez de técnicos qualificados nas oficinas? Que medidas poderiam e deveriam ser tomadas para combater esse escassez?

Uma maior aposta do próprio sistema de ensino, nas disciplinas de componente técnico-prática e na importância das mesma. Presentemente, existe quase um estigma, que só vão para as escolas profissionais os alunos que são problemáticos ou que não têm boas notas no ensino regular. No ensino convencional, existe uma grande aposta nas novas tecnologias (que é muito importante), mas muito pouco em transmitir as bases fundamentais desde cedo (por exemplo a partir do 7º ano) em actividades como electrotecnia ou mecânica, nem que fosse como disciplinas opcionais.

A formação pode ser uma ferramenta importante na retenção de talento dentro das oficinas? De que forma?

Qualquer pessoa quer sentir-se útil e evoluir profissionalmente. Acredito que o número de pessoas que acham que não é necessário aprender mais nada o resto da vida é cada vez menor, apesar de já ter assistido a situações em que os empregadores colocam à disposição essa oportunidade e são os funcionários, por motivos muitas vezes relacionados com o conforto pessoal a recusarem. Mas, tenho assistido ao longo da minha vida profissional a funcionários que mudaram de empresa exactamente porque onde estavam não existia oferta formativa e queriam crescer profissionalmente. Logo se um empregador quer reter quadros de qualidade, ambiciosos, com desejo e motivação de se superarem em cada momento, tem mesmo de apostar na formação contínua.

Qual a formação que tem mais procura atualmente, quer na área técnica, quer não técnica (relacionada com o setor do pós-venda automóvel)?

Neste momento a formação que tem suscitado maior procura é a “Gestão electrónica em veículos híbridos e eléctricos Níveis 0, I e II”.

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